sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O Vaticano II é o elemento estruturante da teologia de João Batista Libânio

IHU On-Line
João Batista Libânio é o o mais fecundo autor teológico brasileiro na produção de tratados que pudessem ajudar os estudantes a aprofundar os temas teológicos abordados em sala de aula, testemunha o teólogo e historiador da Igreja brasileira, José Oscar Beozzo.
Ao refletir sobre o legado e pensamento de João Batista Libânio, teólogo, jesuíta, autor de uma vasta obra teológica, que celebra, neste ano, 80 anos de vida, José Oscar Beozzo, especialista em história da Igreja, oferece, nesta entrevista, concedida por e-mail à IHU On-Line, um panorama da história da Igreja nos últimos 50 anos.
Para ele, a experiência do Concílio Vaticano II, seu debate teológico e eclesial, sua postura de diálogo e atenção ao mundo contemporâneo, sua opção ecumênica, permeiam toda a teologia de Libânio. E Beozzo diz mais: "o Vaticano II é elemento estruturante de sua teologia. Esta se enriqueceu depois com toda a perspectiva latino-americana que brotou da experiência das Igrejas no continente, de sua vida religiosa inserida e das grandes Conferências Gerais do episcopado latino-americano de Medellín a Aparecida". Segundo Beozzo, graças ao seu "incansável e disciplinado acompanhamento crítico da produção teológica brasileira, latino-americana e internacional, Libânio tornou-se mestre em preparar balanços abrangentes e penetrantes dos rumos da teologia contemporânea".
A entrevista foi publicada na revista IHU On-Line, J. B. Libânio. A trajetória de um teólogo brasileiro. Testemunhos, no. 394.
José Oscar Beozzo (foto) é padre, teólogo e coordenador geral do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular - Cesep. Tem mestrado em Sociologia da Religião, pela Université Catholique de Louvain, Bélgica, e doutorado em História Social, pela Universidade de São Paulo - USP. Faz parte do Centro de Estudos de História da Igreja na América Latina - CEHILA/Brasil, filiado à Comissão de Estudos de História da Igreja na América Latina e no Caribe - CEHILA. Também é sócio-fundador da Agência de Informação Frei Tito para a América Latina - Adital. É autor de inúmeros livros, entre os quais A Igreja do Brasil (Petrópolis: Vozes, 1993) e A Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II: 1959-1965 (São Paulo: Paulinas, 2005).
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Seu primeiro encontro com Libânio foi em Roma, nos anos do Concílio Vaticano II (1962-1965), quando ele era diretor de estudos do Pontifício Colégio Pio Brasileiro. O que marcou esse período, destacando a importância de Libânio como orientador dos estudantes brasileiros? Como o processo conciliar repercutia entre vocês?
José Oscar Beozzo - O Colégio Pio Brasileiro teve o privilégio de se tornar a residência do Cardeal Agostinho Bea, responsável pelo recém-criado Secretariado para a União dos Cristãos, o mais significativo organismo conciliar da fase preparatória do Concílio. O Secretariado representou a grande novidade para estabelecer o diálogo com as outras Igrejas cristãs e implementar o propósito ecumênico de João XXIII para o Concílio. Poucas semanas depois de criado João XXIII pediu ao cardeal Bea que se ocupasse também do diálogo com o mundo judaico. O Cardeal reunia regularmente a direção e os estudantes do Pio Brasileiro para colocar-nos a par da preparação do Concílio e para informar as iniciativas e os passos concretos do Secretariado. Por vezes, convocava-nos para dar as boas-vindas a visitas ilustres, como o primaz da Igreja Anglicana, o arcebispo de Canterbury, o Dr. Fisher, que foi recebido por João XXIII e logo depois veio ao Pio Brasileiro para encontrar-se com o Cardeal Bea. Nós o acolhemos festivamente na entrada do Colégio contrastando com a recepção fria e quase anônima que lhe fora dispensada pela Cúria Romana. Padre Libânio chegou ao Pio Brasileiro, como jovem padre. Terminara sua teologia em Frankfurt na Alemanha e vinha substituir o Pe. Marcelo Azevedo, como repetidor dos estudantes de teologia. Para os estudantes de filosofia, o repetidor na época era o Pe. Luciano Mendes de Almeida, depois bispo auxiliar de São Paulo, por duas vezes secretário-geral da CNBB e, finalmente, seu presidente por outras duas vezes, já como arcebispo de Mariana-MG.
Libânio no papel de repetidor
A função do repetidor era de orientar pessoalmente cada estudante nos seus estudos. Ajudavam-nos e muito ao darem um panorama geral de cada disciplina que iríamos estudar no semestre seguinte. Apontavam as principais questões envolvidas, o debate existente e a posição das diferentes escolas de teologia. Dentro da vasta bibliografia de cada professor, indicavam os livros e artigos mais relevantes. Poupavam-nos, assim, perda de tempo e leituras que pouco acrescentavam.
Tarefa difícil para Libânio foi substituir naquela função o Pe. Marcelo Azevedo, por conta de sua competência e o brilho. Libânio desempenhou muito bem e com igual brilhantismo o papel de repetidor. Sob certo ponto de vista, foi até melhor repetidor, pois não despertava aquele respeito reverencial que nos mantinha um pouco distantes do Pe. Marcelo.
Aberto o Concílio a 11 de outubro de 1962, o Pio Brasileiro envolveu-se intensamente no seu desenrolar, não apenas pela presença do Cardeal Bea na casa, pelo contato com muitos de nossos professores da Gregoriana que eram peritos conciliares e consultores das comissões, mas por três outras felizes circunstâncias.
Bem depressa, estabeleceu-se um intercâmbio diuturno entre os bispos brasileiros hospedados na casa da Ação Católica Feminina italiana, a Domus Mariae, situada no número 481 da Via Aurelia e os alunos do Pio Brasileiro, moradores da mesma rua, um pouco mais adiante no número 527, que ficava na mesma calçada.
O desenrolar do Concílio
Os contatos informais dos bispos com seus seminaristas foram logo enriquecidos por duas outras iniciativas: aos domingos os bispos de um determinado regional da CNBB vinham de manhã falar aos estudantes sobre a Igreja do Brasil, cobrindo assim realidades tão diferentes como a dos pampas gaúchos, a da floresta amazônica ou dos sertões nordestinos. Tivemos assim a ocasião de conhecer não apenas quase todos os bispos, mas a situação específica da Igreja em cada região do país. Uma segunda iniciativa que se consolidou foi a da vinda de um bispo para almoçar conosco a cada dia e partilhar, logo depois, no horário de recreio, o que havia acontecido pela manhã na aula conciliar: os temas discutidos, as intervenções mais importantes, sua impressão pessoal. Além dos boletins de imprensa diários em língua italiana e portuguesa, lidos no refeitório, podíamos conferir, assim, com participantes e testemunhas oculares suas impressões, comentários, aclarações acerca do desenrolar do Concílio.
As conferências da Domus Mariae
Mais instrutivas ainda do ponto de vista teológico, eram as conferências da Domus Mariae que os teólogos mais em vista do Concílio vinham proferir de noite para os bispos brasileiros e que, nós, estudantes, íamos furtivamente assistir dos balcões do segundo andar do grande salão de eventos da casa. Ali, pudemos ouvir todos os grandes teólogos do concílio, de Karl Rahner SJ a Henri de Lubac SJ, de Yves Congar OP a Hans Küng, de Edward Schillebeeckx OP, a Bernard Haring CSSR, Joseph Ratzinger, Lebret, OP; bispos como Sergio Mendes Arceo, de Cuernava no México, Alfred Ancel, de Lyon na França, Mons. Bogarín, do Paraguai, ou os Cardeais Leo Suenens, Agostinho Bea, Giacomo Lercaro, Joseph Cardijn ou ainda teólogos protestantes como o professor Oscar Cullman e os monges de Taizé, Max Thurian e Roger Schutz ou ainda membros ou especialistas das Igrejas Orientais: Andrej Scrima, teólogo do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Athenagoras, Mons. Neophytos Edelby da Igreja Melquita e Frei Christophe René Dumont OP do Centro Istina de Paris. Não faltaram leigos e leigas, auditores do Concílio, entre os quais, Vitorino Veronezzi, o casal mexicano do Movimento Familiar Cristão, José e Luz Alvarez Icaza, o escritor, membro da Academia Francesa de Letras, Jean Guitton e a presidente do Movimento Feminino Internacional dos Meios Independentes, Marie Louise Monnet.
IHU On-Line - O que significou o Concílio Vaticano II na trajetória do pensamento e da teologia de Libânio?
José Oscar Beozzo - A experiência do Vaticano II, seu debate teológico e eclesial, sua postura de diálogo e atenção ao mundo contemporâneo, sua opção ecumênica, permeiam toda a teologia do Libânio. Diria mais, o Vaticano II é elemento estruturante de sua teologia. Esta se enriqueceu depois com toda a perspectiva latino-americana que brotou da experiência das Igrejas no continente, de sua vida religiosa inserida e das grandes Conferências Gerais do Episcopado latino-americano de Medellín a Aparecida.
IHU On-Line - Depois de um período na Europa, Libânio retornou ao Brasil em 1969. Como a realidade brasileira e latino-americana impactou na construção do pensamento de Libânio?
José Oscar Beozzo - Retornando ao Brasil, Libânio (foto) mergulhou na realidade brasileira e também latino-americana. Do ponto de vista pastoral, continua marcante sua inserção numa comunidade de periferia de Belo Horizonte e sua parceria com o falecido Pe. Alberto Antoniazzi na assessoria teológica e pastoral do projeto "Construir a Esperança" que alicerçou o empenho missionário evangelizador para a realidade urbana da região metropolitana Belo Horizonte.
Sua participação na equipe de reflexão teológica da Conferência dos Religiosos do Brasil - CRB tornou-o parceiro na busca do necessário suporte teológico para as opções pastorais e os desafios da vida religiosa no pós-Vaticano II e na trilha das opções de Medellín e Puebla. Graças ao seu incansável e disciplinado acompanhamento crítico da produção teológica brasileira, latino-americana e internacional, Libânio tornou-se mestre em preparar balanços abrangentes e penetrantes dos rumos da teologia contemporânea. Sobre a CRB deixou-nos um longo estudo, A reflexão teológica sobre a Vida Consagrada - Período de 1980-2000, publicado por Edênio Valle no Memória Histórica. As lições de uma caminhada de 50 anos: CRB - 1954 a 2004 (Rio de Janeiro: CRB, 2004).
Libânio fez parte da equipe de reflexão teológica da Conferência Latino-Americana dos Religiosos - CLAR envolvendo-se em todos os grandes debates pastorais e teológicos da Igreja na América Latina e no Caribe. Quando do Congresso da CLAR, em 2009, foi dado por Libânio um balanço da contribuição teológica da vida religiosa no continente: Vida Consagrada e teologia latino-americana. Saiu publicado no livro de memórias do encontro: Aportes de la Vida Religiosa a la Teología Latinoamericana y del Caribe. Hacia el futuro.
Libânio participou ativamente da grande empreitada de se repensar aqui na América Latina, toda a teologia à luz da libertação e escreveu em parceria com Maria Clara Bingemer, uma de suas discípulas diletas, um dos livros da Coleção Teologia e Libertação, sobre o tema da escatologia cristã.
IHU On-Line - De modo geral, qual a contribuição de Libânio para a caminhada das Comunidades Eclesiais de Base?
José Oscar Beozzo - Junto com um grupo de teólogos, teólogas, biblistas, Libânio acompanhou desde o início (1975) os Encontros Intereclesiais das CEBs. Bem depressa assumiu a tarefa de coordenar a contribuição dos teólogos/as antes, durante e depois dos intereclesiais. Cumpria a tarefa com maestria, distribuindo-os pelos diferentes grupos e plenários para prestarem assessoria caso fossem solicitados, mas também para acompanhar como cronistas cada aspecto do encontro. Incumbia-se ainda da tarefa de provocar a cada um, cada uma, para que, terminado o encontro e dentro de prazos curtos, escrevesse um artigo mais pensado sobre determinados aspectos do intereclesial: suas celebrações, suas reflexões temáticas, seus conflitos, a prática pastoral e a reflexão teológica que emergiam dos relatos. Isso permitiu que de cada intereclesial, as CEBs e a Igreja do Brasil pudessem contar com um volume temático da REB ou da Vida Pastoral ou mesmo de livros que recolheram essas contribuições. Inestimável essa contribuição para que não se perdesse nem a riqueza humana e eclesial destes eventos, mas que seguissem ajudando a iluminar e alimentar a caminhada das CEBs.
IHU On-Line - A partir do pensamento e da prática de Libânio, o que deve continuar repercutindo na caminhada da Igreja?
José Oscar Beozzo - Em tempos de crise no campo da formação em geral, Libânio é um marco referencial pelo menos sob três aspectos:
- O cuidado e atenção que sempre dedicou ao processo de formação de leigos e leigos na Pastoral da Juventude e Universitária, nas pastorais e nas CEBs.
- Seu empenho de toda uma vida na preparação teológica dos estudantes da Companhia de Jesus e de quantos buscavam uma educação teológica séria e aberta, leigos, leigas, ou candidatos à vida presbiteral e religiosa. Esse tirocínio iniciou-se no Pio Brasileiro e prosseguiu nos longos anos de docência no ISI (Instituto Santo Inácio, hoje Faculdade de Teologia do Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus). A docência como vocação levou Libânio a ser o mais fecundo autor teológico brasileiro na produção de tratados que pudessem ajudar os estudantes a aprofundar os temas teológicos abordados em sala de aula.
- A preocupação de que a teologia não fosse um exercício abstrato, distante da realidade ou simplesmente acadêmico, voltado para o diálogo com os seus pares, mas que seu diálogo fosse com a vida das pessoas e a pastoral da Igreja.
IHU On-Line - Gostaria de acrescentar algum aspecto que não foi perguntado?
José Oscar Beozzo - Gostaria de enfatizar o legado de Libânio como educador, na linha da maiêutica socrática, introduzindo as pessoas na arte da reflexão e do pensamento regrado, fundamentado e finalmente prático. Destaco duas de suas publicações nessa linha. No A arte de formar-se, Libânio deixa-se guiar pela pergunta: "qual é a arte de formar-se uma inteligência crítica, bem estruturada, em vez de um armazém entulhado de conhecimentos? Como aprender a pensar e a conhecer?". Libânio aponta o que chama de os cinco pilares da formação: "aprender a conhecer e a pensar, aprender a fazer, aprender a conviver com os outros, aprender a ser e aprender a discernir a vontade de Deus" .
Nesse opúsculo, Libânio já anuncia uma obra mais alentada, na mesma direção, que saiu anos depois pela Loyola: Introdução à vida intelectual. Retoma de certo modo o ambicioso projeto do tomista Sertillanges, com o seu clássico A vida intelectual: espírito, condições, métodos . Acrescenta, entretanto, ao saber teórico do mestre dominicano, sugestões bem práticas, indicando "o caminho das pedras", para o iniciante nesta difícil e fascinante aventura do conhecimento. Parte da intuição de fundo que não se estuda só com a inteligência: "É todo o ser humano que se compromete com as lides intelectuais" . Divide seu trabalho em duas partes, dedicando a primeira às atitudes fundamentais da vocação intelectual e a segunda a diversos aspectos da vida de estudo: da reunião de grupo, ao estudo de um tema; da produção de uma monografia aos muitos tipos de leitura e ao ensino acadêmico. Para cada um desses pontos, abundam as sugestões práticas de quem já passou por longo tirocínio e aprendizado, acumulando experiência e sabedoria que são partilhadas generosamente.
Fonte: www.ihu.unisinos.br

Isis Valverde sofre acidente de carro no Rio e é internada

Ainda não há informações sobre estado de saúde da atriz, que teria ficado ferida em colisão durante a madrugada, na Zona Oeste da cidade

http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/isis-valverde-sofre-acidente-de-carro-no-rio-e-e-internadaDaniel Haidar, do Rio de Janeiro
Antônia (Isis Valverde)
Antônia (Isis Valverde) (Estevam Avellar/TV Globo)
A atriz Isis Valverde foi internada no Rio após sofrer um acidente de carro. Não há informações detalhadas sobre o estado de saúde da atriz, que interpretou Antônia na minissérie ‘Amores Roubados’, exibida pela TV Globo.
O empresário da atriz, Márcio Damaceno, afirmou por telefone ao site de VEJA que foi informado de que o quadro "é grave", mas não soube dizer se Isis está na UTI.
Isis foi internada no Hospital Barra D’Or, na Zona Oeste. De acordo com informações da Polícia Militar, o acidente ocorreu esta madrugada.
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Antônia (Isis Valverde) e Leandro (Cauã Reymond)
Antônia (Isis Valverde) e Leandro (Cauã Reymond) - Estevam Avellar/TV Globo

Conheça os Steve Jobs brasileiros

A Campus Party Brasil, inspira os jovens a construir um mundo melhor com a tecnologia.



A Campus Party Brasil acontece no Parque Anhembi, em São Paulo, e vai até fevereiro. (Foto: Divulgação)
Por Beatriz Borges*  

Em 2013, nove de cada dez habitantes do planeta Terra tinha um celular, segundo dados da União Internacional de Telecomunicações (sigla ITU, em inglês). Considerando que apenas cinco de cada dez pessoas têm acesso a saneamento básico e água potável, dados da ONU, é necessário fazer uma reflexão sobre a evolução da tecnologia em prol de melhorias sociais. A Campus Party (CP), além de ser um dos eventos mais importantes de tecnologia e inovação do mundo, tem dois enfoques em sua sétima edição no Brasil: utilizar a inovação para fomentar a sustentabilidade e fazer com que esses empreendedores tecnológicos reflitam sobre estas questões.

O espaço de eventos do Parque Anhembi, na zona norte de São Paulo, funciona 24 horas por dia até o final da feira, que vai até 2 de fevereiro, próximo domingo. São dois espaços: um de acesso livre e outro para quem pagou os 150 reais de inscrição. Foram "apenas" 8.000 entradas, esgotadas em novembro do ano passado. 

Na parte aberta ao público estão os stands das 250 startups que ganharam entre as mais de 1.000 propostas recebidas pelo comitê organizador, além de mostras de games e softwares - a comercialização está proibida. Depois de passar pelo controle de segurança, que reconhece o crachá de cada um com um código de barras e confirma rostos, nomes e computadores, além de um raio X para as mochilas, chega-se ao amplo espaço da arena, como ficou denominada a área paga. Nela, 500 conferencistas irão abordar temas variados, desde blogs e tecnologia até educação e saúde.

A mais noturna das CP, segundo os organizadores - os “campuseiros” montam barracas e, literalmente, viram a noite para interagir o tempo todo - reúne jovens entre 18 e 30 anos que desejam aprender com a imersão de uma semana. Renata Gallo, por exemplo, ganhou seu primeiro computador com quatro anos de idade. A técnica em informática, que agora tem 21 anos, já participou três vezes do evento. "No meu grupo de amigas conheci gente que conseguiu trabalho vindo à CP, porque aqui surgem oportunidades", explica. Para ela, o mais importante é "o ambiente".

Vontade de inovar

Você acaba saindo com vontade de inovar, com ideias na cabeça e compartilha esta experiência". Renata é uma das que dormem nas barracas da Campus. "Para mergulhar de cabeça na vibe da CP", afirma uma representante dos 33% de público feminino da feira, um dos níveis mais altos de participação do gênero a nível mundial. Para Paco Ragageles, um dos criadores do evento, ouvir isso é uma alegria imensa. "Temos 100 investidores que trouxeram 5 bilhões de reais para investir nesses jovens. Nossa missão é ajudar os campuseiros a conseguir ter êxito e fazer crescer suas startups", disse.

Um dos stands da CP que tem esse objetivo é o FI-WARE, que se autodefine como "Interfaces de Programação de Aplicativos abertas para mentes abertas". A plataforma europeia tem como objetivo dar aos desenvolvedores toda a infraestrutura para o desenvolvimento do projeto, seja uma base de dados complexa até uma mesa para que trabalhem. A escolha dos projetos de smart-cities e smart-business (cidades e negócios inteligentes) foi árdua. Há somente três equipes brasileiras entre as competidoras. Adriel Café e Diego Bonfim, ambos da Bahia, fazem parte de uma dessas equipes. 

"Há três anos participamos e sempre ficamos de olho nos desafios da CP. Fazemos tudo o que se propõe, desde criar soluções para o ensino fundamental a desenvolver ferramentas de consumo", conta Diego. Eles trabalham baseados no conceito da internet das coisas, que, resumidamente, significa que a conectividade deve ser pensada em todos os níveis. Adriel ilustra o conceito: "Uma janela sabe pela temperatura interior e exterior da casa se ela deve fechar ou não", explica.

Apesar da cabeça pensante desses jovens estar muito à frente do que se ensina nas universidades e escolas técnicas, já que muitos são autodidatas, eles entendem que o ensino oficial ainda é necessário. Um exemplo é Gabriel Barberini, de 15 anos. Em dois minutos ele listou mais de trinta programas e ferramentas que era capaz de utilizar com maestria, dos quais esta repórter apenas conseguiu identificar dois: Java e Dreamweaver. 

A presença dos gamers

Filho de um desenvolvedor de software, vive o mundo da tecnologia desde muito pequeno, mas mesmo assim pensa em fazer uma FATEC (escola técnica) ou ir ao exterior diretamente. "Porque falo inglês", diz. Gabriel foi ao evento patrocinado por uma empresa de computadores para competir, diz, apontando para o local mais ruidoso da feira, onde centenas de pessoas estão 24hs por dia ao redor de um palco para assistir a seus jogadores-ídolos no League of Legends, um jogo de estratégia online que é considerado um esporte nos Estados Unidos, dado o consumo de energia pela aceleração dos batimentos cardíacos.

Os gamers, jogadores profissionais como ele, representam 15% do público. A indústria de jogos movimentou no ano passado 20,77 bilhões de dólares, segundo um estudo elaborado por uma associação de software, a ESA. Depois que o time de Gabriel não chegou à final, ele aproveitou o tempo para circular pela CP e teve algumas ideias para startups. "Já até conversei com um desenvolvedor de software livre para dar continuidade a esses projetos depois daqui".

Um dos princípios da CP é a liberdade, não só no acesso livre e gratuito dos conteúdos (as conferências pagas podem ser vistas em streaming). Lá estão também tanto empresas comerciais quanto as de código aberto. É possível observar os jovens trocando ideias, apresentando seus projetos um ao outro, sem medo de que lhe roubem o invento. Com participantes de mais de 20 áreas do conhecimento, a troca entre disciplinas é fundamental. 

Para Vitor Dota, de 20 anos, que estuda economia na Universidade de Brasília, "é um evento de aglomeração de pessoas, no melhor sentido da expressão. Eu achava que entendia de tecnologia até chegar aqui. Minha intenção é empreender, me situar, por isso vim conhecer e ver o que tá rolando". Phillipp Michael de Oliveira, 22, é programador, mas acredita que a interdisciplinaridade é o que faz o evento único: "a CP gera novos ramos de atuação, em medicina, segurança, política e meio ambiente".

Para o criador Ragageles, a presença de diversos palestrantes é fundamental. "Uma das conferências sobre empreendedorismo foi dada pelo vocalista Bruce Dickinson, do Iron Maiden, com aforo mais que completo", conta. Avaliando os últimos sete anos de evento, Ragageles crê que "o Brasil tem duas qualidades: a criatividade e a capacidade de comunicação, que são potencializados com as possibilidades que a internet oferece". E vai além: "Tenho certeza de que o próximo êxito da internet sairá do Brasil".
* Beatriz Borges é correspondente em São Paulo do El País, onde esta reportagem foi publicada pela originalmente

Casal que fez parte do bando de Lampião é sepultado em BH


Corpos dos ex-cangaceiros estão juntos, no cemitério da saudade
Quem ouve a história de Antônio Inácio da Silva e de Durvalina Gomes de Sá, ex-cangaceiros que fizeram parte do bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e viveram o resto de suas vidas em Belo Horizonte, se surpreende com a intensidade dos fatos que cercam a vida do casal. Cenas de fuga, assassinatos e segredos encobertos por mais de 50 anos são alguns dos episódios que fazem parte da narrativa. Na terça-feira desta semana , no cemitério da Saudade, na região Leste da capital, outro capítulo dessa história foi contado. Antônio e Durvalina, que haviam sido sepultados em cemitérios diferentes, agora estão juntos em um mesmo jazigo. A mudança é a realização do pedido da filha do casal, Neli Maria da Conceição, feito à Prefeitura de Belo Horizonte, que doou o túmulo ao reconhecer a relevância histórica dos ex-cangaceiros.


“É muito gratificante para a minha família ter esse reconhecimento. Tenho muito orgulho de saber que os dois fizeram parte da história do Brasil e que agora vão estar juntos”, disse, emocionada, a filha. O pedido de Neli foi feito por meio de uma carta, construída com a ajuda do historiador Ivanildo Silveira. Esse tipo de cessão é feita apenas em situações especiais, como no caso da relevância histórica e cultural de Antônio e Durvalina. O casal se conheceu durante o cangaço, fenômeno marcado pelo embate entre cangaceiros e policiais que se alastrou por quase todo o Nordeste brasileiro entre os séculos 19 e 20.



A entrada de Antônio Inácio da Silva para o grupo de Lampião se deu por convite do próprio cangaceiro lendário, depois da recusa da polícia do estado em aceitar Antônio na corporação. O pernambucano ficou conhecido por Moreno e acabou levando o título de ser um dos maiores matadores de policias. “Foram 21 assassinatos e ele nunca levou um tiro”, conta João Batista Souto Figueiredo, 65 anos, filho do casal. Já Durvinha, apelido de Durvalina Gomes de Sá, trocou os maus tratos da sua família na Bahia pelo amor de Virgínio, cangaceiro e cunhado de Lampião, conhecido também como Moderno. Com a morte de Virgínio, Durvinha se juntou a Moreno, com quem ficou até o final da vida.



Em 1938, em uma emboscada na gruta dos Angicos, em Sergipe, quando Lampião, Maria Bonita e outros nove cangaceiros foram mortos, Durvinha e Moreno sobreviveram. Esse episódio marca o início do declínio do cangaço. Na época, os cangaceiros que eram capturados pela polícia eram decapitados e tinham suas cabeças expostas em locais públicos da cidade. Temeroso, o casal perambulou por dois anos entre Alagoas e Pernambuco até decidir fugir do Nordeste, deixando um filho aos cuidados de um padre em Tacaratu, cidade natal de Moreno. “Foram aproximadamente 1.786 quilômetros feitos a pé durante quatro meses até que eles chegaram à cidade de Augusto de Lima [em Minas Gerais]”, conta João Batista.



Novas identidades



Na cidade mineira, o casal assumiu novas identidades, Jovina Maria da Conceição Souto e José Antônio Souto, e por lá criaram seus outros cinco filhos. “Eles fizeram um pacto para que o passado cangaceiro nunca fosse descoberto”, conta Neli, hoje com 63 anos. O sustento veio da fabricação e da venda de farinha e, posteriormente, de um bordel, do qual Moreno foi o proprietário. A mudança para Belo Horizonte aconteceu na década de 1970 e somente em 2005 toda a verdade foi revelada, quando Neli descobriu o paradeiro do irmão que ficou no Nordeste. “Com 10 anos de idade, encontrei uma fotografia de um menino, que minha mãe disse ser meu irmão. Nesse dia, ela me disse o nome dele: Inácio”, relembrou. O problema é que Inácio, que ela encontrou em uma das suas tentativas, não era filho de José Antônio e Jovina, mas dos cangaceiros Moreno e Durvinha.



Com a descoberta de Neli, o casal revelou toda a história aos seis filhos, contando com Inácio, que na época já morava no Rio de Janeiro. Na ocasião, eles pediram segredo porque não sabiam que os crimes tinham prescrito, mas Neli levou os fatos a público, que logo se tornaram fonte de pesquisas, livros e documentários ligados à temática do cangaço. 



Antônio e Durvalina são protagonistas do livro “Moreno e Durvinha: Sangue, Amor e Fuga no Cangaço”, do historiador baiano João de Sousa Lima, e do documentário “Os Últimos Cangaceiros”, dirigido por Wolney Oliveira. O casal também é objeto de pesquisa da professora de história pernambucana Ana Lúcia Granja, que está produzindo seu segundo livro sobre o tema. Por fim, o filho João Batista finaliza o livro em que relata a história dos seus pais nesse importante período da história do Brasil. Durvina faleceu no dia 30 de junho de 2008 e Moreno morreu no dia 6 de setembro de 2010. Os dois estão sepultados na seção C, no jazigo 65.

Cangaço

O cangaço foi um fenômeno social protagonizado por grupos armados que percorreram o sertão nordestino entre as décadas de 1870 e 1930. Os cangaceiros despertavam o medo e a admiração da maioria da população pobre do Nordeste. Para alguns especialistas, o cangaço teria nascido como uma forma de defesa dos sertanejos diante da ineficiência do governo em manter a ordem e aplicar a lei. Para combater os cangaceiros, o governo reagia com as “volantes”, grupos de policiais.

Maior de todos os cangaceiros, Lampião começou a atuar em 1920. Estima-se que sua gangue chegou a matar mais de mil pessoas. As primeiras mulheres juntaram-se ao cangaço a partir de 1930 e a pioneira foi Maria Bonita, companheira de Lampião. O sucesso de seus ataques contra fazendas e vilarejos fez a polícia intensificar os esforços para enfrentá-los, usando armamentos que os cangaceiros jamais conseguiram comprar, como submetralhadoras. Em 1938, Lampião e Maria Bonita foram mortos por uma volante. Um dos sobreviventes, Corisco, tentou assumir o lugar do chefe, mas foi morto pela polícia em 1940, em um ataque que encerrou o cangaço.
PBH

Repúblicas em MG podem oferecer pacotes para o Carnaval

Com a nova decisão, a estadia nas moradias estudantis está liberada para a próxima folia.
Por Felipe Luchete

As repúblicas estudantis de Ouro Preto, município histórico de Minas Gerais, não praticam concorrência desleal com hotéis da cidade ao receber turistas para o Carnaval. Com esse entendimento, um juiz federal de Minas cassou sua própria liminar que proibia a venda de pacotes para estadia nas moradias estudantis.

O pedido foi apresentado pela Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), em conjunto com o Ministério Público Federal e o MP estadual. A ação argumentava que o setor hoteleiro era prejudicado pelas repúblicas, já que, por estar sujeito a encargos, não tinha condições de ofertar preços semelhantes de hospedagem. Questionava-se ainda a regulamentação da Universidade Federal de Ouro Preto — proprietária dos imóveis estudantis — que permitiu, em 2010, a organização de festas e a cobrança para pessoas de fora.

No dia 18 dezembro, o juiz federal Jacques de Queiroz Ferreira, da Vara Única de Ponte Nova, avaliou a necessidade de conceder liminar para impedir a venda de pacotes das repúblicas para 2014. Como a comercialização já havia começado, com preço médio de R$ 1 mil por pessoa, o magistrado considerou que a demora poderia tornar irreversível o prejuízo dos hotéis. A universidade, representada pela Advocacia-Geral da União, alegou que o público das casas de estudantes é diferente do que procura a indústria hoteleira. Em geral, é formado por jovens que procuram baixos custos e não se incomodam em ficar em ambientes coletivos.

Na última terça-feira (28), Queiroz Ferreira avaliou que o veto não fazia sentido. “Verifico que, segundo a Prefeitura de Ouro Preto, a cidade dispõe de 3.588 leitos (5.094 na região), ao passo que, em 2014, a estimativa é de que cerca de 75.000 turistas visitem a cidade no Carnaval”, afirmou. O risco de as repúblicas, com suas acomodações precárias, praticarem concorrência desleal é baixo, segundo Ferreira, “haja vista a relação de 20,90 turistas para cada leito situado em Ouro Preto (14,72 pessoas por leito, se considerarmos a região do entorno)”.

Ele avaliou ainda que, como os estudantes vivem nos imóveis públicos em troca de custearem a manutenção e a conservação dos prédios e a maioria deles é carente, é razoável que a universidade autorize eventos que auxiliem na arrecadação de fundos. Ainda cabe recurso.
Consultor Jurídico

UMA CARTA DE D.ALOISIO RECEBIDA 41 ANOS ATRÁS


FOTOS VINCULADAS 



Mexendo nos meus arquivos, onde guardo muita coisa da história de Santo Ângelo, encontrei uma preciosidade: uma carta que recebi do Cardeal Dom Aloísio Lorscheider, na ocasião Arcebispo de Fortaleza, no Ceará, quando ele era também presidente da CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Nessa correspondência muito pessoal, D. Aloysio pede, inclusive, que não a publicasse, pois ele estava desmentindo um repórter que havia divulgado declarações dele que não correspondiam a verdade. Como já se passaram tantos anos da carta, na realidade mais de 41 anos, comento alguns tópicos e a publico em fac-símile, em letras bastante reduzidas, para não tomar o espaço da coluna.
Na ocasião, eu, como jornalista e amigo, havia alertado D. Aloysio sobre umas declarações que a imprensa gaúcha atribuiu a ele e que não correspondiam a verdade.
Na carta ele diz que: "Terminei o meu pequeno artigo, creio que satisfará o seu pedido. Procuro ser muito claro com aquilo que penso, levado pelo amor que tenho pela região missioneira. Se calasse eu me penitenciaria de uma omissão muito grave nesse assunto tão vital para todos nós, para o nosso bom povo santo-angelense e missioneiro. Não culpo o repórter. Você tem bastante prática neste setor, sabe muito bem como é impossível a um repórter ser senhor de todas as situações. Entre o ronco da ida e vinda de um avião, no borborinho de um aeroporto, é muito difícil a um repórter ser inteiramente fiel em uma questão delicada, dentro de uma realidade, da qual o repórter vive afastado".
Depois dessa explicação, D. Aloisio agradece o envio constante do Jornal A TRIBUNA. " É a carta, escrita por vocês, que me chega semanalmente de Santo Ângelo. É, para mim, dia de festa quando chega a " A Tribuna". Muito agradecido. Também o felicito pelo bom êxito que estão tendo na circulação do Jornal. Continuem sempre com coragem e idealismo!
Não sei se você publicou aquele meu artigo sobre o celibato dos Padres, É um número que não recebi, deve ter sido publicado após aquela última entrevista que lhes dei"
E termina D. Aloisio Lorscheider: " Meu Luiz, tchau! O meu abraço amigo."
O grande Cardeal brasileiro, primeiro bispo da Diocese de Santo Ângelo, repousa hoje no cemitério do Mosteiro dos Frades Franciscanos na cidade de Imigrante, onde ele estudou na juventude.
Aquele túmulo guarda um segredo que jamais será revelado: D. Aloisio teria sido eleito Papa e não aceitado sua eleição?

http://www.atribunars.com.br/index.php?origem=noticia&id=22165

Visita ao túmulo de Dom Aloísio Lorscheider

O bispo auxiliar de Fortaleza, dom Vasconcelos, e os padres Neto, Sales, Oliveira, José Eudásio, Bezerra, Abel Jakson, vistaram no no último dia 14 de janeiro de 2014 na cidade de Imigrantes, Rio Grande do Sul, o tumulo do cardeal dom Frei Aloísio Lorscheider.
Dom Aloísio Lorscheider morreu aos 83 anos no dia 23 de dezembro de 2007 e está enterrado na cidade de Imigrantes no Sul do Brasil. Ele foi arcebispo de Fortaleza e  presidente da CNBB.





Fraternidade na economia



A idolatria do dinheiro tem estreitado mentes e corações (Foto: Reprodução)
A fraternidade na economia é uma premissa determinante na construção da paz. Lamentavelmente, a idolatria do dinheiro tem estreitado mentes e corações, negociações e pactos, em razão da hegemonia exercida sobre o desejo e sobre as razões de viver das pessoas, de povos, grupos e culturas. 

Entre as dinâmicas da idolatria do dinheiro, além da mesquinhez que limita as oportunidades de partilhas, apoios e desenvolvimento de projetos básicos para o crescimento das populações, inscreve-se a devoradora compulsão pelo consumo. Conduta que está na base da crise de valores, experimentada em todo o mundo, por reduzir a pessoa ao seu poder aquisitivo. 

O desarvoro do consumo gera voracidade e tiranias incontroláveis no íntimo das pessoas, determinando dinâmicas perversas para a sociedade contemporânea. Como enfrentar adequadamente as graves crises financeiras e econômicas deste tempo? O lucro é determinante e deve ser sempre maior. Impõe o esvaziamento antropológico de entendimentos sobre o que é essencial na vida das pessoas, impedindo investimentos, partilhas e apoios. Torna-se meta principal, sacrificando projetos e programas que poderiam fazer a diferença em cenários de pobreza. A lógica do lucro que expulsa a fraternidade das dinâmicas da economia gera outras consequências igualmente preocupantes, tecendo uma rede de violências, perversidades e corrupção. Destrói o que poderia se traduzir em exercícios ricos de fraternidade. O Papa Francisco, na convicção que rege o serviço evangelizador da Igreja, constata e chama à reflexão sobre o afastamento do homem, de Deus e do próximo e sobre o empobrecimento das relações interpessoais e comunitárias como causas fatais dessa realidade contemporânea. 

As pessoas são consequentemente empurradas na direção do consumo, na busca do lucro a todo custo e fora da lógica de uma economia saudável. O cenário é de desgoverno e de descontrole, realidade que pesa sobre todos os ombros. Não se pode continuar crescendo e avançando, comprometendo aspectos essenciais, gerando prejuízos irreversíveis, como a perda do sentido fundamental de humanidade que sustenta cada pessoa.  O sistema de produção e os meios de comunicação, já dizia o Bem Aventurado Joao Paulo II, têm enorme responsabilidade pela forte influência no dia a dia das pessoas e na formação de conceitos que não priorizam o que, de fato, é importante.

É clara a convicção de que as crises econômicas e suas injunções devem levar os construtores da sociedade pluralista, dirigentes governamentais e cidadãos a repensar os modelos de desenvolvimento e os estilos de vida. Transformações que têm sido claramente indicadas como possibilidades de proteger cada pessoa da agressividade dos mecanismos da sociedade do lucro e do consumo. A mudança de estilo de vida - frisa o Papa Francisco, em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, não pode abrir mão do cultivo das virtudes da prudência, temperança, justiça e fortaleza.

A mudança da sociedade não virá, nem se sustentará, simplesmente pelas dinâmicas próprias da economia, que não possui arcabouço suficiente em si mesma para promover as transformações que a cultura contemporânea necessita.  Apostar em outro modelo econômico como solução para as sociedades faria, apenas, aumentar a lista dos fracassos na busca da paz e adiaria a possibilidade de uma justiça social mais abrangente e mais significativa.

A fraternidade sim, tem a energia necessária para mudar a economia. Vivida e cultivada pela força motriz das virtudes tem propriedades singulares e únicas para extinguir a guerra, humanizar as relações econômicas e promover o entrelaçamento de pessoas. A Fraternidade tem o poder de iluminar a inteligência gerando entendimentos que arquitetam pactos sociais e políticos. A fraternidade, como via para a paz, é o caminho novo para a economia.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas. 

Jovens da classe C, os que mais consomem

Jovens discriminados pelos shoppings gastam mais do que todas as classes sociais juntas.


Jovens da classe C concentram poder de consumo de 129 bilhões de reais.
Por Marina Rossi*  

Diante dos rolezinhos que invadiram a praia dos shoppings nas últimas semanas, a Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop) solicitou oficialmente uma reunião com a presidenta Dilma Rousseff para discutir a proibição as convocações. Isso ocorreu na mesma semana em que o Instituto Data Popular divulgou uma pesquisa apontando que esses mesmos jovens do rolê são também os que têm o maior potencial de consumo entre todas as classe sociais.

Sozinhos, os jovens da classe média concentram um poder de consumo de 129 bilhões de reais, enquanto os jovens das classes A e B somam 80 bilhões, e os da classe D, 19,9 bilhões. Segundo Renato Meirelles, presidente do Data Popular, impedir os jovens dos rolezinhos de entrarem nos shoppings - como muitos estabelecimentos estão tentando fazer - é não enxergar o potencial de consumo que esse público pode gerar. "É uma miopia das oportunidades de negócios", disse Meirelles.

A pesquisa ainda mostrou que 16,6 milhões de brasileiros entre 16 e 24 anos frequentam um dos 495 shoppings do país, em uma média de três vezes ao mês. Metade (54%) desse público é da classe média, que tem na lista dos produtos mais desejados o notebook, seguido do smartphone e do tablet.

"Descobrimos que os jovens da classe c são a maioria absoluta dos frequentadores dos shoppings. Depois, vimos que eles gastam mais do que todas as classes sociais somadas, o que pode ser uma oportunidade para os shoppings", disse Meirelles, que observa que esses jovens são os filhos da nova classe média, que não tiveram um passado de restrição como seus pais.

Um dado curioso é que entre as mulheres das classes A e B, 70% já usaram algum produto falsificado. Entre os consumidores da classe c, esse percentual não passa de 50%, porque, segundo a pesquisa, essas mulheres creem na apresentação como forma de diminuir o preconceito. Ocorre que, segundo a pesquisa, “a renda das pessoas cresceu mais do que os espaços de consumo, e não se construíram espaços e nem métodos de consumo universalizados.

Segregação

Enquanto o estudo fala sobre universalização dos espaços de consumo, se dependesse somente da classe alta brasileira, os shoppings deveriam ser segregados. Metade dos jovens de classe A e B afirmam preferir frequentar locais com pessoas do mesmo nível social. Pessoas malvestidas deveriam ser barradas dos shoppings para 17% dos jovens dessa classe social mais alta. Também para 17% deles, os estabelecimentos deveriam ter elevadores separados, e metade defende a criação de produtos na versão "para ricos e para pobres".

A ideia de fechar as portas para os meninos de classe média brasileira, pareça ter coerência com o desejo da classe alta, não confere com o dinheiro que a classe média é capaz de movimentar, devido ao seu alto potencial de consumo.

A presidenta Dilma afirmou estar preocupada com a questão do rolezinho, mas, por ora, ainda não tomou nenhuma medida em relação ao assunto.
* Marina Rossi é correspondente em São Paulo do El País, onde esta reportagem foi publicada originalmente.