quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Testemunhas fiéis

 Pe. Geovane Saraiva*

Senhor Deus, tu sabes tudo. Nestes tempos difíceis e desafiadores, pedimos que nos mostre, com clareza, o caminho a ser seguido. São muitas as interrogações em nossos dias, as quais necessitam de seguras e convictas respostas, mas à luz da esperança, aquela que se encontra na palavra divina. Chegou, finalmente, a hora de ficar ao lado dos que sofrem, dos irmãos que carregam cargas e fardos pesados. Acompanha-os, Senhor, na tua indulgente compaixão e ternura de Pai!

Que haja na humanidade o interesse e o ímpeto de esperança de um povo que acredita na própria criatura humana. Que pessoa alguma possa ficar de fora ou excluída da compaixão de Deus. Ajude a todos, mesmo que eles se deparem com os que se fecham à graça divina, assumindo funções obscuras e contraditórias, ao contrariar o projeto redentor, ao blasfemar e ignorar sua suprema complacência e brandura, a ponto de imperar à vontade, destruir e tirar de circulação seus semelhantes, na condição de seus inimigos e adversários. Ó Deus, na nossa vocação de teus discípulos e missionários, ajuda-nos a todos e a cada um, destinados que somos à felicidade, no mais límpido e elevado sonho, o do condicional e relativo, no incondicional e absoluto de Deus.

Sem perder de vista a fé no Senhor que ressuscitou verdadeiramente, que a esperança seja muito mais que uma simples visão otimista e luminosa das coisas. Buscar, sim, a verdadeira esperança, que encontra sua consistência e fundamento na vida das pessoas, com toda a sua largueza e abrangência no nosso mundo contraditório e marcado pelo pecado. Esperança verdadeira, muito além da realidade hodierna, indo na direção do infinito e da eternidade em Deus, segundo a promessa de Jesus de Nazaré, fundamento seguro e sólido dos seus seguidores.

No mês de outubro, o das missões, a partir da Igreja essencialmente missionária, que Deus nos encha de esperança, afável compreensão, de que os confins do mundo nos inquietam, inquietam a todos. O Deus de Jesus de Nazaré, como boa e melhor notícia, sem excluir ninguém, diante da dor e do sofrimento a clamar do seio do mundo, como nas palavras esperançosas do Senhor ressuscitado: “Sereis minhas testemunhas” (At 1, 8).

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

 

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Fogueira acesa

 Pe. Geovane Saraiva*

Nada de se preocupar nem se importar com as cinzas, sem levar em conta a importância grandiosa que se dá à fogueira, com o ardor e o calor de suas chamas, enormes e intensas. Como se fosse uma fogueira, a celebração da vida está unida ao sacrifício de Cristo como verdadeira súplica e perfeito louvor, tudo a partir do cordeiro redentor, que, na obediência à vontade divina, encontrou seu ponto mais elevado na morte de cruz, ao nos indicar seu supremo gesto, último e definitivo, mas na alegre ventura e êxito em favor da criatura humana, no seu fim, de determinante satisfação. 

Nas labaredas da vida, com suas veredas, contamos Jesus de Nazaré, nascido dos homens e nascido de Deus, tendo sua origem humana na providencial intervenção divina. A celebração de sua vida, no pão e no vinho, é sustento espiritual e nela são encontrados os dons da unidade, no mais seguro discernimento. Todos somos responsáveis pela confiança no testamento de seu amor, que nos assegura a garantia da vida na sua integralidade, na busca da casa comum para todos, que é obra das mãos de Deus, afastando-nos das angústias do mundo e de todo e qualquer ocaso.

Nele Deus encaminha as pessoas à felicidade, no espírito das bem-aventuranças, da plenitude divina, no envolvimento transformador, na mística libertadora que transfigura as criaturas humanas, dilata e sensibiliza corações. Sendo de Deus fruto esplendoroso e magnífico da mais pura fecundidade divina, ele é um presente para o ser humano e para o mundo. Pela fé, temos a segurança de que aquele que “nasceu da Virgem Maria”, bem do seio da humanidade, dele depende toda a fecundidade humana, na irrefutável afirmação divina, a de que “nele tudo foi criado; não nasceu do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus” (João 1, 13).

Pensemos, pois, na fogueira acesa, que inflama com suas chamas, absorvida nas labaredas da vida, sem nos esquecer das cinzas, transparecendo-as no relativo e no provisório, voltando-nos para a bem-aventurança eterna, identificados com o Cristo servidor, perseguido, odiado, insultado, ultrajado e excluído. Ele é visível naqueles que se dispõem a abraçar – na doação, na renúncia e na generosidade – sua causa: o projeto de amor. Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

 

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Estímulo em São Carlos de Foucauld

  Pe. Geovane Saraiva*

Nada de vaidade, de presunção ou mesmo de opinião excessivamente elevada e pretensiosa quanto à canonização do Padre Charles de Foucauld, na sua inspiração divina, ao afirmar que gostaria de ser bom, para que se pudesse dizer: “se assim é o servo, como não seria seu mestre?” (cf. Fontes Foucauldianas). A imagem viva do amor por Jesus ele a encontrou, quando na palavra do sacerdote Pe. Hivelin, ao pedir-lhe uma orientação que fosse plausível a respeito de Deus, em outubro de 1886, aos 28 anos de idade.

Mudar e estimular, sim, no seu exemplo de vida, a partir daquela feliz circunstância, decisiva em sua vida, repetidas incontáveis vezes por ele: “Quando acreditei que existia um Deus, compreendi que não podia fazer outra coisa, que não fosse viver somente para Ele” (Fontes Foucauldianas). Estímulo, sim, no sentido de aprender e com ele para melhor se perseguir seu ideal de vida, a conversão do coração, mas na compreensão dos nossos Tuaregues hodiernos, na esperançosa confiança no bom Deus, a que penetrou no mais profundo de sua alma, numa súplica universalmente aberta e acolhedora.

Impulso, pela espiritualidade de Charles de Foucauld, aquele que foi seduzido pelo amor de Deus, ao confessar seus pecados e sentir uma indizível alegria, a mesma alegria do filho pródigo. Mudança pelo desafio de acreditar e concordar com a mística cristã, no amor dele por todos, indistintamente, sempre de braços abertos para pessoas boas e não boas. Deus quer, através de São Charles de Foucauld, canonizado aos 15 de maio de 2022, que não nos afastemos do eixo de seu legado e itinerário espiritual: o da conversão permanente, da Eucaristia como centro, a oração do abandono, a busca do último lugar, sem esquecer do Evangelho da Cruz (cf. Espiritualidade para nosso tempo, Edson Damian, Paulinas, 2007).

O Deus que lhe falou na sua incredulidade, indiferença e egoísmo, caindo nas mãos divinas, sendo arrebatado e seduzido por Jesus de Nazaré, que se tornou o único e maior tesouro de sua vida. Mudança, numa palavra, de ânimo levantado e para cima, mas na mais viva esperança de vermos novas todas as coisas (cf. Ap 21, 5), ao mesmo tempo agradecidos ao bom Deus pelo dom da vida do Irmão Carlos de Foucauld – místico, referencial e patrimônio espiritual para a nossa civilização cristã, na experiência do absoluto de Deus.

Em São Carlos de Foucauld, Deus quer se manifestar, abrindo caminhos, animando-nos com o alimento e com a água verdadeira, que, com seu próprio exemplo, faça jorrar água das pedras ou dos rochedos dos corações humanos, matando a fome e a sede de sua esposa sedenta: a Igreja. Na caminhada pelos nossos desertos da vida, não prescindir dos ensinamentos metafóricos da caminhada do povo de Deus, também jamais preterir do irmão universal, Charles de Foucauld.

Que o Reino de Deus, na sua universalidade, anunciado e testemunhado pelo Irmão Carlos de Foucauld, ao quebrar crosta de veladas fronteiras e barreiras existenciais, mesmo na imaginação, nas convicções e no intolerante silêncio de irmãos e irmãs na fé, jamais seja causa de empecilhos, mas que facilite como um farol a iluminar a existência humana.

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Deus sempre fiel

Pe. Geovane Saraiva*

O Senhor nosso Deus caminha conosco por onde quer que andemos (cf. Js 1,9), caminha conosco em Nosso Senhor Jesus Cristo, com seu projeto de amor infinito, de um Deus verdadeiramente bom, que quer uma única coisa, o bem da humanidade, na promessa de consigo reconciliar todas as coisas. Seu amor envolve todos, bons e não bons; nele ninguém pode se considerar órfão, esquecido, perdido ou mesmo não contemplado na proposta redentora. Ele oferece, indistintamente, o sol e a chuva a todos os seres viventes (cf. Mt 5, 45). Eis a maior de todas as novidades para mulheres e homens de boa vontade: Jesus de Nazaré, aquele que foi seduzido pela clemente bondade de Deus Pai.

É Deus que, com sua divina providência, nos faz optar, entre diversos caminhos, pelo caminho verazmente incontestável, sólido e seguro, num não aos valores ilusórios, mutáveis e perecíveis. Tudo, evidentemente, em vista da realidade próspera, no sonho dos horizontes futuros, sendo Jesus a sabedoria encarnada do Pai a iluminar os passos da humanidade. Somos cobertos de proteção e amparados nos mais elevados sentimentos, próprios dos seguidores de Jesus de Nazaré, no distinto abraço da sua Cruz sagrada, preterindo vantagens e satisfações momentâneas e passageiras.

Na promessa de estar conosco todos os dias, até o fim do mundo (cf. Mt 28, 20), temos bens duráveis em Jesus de Nazaré, a parir do Livro Sagrado, contrariando o raciocínio humano, consolidado nos tesouros ou pecúlios transitórios, com sua consistente predominância nos bens indestrutíveis e infindáveis, no mais circunspecto discernimento dos propósitos da vontade divina. Voltemo-nos para Deus, através da Bíblia e do Livro da Criação: um feito de palavras; o outro, de coisas. Este segundo é um livro aberto diante de todos; todos o podem ler, também os que não tiveram a sorte das primeiras letras.

Na alegre confiança de que a palavra de Deus é eterna (cf. Is 40, 8), todos são chamados a percorrer o seu caminho, no decisivo e inflexível sonho, o da pessoa humana radicalmente livre e restaurada, numa generosa resposta, presumindo-se do mistério salvífico e redentor de Cristo, mas num esforço de permanente coerência, na busca dos sinais esperançosos de solidariedade, com aquela disposição interior no seu sentido mais amplo.

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).