domingo, 26 de setembro de 2021

A essência da missão

Pe. Geovane Saraiva*

Pe. Geovane Saraiva com Dom Beto Breis,
bispo de Juazeiro-BA.
Convento franciscano de Fortaleza (26/9/2021).
Outubro pede de nós, cristãos, um renovado ardor missionário, hoje mais do que nunca! Jamais devemos prescindir desse ardor, encontrando eco no valor indescritível da oração como sustento da ação evangelizadora da Igreja, sucesso de todo um trabalho, que, evidentemente, passa pela íntima e estreita união com Aquele que é a essência da missão: Jesus de Nazaré. Que a Igreja, sacramento de salvação, continue firme, com alegria desmedida, a anunciar o Evangelho do Senhor no nosso tempo, sem nunca perder de vista a natureza da missão, que é partir até os confins do mundo, como ensina o Livro Sagrado: “Como é encantador ver o mensageiro pelas montanhas, trazendo notícias de paz, boas notícias de salvação!”.

Voltemo-nos ao Servo de Deus, Dom Helder Câmara, numa enorme vontade de ver a terra abarrotada e recheada da glória de Deus, numa contribuição dilatadora da obra missionária da Igreja, ao afirmar: “Missão é partir, é não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos; a humanidade é maior. Missão é partir, mas sem devorar quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E, se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então Missão é partir até os confins do mundo”.

À medida que passam os tempos, a missão da Igreja merece uma maior e elevada vigilância, sempre acompanhada de uma renovação consequente e ardorosa da parte dos cristãos. Faz-se mais necessário o valor indizível da oração como sustento da obra e ação missionária da Igreja. O salutar resultado de todo árduo desempenho missionário se apoia e se sujeita, evidentemente, a um acolhedor amparo, numa afeição encantadora e fascinada da face amorosa e afável de Deus, percebendo-o na realidade concreta dos irmãos e do mundo, apaixonados pela causa de Jesus de Nazaré.
 
Que Deus nos dê a graça da compreensão do único e necessário para nossa vida: viver com ardor o Evangelho de Jesus. Sejamos, pois, fermento de renovação no meio da massa, sem nunca nos distanciarmos da cruz santa do Senhor, dando a entender a todos que temos o mundo diante de nossos olhos, na mente e no coração, peça essencial da missão. Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).












terça-feira, 21 de setembro de 2021

Mãos humanas

 Pe. Geovane Saraiva*

Levando-se em conta o ser humano, mas sem desprezar o contexto da criação, por demais valorizada em Francisco de Assis, pensemos, pois, nas mãos humanas, a partir do “ministério da fé”, que sejam elas sinais da providência de Deus, radicalmente afável, benevolente e resplandecente. Na humanidade inteira, com suas mãos, em atitude de oração compassiva, num não ao ódio e à violência, ele, obediente, ao interceder, jamais se esqueceu de agradecer, ao aclamar e apoiar irmãos e irmãs, num sonho genuíno: o de um mundo divino, restaurado, renovado e pacificado no amor do Senhor.

A partir do amor abrangente e cósmico de Francisco de Assis, ao encontrar Deus e descobri-lo sempre mais na natureza, peçamos aquela mesma graça de vivermos em profunda e contagiante alegria, a dos filhos de Deus. A sua lição é comovedora, afável e terna, em continuidade ao projeto do Salvador da humanidade, ao instaurar um mundo verdadeiramente de irmãos, justo e solidário, que se leve em conta e se tenha diante dos olhos, na mente e no coração a grande e maior novidade: o Deus encarnado na história.

Deus quer de seus filhos a mesma humanidade do santo de Assis, pela doçura, ou docilidade, no diálogo, ao considerar as pessoas, dando o nome de irmão e irmã, também o passarinho da árvore, o Sol, a Lua, as estrelas. (...) O assunto, ou pauta constante dos cristãos, deveria ser a síntese do exterior com o interior, no cuidado com os seres existentes, sem jamais se apropriar, querendo tirar ou levar vantagem em tudo. Ele propõe como lógica um mundo ideal, do sombrio ao luminoso, das decepções e de tudo o que parece obscuro às alegrias e às esperanças.

O que é vertical, condição imprescindível da relação da criatura com o criador, pelo trovador de Assis, entrelaça-se com toda a força ao horizontal, ao se perceber a natureza como sagrada. É a manifestação do sacramento de Deus, no que disse o teólogo Leonardo Boff: “Desse processo que combina ternura e vigor, céu e terra, vida e morte, irrompe a irradiação de alguém que realizou sua humanidade de modo exemplar. Criou um humanismo terno e fraterno que vai além do mundo humano e que abarca toda a natureza e o próprio universo”. Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Teresa de Jesus é luz

 Pe. Geovane Saraiva*

 

Em Santa Teresa, temos luz que é Jesus

Nela santidade que o mundo percebeu

Por bondade divina, jamais arrefeceu

Na esplêndida aventura, o Cristo da cruz.

 

Presa pela misericórdia, nada a perturbou

O Senhor do Castelo Interior a seduziu

Foi a vontade suprema que a conduziu

Pelo incisivo silêncio, do mundo se desapegou.

 

O que mais alcançou, bondade e clemência

Eis o legado da irmã Teresa, expectante na paciência

De sua excelsa lição, que em Deus tudo se alcança.

 

Nela tudo restaurado, na insuspeita confiança

No amor onipotente do redentor, quanta indulgência

No caminho obscuro, em Teresa de Jesus, afável complacência!

 

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor e

 integrante da academia Metropolitana de Letras

de Fortaleza (AMLEF).

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Francisco de Assis e os males do planeta

Pe. Geovane Saraiva*

Convém à criatura humana, mais do que nunca, se voltar para Francisco de Assis, numa inspiração, apoiando-se na sua pessoa, inquestionável referencial e exemplo, induzido e inculcado por preces fervorosas ao bom Deus, no sentido da cura dos males do planeta ou mesmo na busca de uma terra sem males. Ele, que recebeu do bom Deus-Criador a mais elevada e sublime missão, ao externar um clamor muito forte: o de chamar a atenção para os cuidados com as criaturas de Deus. Na condição de humilde servo de Deus, compreendeu o mistério da compaixão cristalina, demonstração da vontade divina. Quão magnânimo esplendor, afável ternura e fervor, no Aventureiro de Assis pelo seu Senhor!

“Francisco, despojado de todas as coisas que são do mundo, dedicou-se à justiça divina, e, desprezando a própria vida, entregou-se ao serviço divino por todos os modos possíveis”. Quando se contempla as obras das mãos de Deus, no exemplo venturoso do trovador acima, o de Assis, montado naquele cavalo, tem-se muito a dizer e simbolizar o mundo, a partir do convívio com as relações econômicas, sociais e políticas, sem esquecer as vaidades, o orgulho e o egoísmo humano, os quais envolvem em desgastes desfigurados o rosto de Deus, nas criaturas e no próprio mundo. 

Nele está presente, por sua constante e viva mensagem, o seu mais radical significado engrandecedor, de convocar e provocar as pessoas de boa vontade, seguidoras de Jesus de Nazaré, a um despertar da consciência sempre acompanhada da excelsa grandeza de alma, no que diz respeito ao sustento da vida, mas num amor descomunal e sem medida, no que se possa, não só imaginar, mas também encontrar meios possíveis, na sólida reconstrução da sociedade, com um olhar carinhoso, no mesmo propósito ou desígnio para com a criação: sua plena restauração. 

Quando muitos pensam no que é pequeno, néscio e barato terraplanismo negacionista, afligindo e incidindo na vida humana, mesmo num não à mão de obra nanica e irrelevante, designando prejuízo em detrimento dos talentos, das descobertas e inteligência dos seres humanos, sentido da vida, dom e graça de Deus, nas suas relações humanas, que não se prescinda do ideal e do espírito de Francisco de Assis. 

Pensemos, pois, na contribuição do Poverello d'Assisi, que, ao entrar nas cidades de então e, como um ébrio do espírito, começou a louvar o Senhor pelas praças e pelos becos. Hoje também se faz necessário caminhar ao encontro da ética e da moral, a partir do diálogo ecumênico, aberto e no respeito à realidade do mundo tão diverso, carecendo de clemente complacência franciscana, no seu sentido mais amplo, tendo no centro a vida, numa prece por sua sobrevivência, muito além da espécie humana (cf. Hans Küng, Ética Mundial). 

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).