terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

A aventura do amor em Jesus de Nazaré

 Pe. Geovane Saraiva*

“És pó e em pó hás de te tornar” (Gn 3, 17). Foram essas as poucas palavras pronunciadas pela primeira vez por Deus e dirigidas a Adão, em consequência do pecado cometido. Hoje, a Igreja, nesta Quarta-feira de Cinzas, as repete a cada cristão, para recordar a todos e a cada um, com a mais elevada clareza, três verdades inquestionáveis e fundamentais: o nada da criatura humana, a nossa condição de pecador, de pessoas frágeis, e a realidade inevitável da morte.

Deus, neste tempo de Quaresma, convida os seguidores de Jesus de Nazaré para uma aventura do amor incondicional a Deus, do amor a todos os irmãos e do amor terno e afável pelo mundo. Deus quer que seja corajosa e incisiva a vontade de seus parceiros e aliados, na vocação de peregrinos na história do mundo e no tempo, que é rico e precioso, que passa depressa, em que há circunstâncias de morte; o lado cômodo da vida e também o fracasso dos projetos humanos, e demais contingências, parecem, nitidamente, tomar conta de um apoderamento de tudo. Deus mesmo, na realidade contrastante, paradoxal e antagônica, é infinitamente maior.

Ó Senhor, neste início de Quaresma, e em todos os dias, que possamos pensar, decididos e esperançosos, que nossa prece e nosso sacrifício subam aos céus por todos os irmãos, pelo mundo que sente e passa fome. Que todas as pessoas consigam e possam carregar seus pedidos e intenções, lá no mais íntimo do íntimo. Ó Jesus, que todos possam obter, nesta Quaresma, a graça de cumprir todos os seus santos propósitos, por cada mulher e cada homem, imagem e semelhança de Deus, tendo o necessário para viver, num renovado sentimento de se buscar a dignidade de filhos de Deus, que já se inicia aqui na terra, como nas palavras do nosso Mestre e Senhor: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23, 8).

Concede, nós te pedimos, ó Deus misericordioso, desejarmos ardentemente o que é de teu agrado, numa “Fraternidade e Amizade Social”, com a Campanha da Fraternidade, neste tempo de Quaresma! Parafraseando Dom Helder Câmara, num tom poético e profético: “Que eu aprenda afinal, ao menos nesta Quaresma, a cobrir de véus o acidental e efêmero, deixando, em primeiro lugar, apenas o mistério da redenção”. Na contingência da vida, nos versos a seguir: que a vida, nas idas e vindas, infindas, dom e graça, seja, na palavra de Deus, advinda, vivida com mais atrativo; mais poderosa, mais que digna: auspiciosa!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Dom Helder nasceu há 115 anos

Pe. Geovane Saraiva*

Recordar, sim, que Dom Helder Câmara nasceu há 115 anos, aos 07/02/1909, em Fortaleza/CE, e iniciou sua vida no ministério sacerdotal com 22 anos de idade, em profunda sintonia e comunhão com Jesus de Nazaré, pão da Vida, pão descido do céu. Eis um sinal vivo da presença de Deus, com a concretude do Dom da Paz, já no santinho de sua ordenação sacerdotal, na mesma cidade de Fortaleza (15/08/1931), assim se manifestou: “Angelorum esca nutrivisti populum tuum”, que quer dizer: “Teu povo se alimenta do pão do céu”.

Vem à mente o que afirmou Pe. José Comblin, teólogo de saudosa memória, com sua luminosidade fulgurante, sendo seu distintivo peculiar, ao se manifestar no sentido de persuadir, no alargamento da mente e do coração das pessoas de boa vontade, imprimindo o caráter de perene imortalidade de Dom Helder: “Eu sou daqueles que têm a convicção de que os escritos de Dom Helder ainda serão fonte de inspiração na América Latina, daqui a mil anos, ao lançar sementes destinadas a produzir uma messe abundante nesta nova época do cristianismo”.

Conhecido como cidadão planetário, o mundo foi para Dom Helder Câmara campo de ação apostólica, vivendo-a a partir dos seus 27 anos na Cidade Maravilhosa-RJ (1936-1964). Cognominado Artesão da Paz, viveu a ternura e a solidariedade ao lado dos irmãos empobrecidos e, em 1948, na condição de padre jovem no Rio de Janeiro, acreditou ser possível seu sonho por um mundo melhor, ao externar: “Se eu pudesse, sairia povoando de sono e de sonhos as noites mal dormidas dos desesperados”.

Ele, pequeno na estatura, mas grande nos sonhos, nos ideais, era de uma beleza inusitada e incomparável, com aquele corpo franzino, mas que, pela pregação do Evangelho, se via transmutado e agigantado, na esperança utópica por um mundo justo, solidário e de paz. Que o dom maravilhoso do legado de Dom Helder seja percebido como uma mina de ouro a ser explorada, mas naquele seu sólido e incontestável compromisso: o do mundo solidário, reconciliado e pacificado em Deus!

Dom Helder era místico, sim, na exuberância magnífica de sua ação pastoral, identificado com seu povo, e, ao tomar posse, em 1964, como Arcebispo de Olinda e de Recife, no exemplo do Bom Pastor, assim se expressou: “Quem estiver sofrendo, no corpo e na alma; quem, pobre ou rico, estiver desesperado, terá lugar especial no coração do bispo”

Integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Novo céu e nova terra

   Pe. Geovane Saraiva*

O batismo é o primeiro passo da iniciação à vida crista. O batismo é também o nascimento para a vida cristã. Mediante o batismo, homens e mulheres, por serem criaturas humanas, são consagrados como filhos e filhas de Deus, tornando-se templos do Espírito Santo, assim como assegura o apóstolo Paulo: “Pela graça do batismo, que possamos chegar ao estado de homem perfeito à estatura da maturidade de Cristo” (Ef 4, 13). Animados, evidentemente, pela Palavra de Deus, lâmpada para nossos passos e luz para nossas estradas da vida (cf. Sl 15), a Igreja de Deus não para, prosseguindo sua caminhada através da catequese.

A catequese a consideramos uma tarefa abundantemente indispensável e relevante, essencial à vida da comunidade de fé. Em tempos difíceis, vemo-la como um compromisso eclesial neste ano de 2024, o qual se torna enormemente urgente para a Igreja, com sua concretude para nossa Paróquia de Santo Afonso. Daí que acolho, com maior prazer e satisfação, as equipes de catequese, vendo-as como instrumentos da bondade de Deus, no contexto da educação na fé de nossas crianças, jovens e adultos. Que surja, pela catequese, uma consciência sempre e cada vez maior, que nós, criaturas humanas, e a própria Igreja estejamos a caminho para a casa definitiva do Pai.

É importante perceber e acolher a catequese como uma nova etapa, que se inicia com você, querida criança, querido irmão e irmã! É um caminho novo que se abre, mas não sendo igual, incomparável ao anterior, no sentido de que a caminhada redimensionada é, sim, uma feliz ocasião para que a comunidade de fé possa reavaliar sua vida, desafiada a vivenciar sua fé, a qual se traduz em amor: “Deus é amor, e quem permanecer no amor, permanece em Deus e Deus permanece nele” (1Jo, 4, 7ss).

Que seja muito verdadeira sua acolhida, como projeto redentor, que tem como objetivo o do fortalecimento da fé e da esperança. A mente, o coração e os olhos voltam-se na direção do futuro, através da catequese, tendo como fundamento a luz que jamais se extingue, com a humanidade reconciliada e pacificada em Deus. Ficou para trás sua realidade contraditória, agora direcionada para um cenário sagrado e beatífico, longe de choro, tristeza, enfermidade e morte; enfim, será a paz, o novo céu e a nova terra! 

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).