quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Esperança, sim!

 Pe. Geovane Saraiva*

Deus veio ao mundo para conviver conosco e nos revelar sua verdadeira face; ele, riquíssimo que é, “fez-se pobre para nos enriquecer em abundância com sua pobreza”. Maria, criatura toda especial e também simples, humilde e pobre, quer nos acompanhar em 2022, o qual está se iniciando. Convém a todos assimilar o mistério da Mãe de Deus e também o mistério do Natal, como disse São Paulo VI: “O coração do Todo-Poderoso se abre! Por trás da cena do Presépio está a infinita ternura do Criador que ama. Em uma palavra: há infinita bondade. Deus, nos amando, quer tecer uma conversa com os homens, estabelecer relações de familiaridade conosco”.

A Mãe Santíssima quer revelar aquele exemplo inaudito dos reis magos, que, conduzidos pela estrela e iluminados pelo Espírito de Deus, peregrinaram até encontrar o Menino Jesus. É claro que o Deus Menino caminha conosco, não nos permitindo hesitar diante do cansaço da longa e incerta viagem da vida, mas esperançosa, por bondade e graça divina. A manifestação da glória de Deus, como luz das mulheres e dos homens de boa vontade, constata-se no plano salvífico, quando se percorre, na diversidade, o caminho da unidade, na busca da justiça e da paz.

Jamais devemos perder de vista a pequena cidade, aquela do verdadeiro pão, Belém, mas que dela saiu aquele que entrou para a História da humanidade, querendo uma única coisa: a sua restauração. É a graça de Deus a se manifestar como luz aos que se abrem e aceitam acolher o poder redentor de Deus, no reconhecimento de sua glória, no desejo de conquistar um mundo melhor, solidário e de irmãos. Com grande amor pela vida, digamos “sim” ao bom Deus, aguerridos, denodados e com disposição interior, no começo de mais um ano novo! O Ano Novo, na compreensão de que nossa vida consiste num passado, num presente — marcado pelos mesmos riscos e vulnerabilidade da família de Nazaré — e de um futuro (cf. Hb 13, 8).

Que se possa perceber o rosto da humanidade querendo dialogar, contendo nos olhos a fé e a esperança para ver o irmão, mesmo vendo sua face desfigurada, no imperativo de que a vacina agora possa chegar às crianças. Que chegue, sim, sem nenhum obstáculo a contrariar a ordem das coisas! Com os irmãos menores vacinados, sintamo-nos como filhos de Deus e irmãos uns dos outros, mais amparados, mais seguros e mais amados por Deus.

Que o Filho de Deus, que viveu a nossa mesma condição — de gente e criatura humana, dando aqueles mesmos passos, próprios da vida humana, na espera do tempo apropriado à missão —, nos ensine o bom desempenho dessa nossa vida, de acordo com Dom Helder: “Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo (...)”. Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

sábado, 25 de dezembro de 2021

Esperanto: La Kristnaska Paradokso

 Pe. Geovane Saraiva*

Estas multaj maltrankvilaj kaj senpaciencaj homoj, kun la buŝo plena da akvo, pensante pri la bongustaj manĝaĵoj de la kristnaska vespermanĝo. Aliflanke, estas multaj kripoj en la placoj, kaj ankoraŭ aliaj kun viaduktoj kiel tegmento, kie ni vidas malsatajn infanojn kaj malpurajn homojn. Al la senhomaj fratoj ĉirkaŭ nia preĝejo, en Parquelândia, ni ne neas refreŝigan banon, aŭ akvon por kvietigi soifon.

Iam, antaŭ jaroj, mi aŭdis la malriĉulojn plendi kaj priplori, ke "ilia" bona episkopo forlasos la diocezon, en sia 75-a naskiĝtago: "Kiu zorgos pri ni nun?". Kredante je la florado de justeco, garantiante al ni pacon abunde, mi esperas vidi kaj aŭdi, en la nuna tempo, solidarecajn gestojn de niaj episkopoj, “pastroj kaj patroj”, ĉiuj en la sama preĝo kaj samtempe en la sama puto, aŭ fonto, neelĉerpebla kaj senfina, sed bazita sur la maksimo: “Venu, Sinjoro Jesuo!”.

Maria volas instrui nin: Ŝi volas malfermi niajn okulojn, en la aŭdaca senco de la veneno de la serpento, dezirante iri multe preter nia homa kondiĉo, trudante limojn al la sava projekto de Dio, videbla en homa malfideleco; tamen Dio ne rezignas kredi en Siaj kreitaĵoj, kreitaj de Li, kiel en la propono de feliĉo, enkarniĝinta en la plej granda donaco de la ĉielo: Lia Filo, kaj de Maria.

Urĝas, ke ni diri "ne" al fermo kaj spirita blindeco, kiuj fontas el nia manko de solidareco kaj nesentemo al homa doloro, en tiu tiel diversa mondo, kontraŭe al la Dia volo, en la lumeco de kredado, el la neelĉerpebla fonto de Maria. Ŝi volas instrui al ni, ke la vera feliĉo konsistas el kaj superas "doni", plenumiĝante en "atendado", lasante la konduton de ĉio en la manoj de Dio, kiel en la leciono de sia Sankta Patrino, en kohera kaj neriproĉa serĉo, en la okuloj de la fido al la vera vivo.

En kristnaska tempo, ni sendas salutojn kaj preparas donacojn: la bondezirojn estu do pensitaj kaj faritaj kun vera amo, kaj donacoj, kohere, estu faritaj sen atendi esti reciprokataj. Tio ankaŭ helpus al ni vivi Kristnaskon kun ĝojo, ĉar doni alportas pli da ĝojo ol ricevi (kp. Agoj 20,35). Tiel estu!

*Pastro de Santo Afonso, bloganto, ĵurnalisto, verkisto, poeto kaj membro de la Metropola Akademio de Leteroj de Fortalezo (AMLEF)

*El la portugala tradukis esperanten:
Wandemberg Ribeiro Morais.

Um menino nasceu para nós!


Padre Geovane Saraiva*

Na noite do dia 24 de dezembro de 2021, o Menino Jesus, tendo nascido pobre no coração dos seres humanos, foi dormir em paz, de acordo com célebre canção natalina. Já no dia 25, me dispus a encontrar o recém-nascido, que ainda dormia na manjedoura da nossa Igreja de Santo Afonso. Ele dormia de verdade, revelando-nos uma profunda serenidade, ternura e grande paz! Mesmo assim, voltei-me para a estribaria, no sentido de despertá-lo, sem perder a oportunidade de fazer-lhe um pedido: que eu mesmo possa acordar e ajudar a abrir os olhos de muitos irmãos que gostam de dormir.

Ó Senhor, abençoe a todos os que percebem vossa divindade e se sensibilizam, num olhar terno e afável, diante da manjedoura! Ela é sagrada e nos recorda, não só o humilde e vulnerável nascimento da criança de Belém, mas faz-nos elevar aos céus nossos pensamentos, solidários, para multidões enormes de seres humanos que nascem e vivem nas mesmas condições. Nossa esperança está no Emanuel, Deus Conosco, Senhor e Salvador de todos, que vive e reina para todo o sempre!

Fomos criados, pela proposta do nosso bom Deus, para imitar Jesus de Nazaré, tendo seu início no mistério luminoso da verdadeira luz. Acolhamos o anúncio do Anjo do Senhor, na real e radical simplicidade, humildade e ternura da manjedoura. Agradecidos, diante de Deus Menino, coloquemos a nossa vida de mãos elevadas, porque, com Jesus, nascemos para Deus. A esperança e a consolação chegaram para a humanidade, as quais pedem respostas, na nossa acolhida generosa e sensível atenção ao dom maravilhoso da vida, associados ao sim da Mãe de Deus.

Que o ano de 20222, que agora vai se iniciar, tenhamos um espírito de abertura, convidados que fomos a refletir e a pensar na nossa vida, que é dom e graça, a partir da criança de Belém, sem esquecer sua e nossa querida mãe. Enormemente, ela está, de uma maneira muita discreta, em toda parte, na ação salvífica de seu filho redentor, a qual jamais podemos rejeitá-la. Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, Blogueiro, Escritor e integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza

Foto: Padre Geovane Saraiva, vista da estrada na Serra de Baturité -  de Aratuba a Mulungu Ceará





quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

O paradoxo do Natal

 Pe. Geovane Saraiva*

Tem muita gente ansiosa e irrequieta, com água na boca e com o pensamento nas iguarias da ceia de Natal. Por outro lado, são muitos os presépios das praças, também muitos deles encontrando-se amparados pelas sombras dos viadutos, lá embaixo, com crianças aos molambos, ou esfarrapadas, pessoas sujas ou aos trapos. Aos irmãos aqui da Praça da Igreja, na Parquelândia, não lhes negamos um banho nas dependências da paróquia, e nem baldes de água, igualmente eles todos sedentos.

Em uma ocasião, há anos, escutei os empobrecidos se queixando e lamentando por que o “seu” bom bispo ia deixar a diocese, ao completar 75 anos: “O que vai ser de nós?”. Na sólida confiança de que a justiça florirá, com paz em abundância (cf. Sl 71), quero ver e ouvir, hoje, gestos de solidariedade da parte dos bispos, “pastores e pais”, todos na mesma oração e no mesmo poço, ou fonte, inexaurível e interminável, mas a partir da máxima: “Vem, Senhor Jesus!”.

Maria quer nos ensinar, quer abrir nossos olhos, no ousado sentido do veneno da serpente, desejando ir muito além da nossa condição humana, impondo limites ao projeto salvífico de Deus, visível na infidelidade humana, mas que Deus não desiste de acreditar em suas criaturas, por ele criadas, como na proposta de felicidade, encarnada na maior dádiva do céu: seu Filho, na anuência de Maria.

Urge dizer um não ao fechamento e à cegueira espiritual, que têm como origem nossa falta de solidariedade e insensibilidade à dor humana, num mundo tão diverso, contrariando-se diante da vontade de Deus, na luminosidade do acreditar, a partir da nascente cabeceira, ou manancial, inesgotável de Maria. Ela quer nos ensinar que a verdadeira felicidade consiste, além da doação, em esperar, deixando a condução para Deus, como na lição de sua Santa Mãe, na busca coerente e irrepreensível, aos olhos da fé na verdadeira vida.

Neste tempo de Natal, enviamos saudações ou preparamos presentes: os melhores desejos devem ser pensados e feitos com amor verdadeiro, e os presentes devem ser feitos sem esperar que sejam retribuídos. Isso também nos ajudaria a viver o Natal com alegria, porque há mais alegria em dar do que em receber (cf. At 20, 35). Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Esperança, ao sair das cinzas

 Pe. Geovane Saraiva*

Diante da escuridão dos corações humanos, armados, querendo rechaçar a luz ou mesmo dominá-la, que resplandeça a esperança no Sol da justiça, a partir do apóstolo Paulo, ao se encontrar com a luz do Senhor, que se apoderou dele no luminoso caminho para Damasco (cf. At 9, 3). Pela fé, todos os crentes podem perceber em seus corações a luz a fluir e emanar de Cristo. Paulo compara essa iluminação à do primeiro dia da criação, mas em Jesus de Nazaré, filho de Maria e do carpinteiro José, cogitando, evidentemente, desmanchar a montanha da falta de esperança, do orgulho, do egoísmo que está dentro de nós, contrapondo os dois reinos, o da luz e o das trevas, com suas respectivas armas e ações, para recomendar sempre a permanência da luz genuína e verdadeira (cf. Rm 13, 11).

A bela imagem de Cristo Salvador, apresentada como o cumprimento das prometidas profecias como luz do Senhor ao mundo, realiza-se na profecia de Isaías (cf. Mt 4, 16), e também em Zacarias, imagem essa anunciada como o Sol que do alto ilumina (cf. Lc 1, 78). Só mesmo no amparo de tão visível simbologia, de paz, justiça e da afável ternura, indo ao interior do coração das pessoas, querendo entrar na frágil existência humana. Ele, o Sol nascente, quer que plantemos boas sementes no mundo, aquelas compreendidas em profundidade por Dom Helder Câmara.

Os olhos dos homens estão obscurecidos pelo egoísmo violento do ódio, pelo pecado, pelos estímulos mundanos que os envolvem. Cristo veio para aclarar e acrisolar o horizonte do homem e abrir-lhe o caminho da salvação, por isso sua ação é um confronto com as trevas que cercam o homem e o mundo (cf. Jo 12, 46). Devemos plantar boas sementes neste Natal, mas quais sementes? Sementes de paz, amor e compreensão, do não ao egoísmo, de um ambiente leve, com bons e construtivos olhares, e de um coração fértil, grande e largo. Numa palavra: sementes de esperança.

São João, no seu Evangelho, apresenta Cristo como a luz que ilumina todos os homens (cf. Jo 1, 9). Ele coloca na própria boca de Cristo as palavras: "Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas" (cf. Jo 8, 12). Neste tempo de Advento e Natal, inspirados na profecia do nosso Isaías, ou Zacarias, brasileiro, Dom Helder Câmara, que possamos aprender com nossa boa gente da Parquelândia, sem esquecer das crianças da Infância e Adolescência Missionária e do Projeto Dom Helder, Arte e Missão de nossa Paróquia de Santo Afonso, "meninos e adolescentes maluquinhos da Auristela", saindo das cinzas neste tempo de pandemia.

Que o bom Deus, que faz arder e brilhar os corações da nossa gente, na condição de pessoas de fé como filhos da luz (cf. Lc 16, 8), nos inspire a olhar para a árvore de Natal, indo além do razoável, no desejo de se chegar ao essencial, ao menino pobre da manjedoura, no mesmo questionamento: "Quais sementes desejo espalhar pela terra? Sementes de paz, amor, compreensão e esperança. Há tanto desespero, desengano, decepção, frustração e desesperança! Sementes de esperança, sem dúvida, chegariam em boa hora". Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

Oração do Papa Francisco pelo fim da pandemia

 

Papa Francisco e Cristo Rei

VINCENZO PINTO | AFP

Reportagem local - publicado em 15/12/21

"Mãe de Deus e nossa Mãe, implora para nós, de Deus, Pai de misericórdia, que esta dura prova termine e que volte um horizonte de esperança e de paz"

O Papa Francisco havia confiado a humanidade às mãos de Maria, “nossa santa Mãe”, diante dos sofrimentos em decorrência da pandemia.

Num momento em que ainda há preocupações com variantes do novo coronavírus, recordemos a oração que o Papa rezou pelo fim da pandemia, em maio de 2021, na Capela Gregoriana, na Basílica de São Pedro.

Oração

Sob a tua proteção procuramos refúgio, Santa Mãe de Deus. Na presente situação dramática, cheia de sofrimentos e de angústias que afligem o mundo inteiro, recorremos a Ti, Mãe de Deus e nossa Mãe, e procuramos refúgio sob a tua proteção.

Ó Virgem Maria, dirige a nós o teu olhar misericordioso nesta pandemia do coronavírus, e conforta aqueles que estão desorientados e que choram os seus entes queridos falecidos, por vezes enterrados de um modo que fere a alma. Sustém quantos estão angustiados pelas pessoas doentes das quais, para evitar o contágio, não podem estar próximos. Instila confiança naqueles que estão ansiosos pelo futuro incerto e pelas consequências sobre a economia e o trabalho.

Mãe de Deus e nossa Mãe, implora para nós, de Deus, Pai de misericórdia, que esta dura prova termine e que volte um horizonte de esperança e de paz. Como em Caná, intercede junto do teu divino Filho, pedindo-lhe que conforte as famílias dos doentes e das vítimas, e abra o seu coração à confiança.

Protege os médicos, os enfermeiros, os profissionais da saúde e os voluntários que, neste período de emergência, estão na linha da frente e arriscam a própria vida para salvar outras vidas. Acompanha os seus esforços heroicos e dá-lhes força, bondade e saúde.

Permanece perto daqueles que, noite e dia, assistem os doentes e dos sacerdotes que, com solicitude pastoral e esforço evangélico, procuram ajudar e apoiar todos.

Virgem Santa, ilumina a mente dos homens e das mulheres de ciência, a fim de que encontrem soluções justas para derrotar este vírus. Assiste os responsáveis das Nações para que trabalhem com sabedoria, solicitude e generosidade, socorrendo quantos não têm o necessário para viver, programando soluções sociais e económicas com clarividência e espírito de solidariedade.

Maria Santíssima, toca as consciências a fim de que as enormes somas utilizadas para aumentar e aperfeiçoar os armamentos sejam, ao contrário, destinadas a promover estudos adequados para evitar catástrofes semelhantes no futuro.

Amadíssima Mãe, faz crescer no mundo o sentido de pertença a uma única grande família, na consciência do vínculo que nos une a todos para que, com espírito fraternal e solidário, possamos ir em auxílio de muitas situações de pobreza e de miséria. Encoraja a firmeza da fé, a perseverança no serviço e a constância na oração.

Ó Maria, consoladora dos aflitos, abraça todos os teus filhos atribulados e obtém que Deus intervenha com a sua mão toda-poderosa para nos libertar desta terrível epidemia, a fim de que a vida retome com serenidade o seu curso normal. Confiamo-nos a Ti, que brilhas no nosso caminho como sinal de salvação e de esperança.

Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria, guia os passos dos teus peregrinos que desejam rezar a Ti e amar-te nos Santuários que te são dedicados no mundo inteiro, sob os mais variados títulos que evocam a tua intercessão. Sê uma guia segura para todos. Amém!

https://pt.aleteia.org/2021/12/15/oracao-do-papa-francisco-pelo-fim-da-pandemia/#

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Os maluquinhos da Auristela

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Padre Geovane Saraiva*
Jesus, filho de Maria de Nazaré e do carpinteiro José, querendo, evidentemente, desmanchar a montanha da falta de esperança, do orgulho, do egoísmo que está dentro de nós, amparado pela tão visível simbologia do manto da paz, da justiça e da afável ternura, fala ao interior do coração das pessoas, querendo entrar na frágil existência humana. Ele quer que plantemos boas sementes no mundo. Mas quais sementes? Sementes de paz, amor e compreensão, do não ao egoísmo, de um ambiente leve, com bons e construtivos olhares e de um coração fértil, grande e largo. Numa palavra: sementes de esperança.

O Verbo de Deus, que se encarnou e veio se estabelecer entre nós (cf. Jo 1, 14), quer que nos coloquemos à sua disposição como seus generosos colaboradores, mas num ardente desejo de edificar seu projeto de amor, afastando-nos da intolerância, do preconceito e do ódio. Dom Helder Câmara nos ensina o sentido da verdadeira e autêntica fraternidade. Quando resolvemos buscar a referida e tão sonhada esperança, na fé a nós ensinada de que Deus é Pai de todos e que, vivendo a vida de irmãos, não nos afastaremos da promessa divina: de a terra se transformar em céu e de o céu se transformar em terra.

Na contemplação do mistério da encarnação, do Deus pequeno da estribaria de Belém, na expectativa de sua chegada, evidentemente, não de braços cruzados, sou levado a pensar e ao mesmo tempo a colocar diante dos olhos a imagem do Menino Maluquinho, de Ziraldo Alves, com quem Dom Helder tão profundamente se identificou e, abraçando-a com a força do seu vigor e de seus sonhos, com sua vida fecunda e seu inquestionável legado para a humanidade, de dom e graça, a partir da Feira da Providência em 1961, na cidade do Rio de Janeiro, ensina-nos a plantar, convenhamos, a boa semente: a esperançosa semente de que um mundo melhor é possível.

É por isso mesmo que neste Tempo do Advento, inspirados na profecia de Dom Helder Câmara, possamos aprender com as crianças da Infância e Adolescência Missionária e do Projeto Dom Helder, Arte e Missão de nossa Paróquia de Santo Afonso, "meninos e adolescentes maluquinhos da Auristela". Eles, a partir do olhar mais razoável para a árvore de Natal, chegam ao essencial, ao menino pobre da manjedoura, no mesmo questionamento: "Quais sementes desejo espalhar pela terra? Sementes de paz, amor, compreensão e esperança. Há tanto desespero, desengano, decepção, frustração e desesperança! Sementes de esperança, sem dúvida, chegariam em boa hora". Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, Jornalista, Blogueiro, Escritor e Colunista, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza - geovanesaraiva@gmail.com
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terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Dom Helder, no contexto dos Direitos Humanos

 Pe. Geovane Saraiva*

Dom Helder, no contexto dos Direitos Humanos, nos ensina o valor da oração, na sua humilde e simples súplica aos céus, ao apontar para um infinito de liberdade, no sonho da criatura humana integralmente livre, no compromisso por uma habitação harmoniosamente na presença de um Deus afável e amoroso. Da parte das pessoas, nada de se extasiar, quando se deparam com aparências, na maioria das vezes superficiais, enganosas e ilusórias. Viver, sim, mas acreditando no bem como condição elevada e suprema, a partir do mistério do grão ou da semente que nasce e cresce, mas que necessita da luminosidade incalculável, da luz aquecedora, germinadora do Sol, que, alegoricamente, resume-se na esperança, com seu fundamento em Deus. “Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. Tirou das turbulências, das lamas do pântano, de todo tipo de obscurantismo, e pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos” (cf. Sl 40).

Pe. Geovane Saraiva com Dom Helder,
na Catedral de Brasília, 30/06/1980,
esperando São João Paulo II.
O Dia Universal dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, nos faz voltar para Dom Helder Câmara: “Quem estiver sofrendo no corpo e na alma; quem, pobre ou rico, estiver desesperado terá lugar especial no coração do bispo”. O Brasil e o mundo conheceram um Dom Helder sendo porta-voz dos injustiçados e dos empobrecidos, nas suas posições em favor de um mundo mais de acordo com a vontade de Deus, fraterno e solidário, numa Igreja encarnada, pobre e servidora. Conhecemos um Dom Helder na sua bravura e audácia, no respeito pelas pessoas e cheio de amor para com os sofredores, totalmente identificado com os Direitos Humanos.

A ninguém pode ser negada a liberdade fundamental, oriunda de Deus, apropriando-se de Dom Helder, pastor da paz e da ternura, que se sentia honrado quando, com inveja do seu protagonismo, o acusavam de utópico e sonhador, porque ele se aproximava do “cavaleiro andante”; e dizia-lhes com muita habilidade, segurança e convicção: “Comparar-me a Dom Quixote está longe de ser uma nota depreciativa”. E acrescentava-lhes: “Ai do mundo se não fosse a utopia, ai do mundo se não fossem os sonhadores”. Dom Helder, no Dia dos Direitos Humanos, nos convence do poder de Deus, eliminando todo tipo de sujeição, como no episódio da viúva de Naim: “Ao chegar perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto a ser sepultado, filho único de uma viúva; acompanhava-a muita gente da cidade. Vendo-a o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: 'Não chores!'” (cf. Lc 7, 11-13). 

Como é maravilhoso, no Dia Universal dos Direitos Humanos, indignados num sentimento, não de choro, mas numa promissora esperança, recordar o Patrono dos Direitos Humanos! Aqui alguns dos seus sapientes pensamentos: “Mesmo que a maior angústia te visite e te acompanhe, não te deixes que ela reflita em teu rosto”; “O mundo agitado e triste precisa que leves contigo tua paz e tua alegria”; “Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo”; “Feliz de quem atravessa a vida tendo mil razões para viver”; “Tenho pena, Senhor, dos sem abrigo, e mais pena ainda dos instalados, dos enraizados, que fizeram da terra morada permanente”. Recordá-lo, sim, como um referencial, arquétipo e irmão exemplar, no compromisso pela vida, dom e graça de Deus.

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

O clamor de Deus no Advento

 Pe. Geovane saraiva*

Foto: Pe. Geovane Saraiva
Sítio Brejo-Aratuba-CE, 
1º/12/2021.

O nascimento de uma criança, sobretudo de um filho homem, era para os israelitas um motivo de júbilo e alegria. O Primogênito ou Unigênito do Pai quer nascer, num clima auspicioso e promissor, em cada criatura humana, revestido da força do alto, convidando-nos neste tempo do Advento a nos voltarmos para o mistério de Deus, o mais elevado, que nos fala através de sua palavra salvífica, a qual quer revelar os caminhos divinos, exortando-nos a uma permanente vigilância.

O Natal é a grande festa da solidariedade de Deus para com a humanidade, já que vem um Salvador, no desejo de nos livrar do pecado e da morte. A Igreja também fala neste tempo concreto da história sobre a importância do serviço humanitário e solidário, vivamente presente entre os fiéis, seguidores de Jesus de Nazaré, sendo sua razão de ser no dom maior, unidos ao Papa Francisco: “No mundo atual, onde milhões de crianças e famílias vivem em condições desumanas, o dinheiro gasto e as fortunas obtidas no fabrico, manutenção e venda de armas, cada vez mais destrutivas, são um atentado contínuo que brada ao céu”.

Que na nossa preparação para o Natal do Senhor, ocasião para bem interiorizarmos a encarnação da salvação no mundo, em que estamos inseridos, deixemo-nos guiar pela luz do Salvador, que, segundo Santo Afonso Maria de Ligório, desceu das estrelas. Aquela criança, como as demais, depois de nascer na humilde manjedoura, foi envolvida em faixas (cf. Lc 2, 7). Oxalá, saibamos ouvir a voz de Deus, de não fechar o nosso coração, para que, no exemplo do mistério maior neste Advento, no nosso diálogo ou no encontro do céu com a terra, mas abismado, no desejo de que seja sempre mais reentrante e estreitado.

Caminhamos, na penumbra da fé, ao encontro da procedente “troca de dons entre o céu e a terra”, dentro de um ambiente nem sempre favorável, mas compreendido, no aviso divino, sempre renovado por mim, mas que nosso propósito didático chegue aos bons assimiladores, no recado de Dom Helder Câmara: “Quando houver contraste entre a tua alegria e um céu cinzento, ou entre a tua tristeza e um céu em festa, bendiz o desencontro, que é um aviso divino de que o mundo não começa e nem acaba em ti”.

Pasmados pelo mistério do Natal do Senhor, que nossas estradas sejam iluminadas, tendo, diante dos olhos e do coração, na mais cristalina compreensão, aquela máxima do profeta Isaías: “Acontecerá, nos últimos tempos, que o monte da casa do Senhor estará estabelecido no ponto mais elevado das montanhas e reinará nas colinas” (Is 2, 2). Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).