quarta-feira, 1 de maio de 2013

O retorno de Ratzinger, dois papas no Vaticano

Por Paolo Rodari

Os dois irão se encontrar? Bergoglio, quando sentir a necessidade disso, irá deixar a residência de Santa Marta para ir para o outro lado dos jardins vaticanos para encontrar o seu antecessor? É difícil responder. O que é certo é que uma certa colaboração entre os dois já começou, ao menos no plano teológico. 

De fato, assim como Ratzinger escreveu a sua primeira encíclica, a Deus caritas est, no Natal de 2005, remodelando um texto sobre o qual o seu antecessor, João Paulo II, já estava trabalhando, assim também o Papa Francisco poderia logo entregar à imprensa – diz-se até no próximo outono europeu – a sua primeira carta encíclica, intervindo em um esboço dedicado ao tema da fé que Bento XVI lhe entregou durante o seu último encontro ocorrido em Castel Gandolfo no dia 23 de março. 

Se a publicação ocorrer, poderia ser o início de uma colaboração, ainda que discreta, também sobre outras questões. Ratzinger, de fato, do Mater Ecclesiae, estará bem preparado para dar conselhos até mesmo teológicos ao seu sucessor.

O "esboço Ratzinger" dessa nova encíclica, um texto de cerca de 30-40 pastas, teve uma gênese meteórica. Em outubro passado, Bento XVI, abrindo um ano dedicado à fé, pediu que o escritório doutrinal do ex-Santo Ofício trabalhasse em um primeiro esboço que tivesse no centro o tema da fé à luz das suas intervenções a esse respeito, não somente os textos papais, mas também os livros, acima de tudo o livro de 1968 Introdução ao Cristianismo.

Os teólogos vaticanos, depois de algumas semanas, lhe enviaram um texto que ele enviou de volta, pedindo mais trabalho. O segundo esboço lhe foi entregue cerca de um mês antes do anúncio da renúncia ao sólio de Pedro. Ratzinger o manteve consigo, para depois entregá-lo a Bergoglio, dizendo-lhe para decidir o que fazer com ele. Dizem do outro lado do Tibre: "O texto está completo. Doutrinariamente é impecável e bem feito".

A fé foi o tema principal do pontificado de Ratzinger. "Onde Deus está, lá há futuro", foi não por acaso o título que ele quis dar à sua terceira visita à Alemanha em 2011. O programa do pontificado tinha em seu centro a tentativa de reaproximar as pessoas a Deus. Mas o desafio dizia e diz respeito também à Igreja, na consciência mais de uma vez explicitada de que a crise profunda da Igreja hoje "é uma crise de fé". 

Acima de tudo, foi a Igreja que perdeu a bússola, quase não conhecendo mais o ABC da fé. Por isso um ano dedicado ao tema. E por isso uma encíclica agora nas mãos de Bergoglio que, depois de um discurso seu, poderia torná-la pública.
La Repubblica

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