terça-feira, 30 de julho de 2013

Mudanças e arrumações

Carlos Alenquer

Velhas frases e desculpas. Mudar de endereço é uma tarefa constrangedora. Primeiro, por tirar você daquele cantinho ao qual estava acostumado; por negar, a partir do momento em que se instala no novo quarto, o barulho do ônibus passando na avenida lá embaixo; e até o do caminhão noturno com o grito animado dos lixeiros que tentam deixar a cidade limpa, embora a má educação dos moradores que embalam com displiscência os sacos e deixam garrafas quebradas ao pé das árvores.

Segundo, porque você vê, ao arrumar os livros, que tem aquele exemplar, gentilmente oferecido pelo amigo, perdido no meio de dicionários em vez de estar na seção devida – razão pela qual ficou sumido durante seis meses e fez com que, nas vezes em que o autor pediu sua opinião sobre o romance, mentisse descaradamente, pondo a culpa na diarista que foi espanar a estante e misturou poesia com ensaios, história com ficção e outras que tais.



Finalmente, porque é incômodo encontrar um livro de crônicas de Antônio Maria, também sumido, e descobrir nele anotações (quem teria lido isso, por pura curiosidade?), feitas com indicações gráficas comprometedoras, contando certos segredos que numa época faziam sentido – e talvez ainda façam.


Que nem esta frase, marcada escandalosamente em amarelo, grifos azuis e setas vermelhas: “Há uma briga que data não sei de quando entre o homem e a mulher. Briga que só o amor desfaz”. [30/jul/2013]

Heróis e heroínas. O que fazem nossas estrelas hollyoodianas quando não participam dos blockbusters que arrasam quarteirões, corações e mentes, com roteiros improváveis mas coerentes, histórias exageradas mas nos limites do que pode a nossa vã filosofia cinematográfica? Ficam isolados em suas mansões de Beverly Hills, promovendo orgias, enquanto aguardam algum produtor famoso convidá-las a participar em mais um filme de sucesso? Ou vão participar do prograqma da Oprah Winffrey, contando como estão felizes com seu último casamento?

Antes da TV a cabo, não sabíamos o que acontecia. Agora sabemos. E o que acontece é o seguinte: como os canais ficam 24h no ar, mostrando rigorosamente todos os filmes produzidos em L. A., fica impossível fazer uma seleção decente do que é mostrado aos telespectadores.


Exemplo que está no ar a qualquer hora do dia ou da noite: o queridinho George Clooney vivendo um bandido silencioso e solitário (The American/Um Homem Misterioso) que cumpre um roteiro óbvio durante umas duas horas, dividindo seu tempo entre o pároco local e a prostituta mais bonita do pedaço.


Ou seja: nos intervalos das grandes e rendosas produções, o pessoal faz mesmo é um bico pra pagar as mordomias, o aluguel de limusines e as festas, mesmo familiares, à beira da piscina. É o que especialistas na chamada sétima arte se negam a chamar de cinema – mas de entretenimento. [29/jul/2013]


Carimbo na faixa. Fez bem o Cuca em colocar o mistão em campo para enfrentar o Cruzeiro na semana do título da  Libertadores. Fosse o time principal, e o vexame seria maior. De qualquer forma, não há como fugir da goleada. É água que não acaba mais no chope preto-branco. [29/jul/2013]
Carlos Alenquer começou como jornalista (repórter e redator de rádios e jornais) em Fortaleza, depois no Rio e em Belo Horizonte. Migrou para a propaganda, mas continuou colaborando em vários jornais e revistas. Tem dois livros publicados: Anúncios (Achiamé, Rio) e 21 Poemas (Mazza, BH).
Dom Total

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