Benigna Cardoso poderá ser a primeira beata cearense, após reconhecimento do Vaticano
Em Santa na do Cariri, há um constante movimento de romeiros, que aumenta a cada momento com os relatos de graças alcançadas fotos: elizângela santos
A entrega da documentação no Vaticano está marcada para o dia 7 de outubro, e será realizada pelo bispo diocesano, dom Fernando Panico, e o postulante da causa de Benigna, pela Diocese, o monsenhor italiano, Vitaliano Mattioli. A farta documentação, que poderá chegar a mais de 300 páginas, traduzidas para o latim e italiano, será avaliada por duas comissões, uma formada por cardeais e a outra histórica. Para o postulante, esse processo de análise não irá durar menos de um ano, ou até um ano e meio, por conta dos detalhes técnicos, minuciosos, que devem ser vistos.
Após a aceitação da causa da menina mártir, agora "serva de Deus", aumenta a devoção e as orações são constantes pela beatificação. Em Santana do Cariri, as visitas têm sido maiores na própria paróquia de Nossa Senhora Sant´Ana, onde estão sepultados os restos mortais de Benigna, que passaram por autópsia ano passado, um dos passos de comprovação da sua existência, diante do processo, aliando aos depoimentos dos seus contemporâneos. A adolescente ainda possui irmãs de criação, na cidade, que aguardam com expectativa a beatificação da menina que consideram santa.
Detalhes
Numa capela localizada no município, a imagem da jovem mártir é reverenciada a partir de um retrato falado descrito por pessoas contemporâneas
O trabalho de mais dois anos, em que foram reunidos diversos documentos, inclusive dos testemunhos dos milagres, foi desenvolvido por meio de uma comissão diocesana. Em Roma, será escolhido um novo postulante pelo bispo diocesano, para acompanhar o processo, já que ele deve residir no local.
Um dos integrantes do grupo é Sandro Cidrão. Ele escreveu sobre Benigna e chamou a atenção o caso da menina, que ainda hoje tem sido alvo de curiosidade por parte de estrangeiros. Segundo o chanceler da Cúria Diocesana, Armando Rafael, são recebidas cartas de forma constante de países como a Itália, pedindo mais esclarecimentos sobre a história da mártir.
Pelo menos dois aspectos são considerados relevantes para a análise do caso da menina mártir. Um deles, é com a sua condição de heroína em defesa de suas virtudes e da castidade. A outra é relacionada a sua condição de pureza. Após essa análise, o processo será encaminhado para a assinatura do papa, para a posterior beatificação.
O monsenhor classifica esse trabalho por parte do Vaticano, como extremamente técnico, em que se necessita atender a muitos critérios técnicos. No último sábado, durante praticamente o dia inteiro, todos esses detalhes foram avaliados, para o fechamento dos trabalhos em setembro. Ele disse que ainda falta incluir apenas um depoimento e concluir a tradução do documento, entre outros aspectos.
Mais informações:
Paróquia Senhora Sant´Ana
Rua Padre Cristiano, 304
Centro
Santana do Cariri
Telefone (88) 3545.1485
Processo de Padre Ibiapina tramita há mais de 20 anos
Imagens e lembranças do sacerdote são recorrentes em Sobral, onde demonstrou novos sentidos para missão evangélica e caridade para os desvalidos
De acordo com o Bispo de Sobral, Dom Odelir José Magri, foi o padre Francisco Sadoc de Araújo o primeiro a encaminhar o pedido de beatificação para o Vaticano. Dom Odelir explica que o primeiro processo está parado há dois ou três anos, primeiro porque o procurador da Diocese de Guarabira havia falecido, e depois porque haviam alguns critérios dentro do processo que não estavam de acordo com a burocracia da Santa Sé.
Falecido em 1883, ele deixou poucos escritos: somente algumas anotações e cartas segundo o Padre José Comblin. "Sabemos alguma coisa além disso graças às anotações feitas por irmãos e irmãs que o acompanhavam nas viagens missionárias e deixaram descrições de certos episódios".
Natural de Ibiapina, Município de Sobral, Padre Ibiapina perdeu o pai e o irmão aos 19 anos de idade, na repressão que seguiu a revolução de 1824. Segundo o Padre José Comblin, Antônio se preparava para o sacerdócio no Seminário de Olinda, mas teve de assumir os seus irmãos mais jovens. Depois voltou para Recife, quando na primeira turma da faculdade de Direito fundada em 1828 em Olinda e se formou na primeira turma de bacharéis do Brasil.
Lecionou por um ano e voltou para o Ceará. Foi nomeado juiz de direito e chefe da polícia em Quixeramobim. Em 1833 foi eleito deputado geral para representar o Ceará na Assembleia Geral no Rio de Janeiro. "Não aceitou um segundo mandato", conta Comblin. Voltou para Recife. Exerceu a advocacia de 1838 a 1850, primeiro na Paraíba e depois, durante dez anos, no Recife, onde adquiriu a fama de defensor dos pobres e abandonados. Em 1853 foi-lhe oferecido o sacerdócio e aceitou.
Depois de dois anos decidiu abandonar a cidade e ir para o interior, dedicando-se à evangelização do sertão. Entre 1855 e 1875, dedicou-se a pregar missões para o povo sertanejo. Percorreu os Estados de Pernambuco, Paraíba, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte. A partir de 1875 ficou paralítico e não pôde mais deixar a Casa de Santa Fé de Arara, onde tinha estabelecido o centro de sua vida missionária. Um dos objetivos do padre era promover obras materiais que ajudassem o povo do interior. "Naquele tempo os poderes públicos inexistiam no interior. Os sertanejos estavam isolados demais para poder tomar iniciativas".
Por ocasião das missões, conseguiu mobilizar milhares de trabalhadores para construir 22 Casas de Caridade, vários hospitais, cemitérios, várias igrejas. "As Casas de Caridade destinavam-se a recolher órfãos. Mas, ao mesmo tempo, passaram também a ser escolas, hospitais, centros de assistência para toda a redondeza. Na Casa de Caridade de Santa Fé chegaram a morar 200 pessoas".
Para Comblin, não se entende evangelização sem essa integração do material e do espiritual. Os documentos da Igreja são muito explícitos. Não se toleraria mais uma evangelização que não fosse também uma promoção humana.
ELIZÂNGELA SANTOSREPÓRTER
Diário do Nordeste
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