(Foto: Arquivo) |
Jorge Fernando dos Santos
Valeu a briga! Digo isso ao ver os resultados do Concurso Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte, edição 2012. Trata-se do mais antigo concurso literário do país, criado pelo prefeito Adalberto Ferraz em 1947 para comemorar o cinquentenário de BH. Concurso este que chegou a ser extinto pela Fundação Municipal de Cultura, na gestão passada, tendo voltado à cena depois de uma grande mobilização de escritores e intelectuais mineiros.
Foram inscritas um total de 1.712 obras nas categorias romance, poesia, dramaturgia e conto. “Um recorde” – reconhecem os organizadores, que receberam textos de várias partes do país e também do exterior. Isso com certeza coloca Belo Horizonte no roteiro dos grandes prêmios literários da América do Sul. Afinal, cada vencedor receberá a quantia de R$ 50 mil, totalizando R$ 200 mil.
Imodestamente – ao lado do teatrólogo Pedro Paulo Cava, do conselheiro municipal de cultura Aníbal Macedo e dos autores do Coletivo 21 – fui um dos que mais brigaram pela continuação do concurso. Além de honrar a tradição de nossa cidade como berço de grandes escritores, esse tipo de evento tem sido um dos poucos mecanismos oficiais de estímulo à criação literária, revelando e consolidando talentos.
Romance premiado
Por ironia ou recompensa, acabei ganhando menção honrosa na categoria romance com o livro “Condomínio Solidão” – história fictícia ambientada no Conjunto JK. O premiado nessa categoria foi João Batista Melo, com “Malditas Fronteiras”. Trata-se de um craque da escrita e nossas biografias se entrelaçam em certo momento de nossas trajetórias.
Quando fui assessor de comunicação na antiga Associação dos Economiários Federais de Minas Gerais (AEF-MG), no início da década de 1980, eu editava o Nosso Jornal e sempre pedia a ele e ao hoje acadêmico Antenor Pimenta – ambos funcionários da Caixa – que enviassem seus contos para o suplemento literário que tive a oportunidade de encartar no referido house organ.
Em 1989 João Batista e eu ganhamos o Prêmio Guimarães Rosa (ou Prêmio Minas de Cultura), ele com o livro de contos “O Inventor de Estrelas” (para o qual consegui uma editora posteriormente), eu com o romance “Palmeira Seca”, que se tornaria minha obra mais conhecida.
Cinco anos depois, ele ganharia o Concurso Cidade de Belo Horizonte e o Prêmio de Contos do Paraná com a coletânea “As Baleias do Saguenay”. Portanto, trata-se de um grande escritor e embora menções honrosas pouco acrescentem ao currículo literário, o fato é que perdi o primeiro lugar para alguém que admiro e isso só reforça minha confiança nos jurados.
Demais categorias
Na categoria poesia, a vencedora foi Mônica de Aquino (de BH), com a obra “Fundo Falso”. Nessa categoria foram escolhidas duas menções honrosas, para os trabalhos “Signiliquidificador”, de Carlos José dos Santos Linhares (também de BH), e “Haicais simplesmente”, do paulista Magnos Augusto Baeta Castanheira.
Na categoria dramaturgia – que voltou a figurar no concurso – o prêmio ficou com o carioca Vinicius Jatobá, com a peça “Primeiro Amor”. O júri decidiu conceder três menções honrosas, para “Sinfonia Infernal”, de Rui Werneck Capistrano (Curitiba); “Da mais bela que tive”, de Daniele Cordeiro da Veiga (São Paulo); e “Segundo Jesus Caverá”, de Alexandre Alderete Alves (natural de Alegrete, RS).
Os contistas premiados foram Paulo Roberto Assis Paniago e Paulo Renato Souza Cunha (ambos de Brasília), com a obra “Quando Termina”, escrita a quatro mãos. A coletânea “A Face Serena”, da paraibana Maria Valéria de Rezende, recebeu menção honrosa. Na categoria romance, a segunda menção honrosa ficou com o carioca Ruy Reis Tapioca, autor de “Personae”.
O corpo de jurados foi formado por Leila Mícollis, Sérgio Alcides e Edmilson de Almeida Pereira (poesia); Ronaldo Correia de Brito, Marina Viana e Eduardo da Luz Moreira (dramaturgia); Francisco Carlos Lopes, Isabela Marcatti e Jaime Prado Gouvêa (conto); Maria Esther Maciel, Regina Dalcastagnè e Samuel León (romance). A entrega dos prêmios ainda não foi agendada.
Jorge Fernando dos Santos Jornalista, escritor e compositor, tem 40 livros publicados, entre eles as novelas Palmeira Seca, Sumidouro das Almas e 'Primavera dos Mortos', todos pela Atual Editora
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