(Foto: AFP) |
O teólogo alegra-se com a escolha do nome do Papa. Cada nome de algum Papa do passado carrega o peso da história do antecessor. Bento XVI vinculou-se muito a Bento XV, papa extremamente europeu.O nome Francisco I rompe com tal tradição. Gesto original, simbólico. Sem especificação, o pensamento dirige-se primeiro ao santo de Assis. Lá o novo Papa busca inspiração para a vida de pontífice, confirmando teor de vida simples que já vinha levando como bispo e cardeal de Buenos Aires.
Esse nome faz-nos esperar que ele cumprirá a missão de fazer a Igreja católica mais parecida com o santo de Assis, que, por sua vez, na simplicidade e pobreza, seguia a Jesus Cristo, o pobre de Nazaré. Na linha da simplicidade e pobreza pessoal de vida, ele exprime desejo de renovação na Igreja. Mais: tal teor de vida o aproximou da vida dos pobres em Buenos Aires. Aquilo que começou lá como arcebispo tem agora chance de prosseguir em nível amplo de toda Igreja. A proximidade com os pobres possui força enorme de conversão. João XXIII sonhou com o Concílio Vaticano II encarrilhar a Igreja na direção dos pobres. Apenas conseguiu. Agora surgiu a ocasião de Francisco realizar os desejos de João XXIII. Não passou despercebido outro gesto simbólico no momento em que aparece diante da multidão na Praça da São Pedro. Inclina-se, pede que rezem por ele e que o abençoem. E só depois ele mesmo abençoa o povo. A primeira bênção que ele recebeu veio da multidão dos fieis, que em noite de chuva, ali esperava para vê-lo e saudá-lo.
Os gestos simbólicos lançam luzes de esperança. E no momento do início de pontificado, não cabe vasculhar o passado atrás de sombras e deitá-las sobre a imagem do Papa, mas antes de acreditar, como no caso do primeiro Papa Pedro, na confissão de amor. Certamente soa no coração de Francisco I as frases do apóstolo: Senhor, tu sabes que eu te amo! Esse amor por Jesus histórico no seguimento, cerne da espiritualidade inaciana, marcou-o desde o noviciado. Nos Exercícios Espirituais, Santo Inácio faz girar a vida espiritual em torno do seguimento de Jesus. Isso ele terá assimilado nos longos anos que viveu na Companhia de Jesus antes de ser nomeado bispo e depois cardeal arcebispo de Buenos Aires.
Havia no ar, depois de termos tido um Papa teólogo, intelectual, acadêmico de Universidade alemã com o rigor de pensamento, o desejo de que viesse alguém de cunho profundamente pastoral. E o fato de ter vivido na Argentina dos dias de hoje ter-lhe-á proporcionado a experiência de ver como um país que antes vivia teor de existência equilibrado, estilo classe média, decai grandemente e gera massas de pobres a amontoarem as periferias por obra do sistema capitalista neoliberal. Conheceu de perto a triste figura das grandes cidades latino-americanas e assim adquiriu conhecimento e compreensão do mundo dos pobres. Falará dele não por informação acadêmica, mas a partir da experiência vivida no cotidiano. Não lhe cabem adjetivos de conservador ou de tradicional. Vale mais dizer que lhe habitam o coração vivências que o aproximam dos pobres. E daí haurirá luzes e força pela presença do Espírito para ajudar a Igreja no caminho em direção aos pobres.
João Batista Libânio é teólogo jesuíta. Licenciado em Teologia em Frankfurt (Alemanha) e doutorado pela Universidade Gregoriana (Roma). É professor da FAJE (Faculdades Jesuítas), em Belo Horizonte. Publicou mais de noventa livros entre os de autoria própria (36) e em colaboração (56), e centenas de artigos em revistas nacionais e estrangeiras. Internacionalmente reconhecido como um dos teólogos da Libertação.
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