Heliomárzio R. Moreira*
Quando
perdemos um ente amado para a eternidade, a nossa mente, sob a dor da partida,
entorpecida pelo vazio que se forma ante os mistérios do cosmos, vagueia entre
sentimentos em uma profunda análise sobre a vida e a morte. Esses questionamentos e sentimentos vêm de
longas datas e foram revisitados por muitos povos, analisados pelos mais
diversos prismas da imaginação e da consciência, nas muitas explorações desse
universo chamado mente humana.
Na provável
e nobre tentativa de confortar os corações aflitos pelo desconhecido que
acompanha as perdas, nos últimos decênios do século I antes de Cristo, um
piedoso judeu de Alexandria escreveu em um livro intitulado de Sabedoria (e não
conhecimento ou esperteza, mas inspiração poética): “... as almas dos justos estão
na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará. Aparentemente estão mortos aos
olhos dos insensatos: seu desenlace é julgado como uma desgraça. E sua morte
como uma destruição, quando na verdade estão na paz! Se aos olhos dos homens
suportaram uma correção, a esperança deles era portadora de imortalidade, e por
terem sofrido um pouco, receberão grandes bens, porque Deus, que os provou,
achou-os dignos de si. Ele os provou como ouro na fornalha, e os acolheu como
holocausto. No dia de sua visita, eles se reanimarão, e correrão como centelhas
na palha. Eles julgarão as nações e dominarão os povos, e o Senhor reinará
sobre eles para sempre. Os que põem sua confiança nele compreenderão a verdade,
e os que são fiéis habitarão com ele no amor: porque seus eleitos são dignos de
favor e misericórdia”.
Mais
adiante, fala sobre o arrebatamento dos justos: “agradou a Deus e foi por ele
amado, assim (Deus) o transferiu do meio dos pecadores onde vivia. Foi
arrebatado para que a malícia lhe não corrompesse o sentimento, nem a astúcia
lhe pervertesse a alma. (...) Tendo chegado rapidamente ao termo, percorreu uma
longa carreira. Sua alma era agradável ao Senhor, e é por isso que ele o
retirou depressa do meio da perversidade”.
Estar no
mundo sem pertencer a ele não é fácil. Vivemos nossas missões e cedo ou tarde é
dado termo à jornada quer seja compreensível ou não o momento do qual não
podemos desdenhar: o fim, para alguns, ou o começo de um amor maior, para
outros. Cabe a cada um ouvir os ecos de sua própria mente sem impor ao outro os
seus medos, dúvidas ou falsas certezas, distanciando-se do papel de ditadores
do pensamento. Sejamos democráticos no pensar, pois esses ecos que permeiam o
universo podem ser a última e tenra luz da verdadeira liberdade que alguém pode
possuir. Aceitemos o nosso destino, porém, não nos esqueçamos de ser justos. A
leveza de uma mente límpida não nos afligirá no final.
*Professor e Coordenador da Pascom - Santo Afonso
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