Há 150 anos, nos Alpes suíços, um grupo de aventureiros fazia o primeiro tour organizado da História
Monte Rigi: 150 anos depois, a aventura se repete (Foto: Divulgação) |
Por Marco Lacerda*
No começo de setembro, um discreto grupo de viajantes desce de um trenzinho movido a carvão depois de subir o monte Rigi, partindo de Vitznau, margeando o lago Lucerna. O ponto final da viagem foi onde tudo começou num verão há 150 anos, quando uma comitiva formada por sete integrantes participaram da primeira viagem organizada da história contemporânea para contemplar o lendário amanhecer neste lugar da Suiça a 1797 metros de altura. Ao aspirarem o ar puríssimo do local estava inaugurado o que hoje se conhece como turismo.
Naquele ano, 1863, viajar sem outra intenção além de matar o tempo livre era uma exotismo reservado a poucos. A mesma atividade, hoje em dia, nos países desenvolvidos, é um direito fundamental de qualquer cidadão. Um bilhão de pessoas fizera turismo em 2012, segundo dados da Organização Mundial do Turismo (OMT)
Aqueles pioneiros (quatro mulheres e três homens) viajavam conduzidos por um operador turístico visionário, Thomas Cook – o homem, é claro, não a multinacional em que se converteu a pequena empresa de excursões fundada por Cook em 1841, um mega negócio do ramo cotado na Bolsa de Valores de Londres, proprietário de 97 aviões, com 35 mil empregados.
Os sete pioneiros originais partiram de Londres em junho de 1863 junto a 123 viajantes. De trem, barco, diligência, mula ou a pé, atravessaram a França, vadiaram por lagos, saltaram cordilheiras suíças até chegar ao topo do monte Rigi, em julho daquele ano. Ao longo do caminho (Paris, Mont Blanc e Genebra) a maioria abandonou a expedição, inclusive Cook, obrigado a voltar para casa e reassumir seus negócios em Londres.
Os que resistiram, alcançaram o topo do monte depois de atravessar a bela região de Weggis, onde às margens do lago com o mesmo nome, uma placa recorda: “Mark Twain passou por aqui”. Em 1863 ainda faltavam oito anos para a inauguração da linha Vitznau-Rigi Kulm, coberta pelo primeiro trem de montanha da Europa, patente do suíço Niklaus Riggenbach.
Na manha seguinte à chegada, o grupo madrugou para contemplar o nascer do sol. “A vastidão do panorama é poderosa e sublime”, escreveu Jemima Morrell. “Em silêncio, contemplamos a imensidão enfeitada por montes, vales, lagos e povoados que enchiam nossos olhos de beleza.” A jovem Jemima Morrel escreveu a ata da viagem nas páginas de um diário que permaneceria inédito até ser resgatado das ruínas de uma casa londrina atingida pelas bombas durante o ataque das forças nazistas durante a II Guerra Mundial.
Com o sucesso da conquista do monte Rigi, Thomas Cook tornou acessível ao grande público a experiência do Grand Tours, aquelas viagens iniciáticas nas quais, desde meados do século 17 uns quantos eleitos podem deleitar-se durante meses, às vezes anos. Noutras palavras: tornou possível que o tipo profissional surgido com a revolução industrial fosse, visse e voltasse para casa antes do final das férias. A equação (classe média com tempo limitado e sede de aventura) manteve-se a mesma desde então.
Estabelecida sua definição nos anos 1920 pela Sociedade das Nações (“Turista é quem viaja ao exterior por mais de 24 horas”) e atualizada pela ONU em 1945 (“sempre que o tempo de permanência não passe de seis meses”), surgiu o turismo de massa – médico, ecológico, sexual e até criativo.
Esquecidas as glórias do passado, Thomas Cook enfrenta hoje o mesmo entorno mutante que o resto da indústria tradicional: a realidade de que qualquer um com uma conexão à internet tornou-se seu próprio agente de viagem. Como é impossível supor o que diria Cook desta época vertiginosa em que um clic tornou-se tradução de turismo, fica pelo menos a pergunta: quantos, hoje em dia, encontrariam sentido em dedicar uma manhã inteira num barco saído de Lucerna, e em seguida um trem de vertigem apenas para passar a noite esperando o amanhecer – sem considerar a aventura uma obscena perda de tempo?
Monte Rigi - Veja o vídeo.
Naquele ano, 1863, viajar sem outra intenção além de matar o tempo livre era uma exotismo reservado a poucos. A mesma atividade, hoje em dia, nos países desenvolvidos, é um direito fundamental de qualquer cidadão. Um bilhão de pessoas fizera turismo em 2012, segundo dados da Organização Mundial do Turismo (OMT)
Aqueles pioneiros (quatro mulheres e três homens) viajavam conduzidos por um operador turístico visionário, Thomas Cook – o homem, é claro, não a multinacional em que se converteu a pequena empresa de excursões fundada por Cook em 1841, um mega negócio do ramo cotado na Bolsa de Valores de Londres, proprietário de 97 aviões, com 35 mil empregados.
Os sete pioneiros originais partiram de Londres em junho de 1863 junto a 123 viajantes. De trem, barco, diligência, mula ou a pé, atravessaram a França, vadiaram por lagos, saltaram cordilheiras suíças até chegar ao topo do monte Rigi, em julho daquele ano. Ao longo do caminho (Paris, Mont Blanc e Genebra) a maioria abandonou a expedição, inclusive Cook, obrigado a voltar para casa e reassumir seus negócios em Londres.
Os que resistiram, alcançaram o topo do monte depois de atravessar a bela região de Weggis, onde às margens do lago com o mesmo nome, uma placa recorda: “Mark Twain passou por aqui”. Em 1863 ainda faltavam oito anos para a inauguração da linha Vitznau-Rigi Kulm, coberta pelo primeiro trem de montanha da Europa, patente do suíço Niklaus Riggenbach.
Na manha seguinte à chegada, o grupo madrugou para contemplar o nascer do sol. “A vastidão do panorama é poderosa e sublime”, escreveu Jemima Morrell. “Em silêncio, contemplamos a imensidão enfeitada por montes, vales, lagos e povoados que enchiam nossos olhos de beleza.” A jovem Jemima Morrel escreveu a ata da viagem nas páginas de um diário que permaneceria inédito até ser resgatado das ruínas de uma casa londrina atingida pelas bombas durante o ataque das forças nazistas durante a II Guerra Mundial.
Com o sucesso da conquista do monte Rigi, Thomas Cook tornou acessível ao grande público a experiência do Grand Tours, aquelas viagens iniciáticas nas quais, desde meados do século 17 uns quantos eleitos podem deleitar-se durante meses, às vezes anos. Noutras palavras: tornou possível que o tipo profissional surgido com a revolução industrial fosse, visse e voltasse para casa antes do final das férias. A equação (classe média com tempo limitado e sede de aventura) manteve-se a mesma desde então.
Estabelecida sua definição nos anos 1920 pela Sociedade das Nações (“Turista é quem viaja ao exterior por mais de 24 horas”) e atualizada pela ONU em 1945 (“sempre que o tempo de permanência não passe de seis meses”), surgiu o turismo de massa – médico, ecológico, sexual e até criativo.
Esquecidas as glórias do passado, Thomas Cook enfrenta hoje o mesmo entorno mutante que o resto da indústria tradicional: a realidade de que qualquer um com uma conexão à internet tornou-se seu próprio agente de viagem. Como é impossível supor o que diria Cook desta época vertiginosa em que um clic tornou-se tradução de turismo, fica pelo menos a pergunta: quantos, hoje em dia, encontrariam sentido em dedicar uma manhã inteira num barco saído de Lucerna, e em seguida um trem de vertigem apenas para passar a noite esperando o amanhecer – sem considerar a aventura uma obscena perda de tempo?
Monte Rigi - Veja o vídeo.
Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Dom Total
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