'A grande orquestra seresteira do céu estava precisando de um reforço'.
Waldir Silva: intepretações históricas.
Por Carlos Felipe Horta*
PS: O enterro de Waldir Silva será nesta segunda-feira, 2 de setembro, às 13h.
A grande orquestra seresteira do céu estava precisando de um reforço e levou o mineiro de Bom Despacho, de Belo Horizonte, de Diamantina, de toda Minas Gerais e, por que não dizer, de todo Brasil. Há mais de 40 anos convivendo sempre com ele, tornou-se um irmão, numa fraternidade ainda mais forte porque muitas pessoas às vezes nos confundiam fisicamente e eu me cansei de ser chamado de Waldir.
Nascido à beira da estrada de ferro em Bom Despacho (MG), ele passou por Pitangui, veio para Belo Horizonte, trabalhou como radiotelegrafista nos Correios, começou a mostrar suas músicas e pouco a pouco foi se tornando um dos maiores instrumentistas de cavaquinho de Minas e o Brasil.
Desde os tempos dos primeiros projetos, buscando restaurar a seresta em Belo Horizonte que o nosso contato era permanente. Estivemos no começo dos projetos Seresta na Praça, Noites Mineiras, Seresta ao Pé da Serra e juntos abrimos o primeiro Minas ao Luar, em Diamantina. Todos os dias ele me contava mais uma história de sua vida e como conseguia equalizar seu trabalho como divulgador e vendedor de discos da CBS com a de instrumentista. "Eu nunca gostei de dirigir e para chegar até às cidades comprava passagens nos últimos locais dos ônibus, na cozinha. E ali, quietinho, ia treinando o cavaquinho, sem provocar barulho".
Resultados destas e outras do Waldir nós sabemos: muitos discos ainda no 78, dezenas de discos em vinil, alguns deles clássicos e outras dezenas nos tempos do CD. Como nós que o ouvimos sempre fazendo maravilhas no seu cavaquinho vamos esquecer interpretações de "Zíngara" (prefixo da Hora do Coroa do nosso irmão Acyr Antão), "Luar de Nápoles", "Fascinação", "La Golondrina", "Valsa da Meia Noite", "El Condor Pasa", "Noites de Moscou", "Perfídia" e tantas outras mais.Em Portugal, onde estivemos juntos mostrando a seresta mineira e lançando o "O Grande Livro do Folclore", ele ganhou uma repercussão que poucos artistas brasileiros já tiveram.
As histórias de Waldir vão longe e não cabem aqui numa postagem apenas. Por isso, só podemos dizer que a música mineira está triste hoje e as famílias seresteiras do Minas ao Luar e do Pé da Serra estão um pouco órfãs. A orfandade só não é maior porque seus discos continuam preservando sua arte e suas memórias vão ajudar para que esta nossa tradição continue cada vez mais forte.
PS: O enterro de Waldir Silva será nesta segunda-feira, 2 de setembro, às 13h.
*Carlos Felipe Horta é jornalista e escritor.
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