quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Da Bíblia sempre podemos tirar uma verdade e é confirmada por Jesus de Nazaré

Desiminizar

Da Bíblia sempre podemos tirar uma verdade e é confirmada por Jesus de Nazaré
A expressão ‘desinimizar’ vem de Pinchas Lapide, autor judeu que comentou o Sermão da Montanha de Jesus no Evangelho segundo Mateus. Cito Mateus: 

“Ouvistes que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. Mas eu vos digo: não ofereçais resistência ao malvado! Pelo contrário, ao que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra! [...] Ouvistes que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’. Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem! Assim vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus; pois ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos. [...] Sede, portanto, perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito.” (Mt 5, 38-48*).

Ao ler este texto, lembro-me de uma história menos conhecida. Encontra-se no Segundo Livro dos Reis e trata do profeta Eliseu, o desconcertante ‘homem de Deus’ do reino do Norte de Israel, cuja capital, Samaria, de repente se viu cercada pelos arameus, isto é, os sírios.

“Levantando-se ao amanhecer, o criado do homem de Deus saiu e viu o exército cercando a cidade, e os cavalos e os carros, e comunicou a Eliseu: ‘Ai, meu senhor, que vamos fazer?’ Ele respondeu: ‘Não tenhas medo. Conosco está um contingente bem maior do que com eles’. E Eliseu orou: ‘SENHOR, abre-lhe os olhos para que veja’. Então o SENHOR abriu os olhos do criado, de modo que viu a montanha cheia de cavalos e carros de fogo em redor de Eliseu.  Os inimigos desceram contra Eliseu, mas este orava ao SENHOR: ‘Fere essa gente de cegueira’. O SENHOR os feriu, e eles não enxergavam mais nada, como Eliseu havia pedido. Disse-lhes Eliseu: “Não é por aqui o caminho, nem a cidade. Segui-me, e eu vos mostrarei o homem que procurais’. Conduziu-os a Samaria. Entrando em Samaria, Eliseu disse: ‘SENHOR, abre-lhes os olhos, para que vejam’. O SENHOR abriu-lhes os olhos e viram-se no meio da cidade de Samaria. Ao vê-los, o rei de Israel disse a Eliseu: ‘Devo matá-los, meu pai?’ Ele respon¬deu: Não! Acaso costumas matar os que capturaste com tua espada e teu arco? Serve-lhes pão e água, para que comam e bebam e depois voltem a seu senhor”. Ofe¬receu-lhes um grande banquete. Comeram e beberam, e depois despediu-os. Voltaram para seu senhor, e as tropas de Aram não vieram mais à terra de Israel.” (2Reis 6,15-23*).

Se fosse tão simples para Israel livrar-se da ameaça síria hoje: dar um bom banquete aos prisioneiros de guerra e mandá-los de volta, para que seu chefe desista de atacar! Parece fácil demais. Mas da Bíblia sempre podemos tirar uma verdade, sobretudo quando o que ela ensina ao antigo povo de Israel (no livro dos Reis) é confirmado (no Evangelho) por Jesus de Nazaré, ao qual os cristãos –segundo dizem– dão crédito. E essa verdade parece ser, aqui, a ‘desinimização’: não esmagar o inimigo, e sim, a raiz da inimizade. 

A quem bate na face, apresentar-lhe a outra face, não por altivez provocadora, mas para que ele se dê conta daquilo que está fazendo e caia em si. Desinfetar o mundo dos focos de inimizade; e isso, a partir de nós mesmos. Pois o desinfetar da inimizade começa em casa. Nada adianta a prefeitura mandar seus funcionários pulverizar desinfetante pelas ruas se cultivamos focos da dengue em nossa casa. 

Não se tem nota oficial de que os G-20 ficaram impressionados pela campanha –jejum e oração– do Papa Francisco em prol de evitar uma intervenção armada na Síria, mas é muito provável. De qualquer modo, sua campanha indicou o caminho certo, mesmo que não se tenha certeza da sinceridade da conversão de Assad... Pelo menos, o mundo voltou a acreditar um pouco no caminho da paz, acima da guerra e da violência. Mas não nos enganemos, o caminho da paz não é moleza; é o caminho estreito e íngreme (Mt 7,14).

(* a tradução dos  textos bíblicos é da responsabilidade do Autor).

Johan Konings Johan Konings nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colegio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Foi professor de exegese bíblica na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (1972-82) e na do Rio de Janeiro (1984). Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE - Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, onde recebeu o título de Professor Emérito em 2011. Participou da fundação da Escola Superior Dom Helder Câmara. 

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