sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Dirceu, o vilão da república

O político-chave do escândalo do mensalão é personagem central em filme de Tata Amaral


Dirceu, no centro da foto, é o personagem do filme
Por Juan Arias* 

José Dirceu, personagem chave do escândalo do mensalão, condenado a dez anos e dez meses de prisão por organizar o suborno a deputados e partidos para que apoiassem o primeiro governo do presidente Lula da Silva, será o protagonista de um filme intitulado “O vilão da República”.

A cineasta Tata Amaral levará às telas a agitada vida política e humana de um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) junto com Lula, e que foi várias vezes presidente do partido e uma espécie de primeiro-ministro do governo do PT.

“A ideia é partilhar a intimidade desta personagem controvertida num momento importante da sua vida”, afirmou a diretora, que pretende que o ex-presidente Lula e outras personalidades do governo participem do filme.

O “momento importante” que a cineasta menciona na vida de Dirceu é o que pode estar à sua espera entre quarta e quinta-feira: a prisão em regime fechado, caso o Supremo não decida considerar a redução das penas às que ele já foi condenado.

Amaral quer filmar no Brasil, Estados Unidos, Cuba e Venezuela. Ela tem razão em dizer que a vida da personagem que agora terá a honra de aparecer nas telas dos cinemas, como já ocorreu com Lula, é toda uma “aventura”. Na juventude, ele participou do movimento estudantil contra a ditadura e depois se exilou em Cuba, onde fez uma série de cirurgias plásticas para mudar o rosto. Voltou ao país incógnito ainda durante a ditadura. Casou-se sem que a esposa conhecesse a sua verdadeira identidade e teve um filho com ela.

Quando a ditadura acabou, Dirceu foi o homem forte no PT, sempre do lado de Lula. Foi um dos protagonistas da vitória do sindicalista e organizou o seu primeiro governo, quando foi ministro da Casa Civil.

Quando eclodiu o escândalo do suborno aos congressistas, Lula o afastou do governo e o Congresso cassou o seu mandato. Dirceu e Lula continuaram amigos.

Protagonista no processo do Supremo, ele foi condenado. Porém, Dirceu sente-se como uma vítima e “condenado político”. Ele acaba de afirmar: “Cometi muitos erros na vida, mas não estes de que a justiça me acusa”. E ameaça recorrer aos tribunais internacionais para defender a sua inocência.

Enquanto isso, será o primeiro preso de envergadura política a ter a honra de ter a sua vida contada nas telas dos cinemas.

E com dinheiro público, o que talvez não agrade muito às pessoas comuns. De fato, a Agência Nacional de Cinema do Mistério da Cultura autorizou a captação de um milhão e meio de reais para a realização de “O grande vilão da República”, que também poderia ter por título “O político mais controverso da República”.
*Juan Arias é correspondente do jornal El País no Brasil. Tradução de Cristina Cavalcanti

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