Atores Harrison Ford e Ben Kingsley, do elenco do filme 'O Jogo do Exterminador'
Por Piya Sinha-Roy e Eric Kelsey
Depois de um verão recheado da ação de super-heróis e de comédias de animação, Hollywood se volta para figuras desamparadas na temporada de outono-inverno (no Hemisfério Norte), com filmes que exploram dilemas existenciais enfrentados por personagens solitários.
Os meses de outono-inverno são tradicionalmente o período em que os estúdios lançam seus principais dramas para alcançar a reta final da corrida para o Oscar, e as novidades fazem bastante alvoroço à medida que se aproxima a temporada de premiações. Este ano, Hollywood está apostando nos socialmente alienados.
Solitários, sonhadores, desajustados e párias despontam em estranhas comédias como "A Vida Secreta de Walter Mitty", de Ben Stiller, o thriller espacial "Gravidade", de Alfonso Cuaron, o remake feito por Kimberly Peirce de "Carrie", de Stephen King, e a adaptação para o cinema de "1985", ficção científica de Orson Scott Card, em "O Jogo do Exterminador".
Walter Mitty, um personagem de ficção de um conto de James Thurber, de 1939, trata de uma pessoa desconfortável consigo mesma e com os arredores, alienada por aspirações idealistas.
Ben Stiller, o ator e diretor de "Walter Mitty", que deve estrear no Natal, disse ter sentido que as pessoas iriam se envolver com a inabilidade de Mitty para se conectar com o mundo ao seu redor.
"Havia alguma coisa muito acessível e passível de conexão na ideia de um cara que existe mais na própria cabeça e não é capaz de ser o que ele quer ser", disse Stiller.
O Mitty de Stiller é um funcionário da revista Life que manuseia negativos do arquivo fotográfico da publicação e embarca em uma fantástica jornada para localizar uma foto desaparecida que entraria na última edição antes de a revista se tornar apenas online.
"Ele é um cara analógico num mundo digital. Essa mudança é algo geracional, posso me identificar com isso, e sinto que um monte de gente também vai identificar-se", afirmou Stiller.
O desafio de Mitty de aceitar um mundo em transformação aparece também no filme "Her", de Spike Jonze, que deve estrear em um número limitado de cinemas em dezembro. Joaquin Phoenix interpreta um escritor solitário que estabelece um relacionamento com um sistema de computador com voz feminina. O filme evidencia a crescente desconexão entre as pessoas, já que a tecnologia as une virtualmente, mas as segrega fisicamente.
A insegurança social e alienação também refletem a insegurança econômica e financeira ocorrida nos últimos anos e que também é visível nos filmes de hoje, diz Jack Epps Jr., o roteirista de sucessos de bilheteria como "Top Gun - Ases Indomáveis" e "Dick Tracy", além de professor na Universidade do Sul da Califórnia.
"Muitos desses filmes representam o homem cubículo e o indivíduo reprimido", diz Epps. "Isso é a América pressionando tematicamente contra essas coisas, essa pequena pessoa nesse ambiente de trabalho das corporações globais."
"Carrie", lançado na semana passada, é uma narrativa clássica sobre o isolamento social e a vingança, já que a desajustada estudante Carrie semeia destruição em seu baile do colegial depois de ter sofrido bullying.
"Sou atraída por um personagem alienado porque se eles são alienados, eles geralmente têm uma imensa necessidade de encontrar amor e aceitação, de encontrar normalidade, de encontrar seu caminho rumo à comunidade humana", diz Kimberly.
Reuters
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