Padre Geovane Saraiva*

Nascido na Ilha de Tenerife, no Arquipélago das Canárias, aos 19 de março de 1534, recebeu no batismo o nome de José, porque nasceu no dia deste glorioso santo. Coincidentemente, no ano de seu nascimento, Santo Inácio de Loyola fundara em Paris a Companhia de Jesus. José viveu com a família até os 14 anos, quando se mudou para Coimbra, Portugal, lugar muito importante em sua vida, onde estudou Filosofia no Real Colégio das Artes e Humanidades, um anexo da universidade, destacando-se por seus talentos, inteligência e memória raríssima e privilegiada. Foi aí que pediu para ingressar, aos 16 anos (1551), na Companhia de Jesus, sendo enviado dois anos depois às missões do Brasil. Sua vida religiosa foi exemplar, distinguindo-se nas virtudes da humildade, obediência e, sobretudo, numa grande devoção a Nossa Senhora.
Ordenado sacerdote em 1566, foi escolhido superior da comunidade de São Vicente e depois da de São Paulo. Dez anos mais tarde, foi nomeado provincial de toda a missão no Brasil, revelando-se um superior de decisões sábias e seguras. Inteligente, altivo e dotado das melhores qualidades do ponto de vista literário, dominava o tupi, língua dos indígenas, a ponto de arrancar-lhes aplausos, ao dialogar ou ao escrever. Ele ainda escreveu uma gramática e depois um catecismo na língua dos aborígenes, os quais o agraciaram com cognome de “Apóstolo do Brasil”.
Dele se contam maravilhas e prodígios, através de milagres, profecias, curas e até mesmo sua proximidade e familiaridade com os pássaros e animais ferozes, o que nos faz lembrar Francisco de Assis e Santo Antônio. Deste extraordinário homem de Deus, sabe-se que escrevia com uma vara na areia da praia e a água do mar não apagava e ainda levitava em êxtase. Por fim, suas virtudes, qualidades, contribuições científicas e literárias o qualificaram, de tal forma, que se tornou o mais popular e o mais venerado dos seguidores de Inácio de Loyola no século XVI.
A vinda de José de Anchieta para o Brasil foi quase casual, porque se recuperava de uma grave enfermidade que o deixou abatido e com forças precárias. Ele tinha o receio de não continuar os estudos exigidos a um aluno e discípulo de Inácio de Loyola. Padre Manuel da Nóbrega, superior provincial dos Jesuítas no Brasil, desejando homens de braços e mãos corajosas para a atividade apostólica e missionária na Terra de Santa Cruz, solicita do provincial da Companhia de Jesus em Portugal, que enviasse missionários com muita disposição para catequizar e anunciar o Evangelho. Entre outros, a sorte caiu no jovem José de Anchieta, que foi confortado por seu superior, e por conselho do seu médico, oferecendo-lhe a possibilidade de viajar para o Brasil, onde o clima podia favorecê-lo. Chegando à sua nova pátria aos 13 de junho de 1553, com menos de 20 anos de idade.
Ao mesmo tempo em que, com palavras inauditas, encantava e atraía o povo, convertia os inimigos e pacificava os adversários. Apesar do seu físico franzino, apresentava-se sempre com semblante alegre e afável, com força e coragem inabaláveis, e que com tenacidade soube enfrentar os desafios que a missão exigia.
Sempre dava demonstração de preocupação diante das angústias, dos sofrimentos e das necessidades da humanidade de seu tempo. A exemplo de Jesus, o Bom Pastor, ofereceu seus dons, talentos e a própria vida, desejoso de realizar na Igreja o projeto do Pai: plantar a semente do Evangelho em nossas terras, mostrando a ternura e a face amorosa de Deus, com o exercício da caridade, alimentado pela fé e esperança. Não procurava alienar as pessoas, pelo contrário, anunciava que os cristãos deveriam viver o novo mandamento: “Que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13, 34-35). José de Anchieta faleceu aos nove de junho 1597. O papa João Paulo II o declarou bem-aventurado em 22 de junho 1980 e no dia 24 de abril de 2014, o Papa Francisco o canonizou na Igreja de Roma.
Suplicamos ao bom Deus as graças necessárias para o povo brasileiro para que, a exemplo de São José de Anchieta, pelos admiráveis dons e talentos, traduzidos nas profundas marcas no campo literário, na catequese e na santidade, possa viver a mesma fé por ele vivida e anunciada, com a mesma
*Escritor, blogueiro,
colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso,
Parquelândia, Fortaleza-CE – geovanesaraiva@gmail.com
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