A atividade econômica consome recursos naturais, destruindo o patrimônio ecológico (Foto: Divulgação) |
Marcus Eduardo de Oliveira
Conhecer a etimologia (origem e significado) das palavras, em muitos casos, é meio caminho andado para compreender muitas coisas.
A palavra fé, por exemplo, vem de fides, em latim, e significa “aquilo que leva a acreditar em algo”. Não por acaso, é comum e de domínio popular a expressão: “Acredite, tenha fé”.
Já a palavra consumo, na origem (em latim, consumere), quer dizer “destruir, desgastar”. Consumir é destruir. Ele “consome”, logo “destrói, desgasta”.
Assim é a relação entre a economia e a natureza. A atividade econômica “consome” recursos naturais, destruindo o patrimônio ecológico. E o faz de forma muito agressiva (com sanha, fúria) não respeitando limites e a capacidade de regeneração da natureza, não praticando a resiliência, ou seja, a capacidade de um sistema restabelecer, recuperar, seu equilíbrio após uma ruptura.
O modo como a economia mundial se desenvolve é todo organizado sob dois eixos: produção e consumo. E, inequivocamente, produção e consumo, em excessos, destroém as coisas da natureza.
Produz-se em larga escala e consome-se de tudo. Na verdade, quem também acaba sendo “consumido” é o próprio consumidor: o consumo (em excesso) consome (destrói) o consumidor (voraz).
Na sanha (voracidade, fúria em comprar) consumista, como se, a partir dos excessos de consumo, fosse possível obter felicidade, alguns se embrenham com total determinação no consumo desenfreado, devotando verdadeira fé nesse ato.
Esses vorazes consumidores praticam uma espécie de fé na consumolatria. Esse é o sinal (do latim, signum, derivando as palavras senha e sanha) de status, de símbolo do poder. Consumir, ter. Adoram o consumo. Idolatram o mercado.
Latria, do grego “latrevo”, significa adorar. Abusando do emprego dos termos (fides e latria), evidentemente aqui não estamos usando-o em sua vertente teológica, mas sim mercadológica. Também não é por acaso que a palavra mercado, do latim “merx”, deriva em mercearia, mercadoria, mercante, mercantil.
Tudo se interliga, mercado-consumo-dinheiro-mercadoria. As primeiras “moedas-mercadorias”, na Roma Antiga, foram o sal (pagava-se com esse produto o serviço efetuado pelo empregado) originando a palavra salário, e o gado, pecus, em latim, por isso as palavras pecúnia (dinheiro) e pecúlio (dinheiro acumulado).
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. prof.marcuseduardo@bol.com.br
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