sábado, 14 de dezembro de 2013

América Latina põe os fumantes na rua

Cada vez menos locais públicos para se fumar numa região onde milhares morrem de tabagismo.



Apesar da "caça" aos fumantes, venda de cigarros aumenta em quase toda a América Latina. (Foto: Arquivo)
Por María José González*

Até pouco tempo atrás refúgio dos fumantes, o número de bares e locais públicos que permitem que seus clientes fumem é cada vez menor na América Latina.

Efetivamente, já é cada vez menos provável entrar em um bar em qualquer cidade da região e que imediatamente seus pulmões se encham desse cheiro acre que a fumaça do cigarro deixa.

Oito países da América Latina já têm ambientes públicos 100% livres de fumaça, enquanto o restante tem pelo menos cinco categorias de locais públicos onde está proibido fumar, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Estes países são: Barbados, Colômbia, Guatemala, Honduras, Panamá, Peru, Trinidad e Tobago e Uruguai.

Embora os sinais de Proibido Fumar sejam cada vez mais onipresentes, é uma luta que mal começa. Por quê?

Os especialistas afirmam que a venda de cigarros está diminuindo ou estagnando nos países desenvolvidos, mas aumenta nos países de rendimento baixo e médio (a maioria da América Latina) devido a uma agressiva campanha de comercialização da indústria tabagista nessas regiões. O público objetivo: as mulheres e a juventude. O palco: eventos esportivos, musicais e outros. Método: distribuição gratuita de cigarros.

O cigarro dos pobres

Quase 80% dos mais de um bilhão de fumantes em nível mundial vivem nos países de rendimento médio e baixo. E o cigarro segue matando pessoas. Nos minutos que se seguem entre o momento em que um fumante acende um cigarro até que a bituca aterrisse no cinzeiro morrerão cerca de 50 pessoas no mundo como resultado da repetição dessa mesma operação inúmeras vezes. O total de vítimas fatais: seis milhões de pessoas a cada ano, uma a cada seis segundos, aproximadamente. Cerca de 600.000 não fumantes perecem por inalar a chamada “fumaça alheia”, expelida pelos fumantes, de acordo com dados do Banco Mundial e da OMS.

Na América Latina, o contra-ataque se baseia em uma forte política de controle do tabagismo que inclui medidas impositivas, a proibição de fumar em locais públicos e uma maior conscientização em relação aos perigos do tabagismo.

Argentina, Panamá e Uruguai são bons exemplos de um controle estrito do consumo de tabaco, enquanto Brasil, Chile, México, Panamá, Peru, Uruguai e Venezuela são bons exemplos de países com duras etiquetas de advertência em relação aos males do tabagismo. E Brasil e Uruguai se destacam pelo tratamento ao vício ao fumo.

A má notícia é que à medida que a taxa masculina diminui, o tabagismo entre as mulheres, especialmente as mais jovens, está aumentando. Na região da América Latina e o Caribe há 25% da população, ou 145 milhões de pessoas, que fumam. Desse percentual, 16% são mulheres jovens,  ante 8% nos Estados Unidos e 11% em nível mundial.

Uruguai à frente

A política antifumo do Uruguai é um dos exemplos de maior sucesso da América Latina e o Caribe e foca em múltiplos setores da sociedade, especialmente entre os adolescentes.

O principal embaixador da luta contra o fumo no país, com estratégia que propagou por toda a América Latina, é o ex-presidente Tabaré Vazquez. “Conscientizar à população em relação ao impacto negativo do tabagismo sobre a saúde é mais eficiente e rentável que atendê-los depois que fiquem doentes”, assegura.

O ex-presidente, médico de profissão, tem uma clara radiografia dos enormes danos humanos e materiais causados pelo tabaco.

As cifras são assombrosas. A taxa de mortalidade para doenças não transmissíveis, muitas delas causadas pelo tabagismo, duplicam a taxa de mortalidade por doenças transmissíveis: 93,8 por cada 100.000 habitantes, frente a 55,4 por cada 100.000 habitantes. Assim mesmo, a América Latina gasta mais de 70 bilhões de dólares por ano (cerca de 160 bilhões de reais) para tratar dois das doenças não transmissíveis mais mortíferas: a diabetes e o câncer.

Vázquez foi quem conseguiu que seu país fosse um dos primeiros em assegurar a criação de ambientes 100% livres de fumaça a partir de 2005. Como resultado destas medidas, entre 2006 e 2009 o consumo de tabaco nas zonas urbanas do Uruguai (onde vive 95% da população) registrou uma das quedas mais vertiginosas do mundo. A maior foi registrada entre os fumantes de 15 a 24 anos, cujo número foi reduzido em 44% durante o período.
*María José González é correspondente em Washington do El País, onde esta reportagem foi publicada originalmente.

Dom Total

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