Uma inusitada e direta história de amor entre homens de gerações distintas e os animais.
‘Fup’, de Jim Dodge, um belo presente de ano novo.
Por Ricardo Soares*
Começa o ano novo, mas muitas de nossas impressões boas permanecem velhas. Uma delas, para mim, é crer que livros perfeitos podem ser curtinhos ou tijolaços. Quanto mais envelheço nessa mania saudável da leitura, mais constato que a perfeição literária independe do tamanho do texto. É a consistência do recado, por assim dizer, que faz toda a diferença.
A conclusão vem com força quando considero aqui comentar um livrinho que há muitos anos ensaiava ler e que só em 2012 li numa sentada .. Trata-se de "Fup", de Jim Dodge, que persegui anos em edição antiga com um patinho na capa e que só recentemente adquiri em nova edição com capa anódina dentro da coleção "sabor literário" da José Olympio Editora com prefácio do Marçal Aquino. Aliás mesmo essa nova edição (2007) não é fácil de achar.
No prefácio, o Marçal avisa que, após ler "Fup", a gente sente vontade imediatamente de se inscrever numa espécie de imaginário fã clube do livro que, imagino, deva se espalhar pelos cantos do planeta. "Fup" é bom demais, com o perdão da pueril afirmação nada específica. Posso tentar explicar dizendo que é "bom demais" porque é simples demais, bem construído demais, poético até o limite do derramamento visceral, sem uma única concessão à pieguice.
Os personagens principais ( o velho Jake, seu neto Miúdo, a impagável pata FUP e um gigantesco porco do mato chamado Cerra-Dente) são tão bem delineados e se entrelaçam com tal naturalidade no meio do relato nada pretensioso que parecem ter sido planejados anos a fio, antes que o autor tivesse colocado sua ideia no papel.
Dizer que "Fup" é uma fábula seria cascata. Uma parábola seria impreciso. Talvez esteja mais perto de uma curta, inusitada e direta história de amor entre homens de gerações distintas e os animais em volta, inclusive a enorme pata Fup, marrenta, tinhosa e cheia de personalidade. E mais não digo. Não faça como eu, que demorei tanto pra ler "Fup". Corra e ache, corra e compre, corra e leia. Na aridez compacta da nova e insossa literatura brazuca, “Fup” é um belo presente de ano novo.
* Ricardo Soares é diretor de TV, escritor e jornalista. Titular do blog Todo Prosa (www.todoprosa.blogspot.com) . Escreve todos os dias também o Diario do Anonimato do Mundo em www.revistapessoa.com. Diretor de Conteúdo e programação da EBC- Empresa Brasil de Comunicação.
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