segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Presidente da Ucrânia promete criar comissão para encerrar crise

Manifestantes enfrentam a polícia no centro da capital ucraniana, Kiev, em 19 de janeiro de 2014.
Por Olexandr Savotchenko

Kiev - Confrontos foram registrados neste domingo ao fim de um protesto em Kiev que reuniu cerca de 200 mil opositores pró-europeus e desafiou as autoridades, após a adoção de novas leis que reforçam as punições contra os manifestantes. 

Depois de um dia que terminou com vários veículos incendiados e mais de 100 feridos, o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, prometeu criar uma comissão multipartidária para pôr fim à crise política que afeta o país, anunciou o líder opositor Vitali Klitschko, após uma reunião com Yanukovich. 

"O presidente se comprometeu a criar na segunda de manhã uma comissão com representantes da administração presidencial, do gabinete e da oposição para buscar uma solução para a crise", disse Klitschko, após mais um dia de violentos confrontos entre manifestantes e policiais. 

Quando a mobilização na Praça da Independência, também chamada de Maïdan, chegava ao fim, alguns manifestantes tentaram romper um cordão de segurança para chegar ao Parlamento e entraram em furgões da polícia que bloqueavam o acesso. 

Eles incendiaram duas viaturas e cinco ônibus, enquanto jogavam pedras nos policiais. As forças de segurança responderam com golpes de cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo, além de jatos d´água. 

Segundo os serviços médicos, 24 pessoas ficaram feridas, e três foram hospitalizadas. A polícia estimou em 70 o número de agentes feridos. Quatro ativistas foram detidos, informou o Ministério do Interior. 

Antes de se reunir com o presidente, o boxeador e líder da oposição Klitschko havia pedido calma à multidão. 

"A violência leva apenas um banho de sangue", declarou aos manifestantes Arseni Yatseniuk, responsável pelo partido da opositora detida Yulia Timoshenko, pedindo que não cedessem a provocações. 

Antes, por volta de 200 mil pessoas haviam participado pacificamente das manifestações na Praça da Independência. Os ativistas desafiaram as autoridades, depois da proibição de qualquer ato público no centro de Kiev até 8 de março e das novas leis promulgadas na sexta-feira pelo presidente Viktor Yanukovytch, que introduzem ou reforçam as sanções contra os manifestantes.

Dezenas de pessoas usavam capacetes, caixas de papelão, ou máscaras carnavalescas, em sinal de desprezo a uma das novas leis, que pune as pessoas que protestarem mascaradas, ou com capacetes. 

Neste domingo, no fim do dia, a embaixada dos Estados Unidos na Ucrânia divulgou um comunicado, pedindo ao governo que inicie imediatamente negociações "com todas as partes, para terminar com o beco sem saída político atual, responder as preocupações dos manifestantes e impedir que a violência aumente". 

O embaixador da União Europeia na Ucrânia, Jan Tombinski, pediu que "não agravem uma situação já muito difícil e perigosa". 

"A nova legislação é ilegal" 

"Nós declaramos ilegal a nova legislação adotada", declarou Klitschko, líder do Partido Udar (Golpe), em um palco instalado na praça. 

Ele pediu que as forças de segurança se unam aos opositores. "Peço às forças de ordem: passem para o lado do povo!", lançou. 

"O Parlamento perdeu sua legitimidade. Isso significa que devemos criar um conselho do povo entre os políticos opositores", afirmou Arseni Yatseniuk, integrante do partido da opositora Yulia Timoshenko. 

Mas alguns políticos foram vaiados pela multidão, acusados de não terem um plano de ação e um verdadeiro líder. 

Depois de o movimento de contestação ter conseguido mobilizar centenas de milhares de pessoas em dezembro, ele perdeu força após a assinatura, em 17 de dezembro, em Moscou, de acordos econômicos que forneciam um crédito de US$ 15 bilhões à Ucrânia e reduziam o preço do gás russo em cerca de um terço. 

"Precisamos passar a ações mais decisivas", disse à AFP o estudante Ruslan Kochevarov. 

"Esperamos que, depois das manifestações, as pessoas não parem, mesmo que muitos se perguntem por que se mobilizar no futuro depois de dois meses de protestos sem resultado", acrescentou. 

A adoção das novas leis repressivas pode dar mais vigor aos protestos. 

Os textos, votados em meio a cenas de caos no Parlamento, estabelecem penas de prisão de 15 dias - pela instalação de barracas em locais públicos - a cinco anos - para as pessoas que bloquearem prédios oficiais. 

Uma lei pune com multas, confisco de carteiras de motorista e apreensão de carros qualquer manifestação envolvendo mais de cinco veículos. 

Um outro texto obriga as ONGs beneficiadas com financiamentos ocidentais a se registrarem como "agentes do exterior". 

Esse termo, usado para definir os opositores na época do líder soviético Josef Stalin, tem sido mencionado com frequência para denunciar os manifestantes na Rússia de Vladimir Putin, que adotou uma lei semelhante em 2012.

Os ocidentais alertaram as autoridades ucranianas para estes textos, e Timoshenko denunciou a instauração de uma "neo-ditadura". 

O ministro das Relações Exteriores sueco, Carl Bildt, um ardoroso defensor da aproximação entre Ucrânia e UE, disse à rede de televisão ucraniana hromadske.tv que os europeus haviam discutido com os americanos sanções contra algumas pessoas do governo. 

"Nós falamos sobre isso com os americanos. Isso tem a ver, antes de tudo, com a questão da violência. Nossa posição exata é de que a violência não deve ser empregada contra os participantes pacíficos de manifestações", declarou, acrescentando que os contatos estavam sendo mantidos.
AFP

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