segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Rolezinho, em breve um esporte olímpico

Todo mundo fala em deixar um planeta melhor para os filhos. Na verdade deveríamos deixar filhos melhores para o planeta.

Os "rolezinhos" espelham a educação no Brasil, tão defasada e obsoleta.
Por Carlos Eduardo Leão*

"Vamos dar em rolé" significa "dar um giro" ou "dar uma voltinha", sempre no mais inocente sentido de "dar uma espairecida", "dar uma divertida". É uma expressão nem tão recente assim, tanto que eu e minha geração a usamos com muita frequência, até mesmo para acompanhar o idioma de nossos filhos e de sua geração dourada.

O "rolezinho" de hoje, que deveria ser o diminutivo de "dar um rolé", nada mais é que um arrastão praticado por grupos de jovens de classes sociais menos favorecidas que se organizam pela internet. A preferência pelos shoppings é notória. Correm pelos corredores como alucinados em transe. Saltam pelas escadas rolantes, empurram jovens, crianças e idosos para abrir espaço às suas loucas aventuras. Esbarram perigosamente em grávidas e cadeirantes com a inconsequência que baliza suas personalidades agressivas reveladas pelo tom provocador e ameaçador de suas palavras de ordem. E, pior, sempre com braços erguidos e punhos cerrados aos moldes recentes de seus ídolos Zé Dirceu e Genoíno na porta da cadeia, antes de adentrá-la.

Pois é, meus amigos. O pior de tudo isso é que a esquerda festiva, parte da imprensa, alguns psicólogos, outros antropólogos, defensores radicais dos direitos humanos, simpatizantes de causas sociais, todos sempre de plantão estratégico para os mais populistas dos pareceres, já deram o seu veredicto: "Trata-se de um fenômeno novo, muito interessante e de uma naturalidade compatível com os anseios da juventude". "A culpa é das ‘elites’ que odeiam pobres e não admitem que se divirtam com naturalidade". "Os adultos são uns intransigentes e fazem de tudo para não entender os nossos inocentes rolezeiros que querem apenas realizar seu sonhos de vestirem-se bem, calçar tênis da hora e desfilá-los nos shoppings". E, por fim, "o famigerado preconceito social, razão das atitudes mais alteradas, rancores e palavreado de ordem, todos incitados pela burguesia preconceituosa".

Segundo o nosso grande filósofo José Simão, o governo já pensa em criar um espaço muito bem sinalizado nos corredores dos shoppings, Brasil afora, com mão e contramão pintados em amarelo para que os rolezeiros possam atuar sem serem perturbados pelos demais frequentadores: os rolezódromos. Seguranças serão contratados para a proteção do "rolezinho" nesses estabelecimentos que, logo logo, estará sendo alçado à categoria de  esporte olímpico -  luta rítmica - já para as Olimpíadas do Rio 2016.

Como promessa de campanha petista, em 2017 o rolezinho será profissionalizado dentro das mais rígidas regras celetistas e protegido como qualquer outra profissão, inclusive com direitos adquiridos à Bolsa Desemprego, no caso disso acontecer. Segundo Simão, no Ministério da Educação, comandada por aquele ministro que perguntou o que que os Museus têm a ver com a educação, já existem estudos para que o rolezinho seja matéria universitária, inclusive com um aumento no número de cotas para os candidatos à essa promissora carreira. Mestrado e Doutorado, além de intercâmbios nas universidades em que Lula é doutor honoris causa, estão em pauta.

Para mim, por trás de cada investida chamada "rolezinho", estão pais frouxos sem a mínima autoridade sobre filhos que, por sua vez, veem em roupas caras e acessórios improváveis o balizador do caráter e dos valores do indivíduo. Pais que não sabem dizer não aos excessos dos filhos, aos rompantes próprios de uma juventude despreparada e que, por motivos outros não conseguem transmitir às suas descendências as noções eternas de respeito e dignidade que norteiam a vida do homem de bem.

Não podemos nos esquecer que os "rolezinhos" espelham a educação no Brasil, tão defasada e obsoleta. Não há espaço nem para o ensino de boas maneiras nem para prática do esporte que revitaliza e prepara o jovem para a competição chamada vida. Não há espaço público, neste país pretensamente olímpico, para que estes brasileiros, em quadras poli esportivas, possam extravasar suas energias, agressividades e outras sensações semelhantes, tão próprias dessa fase da vida. Sobram então os Shoppings, verdadeiras arenas onde eles, os rolezeiros, berram, correm empurram, amedrontam, agridem e aviltam.

Juventude não significa violência, má educação, grosseria ou desrespeito. O jovem normal quer se divertir, passear, ir ao cinema, comer no MacDonalds, namorar, comprar aquilo que cabe no orçamento. Espera-se das autoridades, das escolas e do governo, firmeza na repressão à baderna. Ao serem fracos e bonzinhos perpetuarão esse liberalismo negativo e nefasto que tanto mal fará à família brasileira e às nossas gerações futuras. Prefiro não pensar que ser bonzinho e não coibir a bagunça sejam a estratégia do governo para garantir os preciosos votos desses mal educados rolezeiros.

Concluo com uma frase atribuída a Clint Eastwood: "Todo mundo fala como deixar um planeta melhor para nossos filhos. Na verdade deveríamos tentar deixar filhos melhores para o planeta".
*Carlos Eduardo Leão é médico e cronista

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