domingo, 23 de fevereiro de 2014

Ucrânia tem presidente interino

Turchynov tem até terça-feira para formar um governo de unidade nacional.

O Parlamento ucraniano designou o presidente da Casa, Olexandr Turchynov, como presidente interino até as eleições antecipadas para 25 de maio, após a destituição de fato, no sábado, de Viktor Yanukovytch, que permanece em paradeiro desconhecido.

Turchynov tem até terça-feira para formar um governo de unidade nacional, que será responsável por organizar as eleições e por tentar cicatrizar as feridas abertas pela crise política, que deixou pelo menos 80 mortos e aprofundou ainda mais a divisão do país, que enfrenta uma grave situação financeira.

O partido de Yanukovytch o acusou em um comunicado de ser o "responsável por acontecimentos trágicos" na Ucrânia e condena sua "traição".

"A Ucrânia foi traída, os ucranianos confrontados uns aos outros", afirma o Partido das Regiões, que acusa "Yanukovytch e seus aliados".

Também neste domingo, Yulia Tymoshenko, líder da oposição a Yanukovytch e libertada da prisão no sábado, disse que não aspira o cargo de primeira-ministra.

O centro de Kiev, que durante a semana praticamente virou uma praça de guerra, parecia recuperar o ar de normalidade, apesar da presença das forças de segurança e das barricadas dos manifestantes.

Nas proximidades, as lojas, que permaneceram fechadas nos últimos dias, começaram a abrir as portas.

Ao mesmo tempo, foram registrados saques na sede do Partido Comunista, aliado do partido de Yanukovytch no Parlamento, e a fachada do prédio foi pintada com palavras como "criminosos", "assassinos", "escravos de Yanukovytch".

Desde o início da semana, quase 40 estátuas de Lenin foram derrubadas ou destruídas, principalmente na região leste do país.

Na luxuosa residência do presidente deposto foram encontrados documentos que detalham um sistema de subornos organizado e uma lista de jornalistas que deveriam ser vigiados.

A casa, que será restituída ao Estado por decisão do Parlamento, permaneceu aberta durante a noite para que os cidadãos pudessem constatar o luxo e a suntuosidade do lugar, considerado o símbolo da corrupção do regime.

Fora do país, o governo dos Estados Unidos e o Fundo Monetário Internacional (FMI) ofereceram ajuda ao novo governo ucraniano.

A comunidade internacional teme que a crise tenha aprofundado a divisão entre o leste, de língua russa e pró-Moscou, majoritário, e o oeste nacionalista de língua ucraniana.

A chefe de Governo da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente russo, Vladimir Putin, concordaram neste domingo que é necessário preservar "a integridade territorial" da Ucrânia, informou um porta-voz do governo alemão.

O governo dos Estados Unidos também afirmou que uma divisão da Ucrânia não é do interesse de ninguém.

Protesto de manifestantes pró-Rússia

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, pediu às autoridades políticas ucranianas que atuem de "maneira responsável" para manter a "integridade territorial" e a "unidade" do país.

Na mesma linha, a chanceler alemã, Angela Merkel, pediu a Tymoshenko que trabalhe pela "unidade do país" e pela "unidade da atual oposição". O partido da ex-primeira-ministra, que estava detida desde 2011, anunciou que as duas se encontrarão em breve.

Em Kharkov, cidade do leste do país, as autoridades locais questionaram a legitimidade do Parlamento ucraniano, que segundo elas trabalha "sob a ameaça das armas".

Em Sebastopol (Crimeia, sul), 2.000 pessoas protestaram contra os "fascistas no poder em Kiev".

"Golpe de Estado" 

Em um sábado frenético, o Parlamento ucraniano votou o que apresentou como vazio de poder para justificar a destituição de fato do chefe Estado e convocar eleições presidenciais antecipadas em 25 de maio.

"Yanukovytch se afastou do poder, não exerce mais suas funções", afirmava a resolução. No entanto, o interessado, eleito em 2010 e cujo mandato seguia até março de 2015, afirmou que não tem intenção de renunciar.

Yanukovytch afirmou que era vítima de um golpe de Estado e que foi eleito de modo legítimo, em um discurso divulgado no sábado.

Segundo Turchynov, Yanukovytch tentou fugir para a Rússia, mas a guarda de fronteira o impediu. Os agentes afirmaram que ele ofereceu suborno para tentar obter a permissão de voo.

"Yanukovytch foi nocauteado", disse um dos líderes da oposição, o campeão mundial de boxe Vitali Klitschko, que pode ter um papel político importante nos próximos meses.
AFP

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