Marcus Eduardo de Oliveira
Foi a partir do crescimento exponencial da economia global, alterando substancialmente as relações existentes “dentro” do meio ambiente, que se estabeleceu a suprema e inadiável necessidade de uma reflexão mais detalhada e mais cuidadosa entre a economia e a ecologia.
Até a chegada da Revolução Industrial, a economia “cabia” dentro da ecologia; o sistema econômico era pequeno em relação à grandeza de um sistema ambiental que lhe fornecia matéria e energia, servindo ainda de “baú” para a absorção de toda a produção econômica.
Após a economia global atingir escalas de crescimento sem precedentes na história, tornou-se clara a existência de limites da natureza para continuar “servindo” à atividade produtiva.
O sistema econômico então passou a “engolir” o sistema ecológico. A economia já não mais “cabia” dentro do sistema ecológico. A visão de progresso ilimitado, propugnada especificamente por um sistema econômico expansivo que engendra esforços para produções em larga escala, e, em curto espaço de tempo, está além da capacidade de suporte do planeta.
A capacidade de oferta de recursos naturais, bem como a “disposição” em receber os resíduos vindos da atividade econômica tornou a ecologia “pequena” frente a uma economia cada vez mais expansiva, mais produtiva, mais poluidora e muito mais destruidora das bases e do patrimônio da natureza.
O salto do crescimento econômico global foi absurdamente avassalador: a economia saiu de um PIB global de US$ 4,5 trilhões, em 1950 para, 50 anos depois, atingir US$ 50 trilhões. De 2000 para cá, o PIB mundial cresceu em mais US$ 25 trilhões.
O crescimento contínuo da atividade econômica é, simplesmente, incompatível com uma biosfera (conjunto de todos os ecossistemas da Terra) finita. Insistir num acentuado crescimento físico da economia, tendo em conta a finitude dos recursos naturais e energéticos é incorrer gravemente em mais custos (ambientais) que benefícios (econômicos).
Quanto mais as economias modernas crescem, mais se dilapidam os principais serviços ecossistêmicos; mais vidas humanas, fauna e flora se perdem em decorrência de alterações climáticas, fruto de ações antrópicas, “patrocinadas” pela atividade expansiva de uma economia que se pretende ser rotulada de “moderna”; como se o sinônimo mais “vivo e real” da modernidade fosse, de fato, a aquisição material.
Na esteira do crescimento econômico, a depleção se acentua e o conflito ambiental emerge. Lester Brown assevera que “pode-se comprovar que a economia está em conflito com os sistemas naturais da Terra nas notícias diárias de colapso de pesqueiros, encolhimento de florestas, erosão de solos, deterioração de pradarias, expansão de desertos, aumento constante dos níveis de dióxido de carbono (CO2), queda de lençóis freáticos, aumento da temperatura, tempestades mais destrutivas, derretimento de geleiras, elevação do nível do mar, morte de recifes de coral e desaparecimento de espécies”.
Mais produção, para atender a mais consumo, faz o planeta “pedir socorro”. O consumo humano ultrapassou em 30% a capacidade de reposição dos bens e serviços naturais produzidos pela Terra. Fato irretocável é que a Terra é um “ser vivo” que se mexe e não suporta tamanha agressão.
Da reflexão entre a economia e a ecologia, que começamos a falar no início, faz-se necessário surgir, brevemente, um caminho alternativo que rompa, definitivamente, com a cultura do consumo que “virou” um consumismo desenfreado.
Economista. Especialista em Política Internacional e Mestre em Integração da América Latina (USP). Professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo | prof.marcuseduardo@bol.com.br
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