domingo, 6 de abril de 2014

'Sou feliz, apesar dos problemas', diz Papa


A ideia era que fosse um encontro de 20 minutos, mas durou 45. Há poucos dias, o Papa recebeu cinco jovens belgas (flamencos) e, com eles, conversou. O encontro foi gravado e é possível ver alguns trechos aqui.

A reportagem é de Andrea Tornielli.

A iniciativa começou graças a um grupo de comunicação, o “Verse Vis”, da pastoral jovem de Flandres (região norte da Bélgica). Quinze jovens trabalharam nela e, graças a D. Lucas Van Looy, arcebispo de Gent, o grupo conseguiu a entrevista com o Pontífice, realizada na biblioteca do Palácio Apostólico, no dia 31 de março. Os cinco jovens que participaram fizeram perguntas em inglês e Francisco respondeu em italiano. É um documento riquíssimo, principalmente pela espontaneidade do diálogo. No início, Papa Bergoglio afirmou que tem como um dever dar respostas as inquietude dos jovens.

Os jovens “têm inquietudes, e eu sinto como um dever servir a estes jovens, porque a inquietude é como um sinal. Sinto que devo realizar um serviço para o que é mais precioso nesse momento que é a inquietude dos jovens”, disse o Papa respondendo a primeira pergunta: “Por que aceitou dialogar conosco?”.

Falando sobre os pobres, Francisco disse: “Esta é a alma do Evangelho, eu creio em Deus e em Jesus Cristo, para mim a alma do Evangelho são os pobres. Há dois meses escutei uma pessoa que disse: ‘sempre fala dos pobres, este Papa é um comunista!’ Não, esta é uma bandeira do Evangelho, a pobreza sem ideologia: os pobres estão no centro do Evangelho de Jesus”.

“Neste momento da história – continuou o Pontífice – o homem foi expulso do centro, deslocou-se para a periferia e, no centro, pelo menos até o momento, está localizado o poder, está o dinheiro. Neste mundo, os jovens são expulsos. As crianças são expulsas (não queremos crianças, apenas pequenas famílias), e os mais velhos também são expulsos: muitos deles morrem através de uma eutanásia oculta, porque não recebem cuidados de ninguém E agora os jovens também são expulsos: na Itália, por exemplo, o desemprego a partir dos 25 anos é de quase 50%. Adentramos em uma cultura do desperdício: os velhos, as crianças, os jovens”. Contudo o Papa, ao se referir a sua experiência em Buenos Aires, disse que havia se reunido e conversado “com muitos jovens políticos”, de direita e de esquerda, e que estava “contente, porque falavam através de uma nova música, um novo estilo de política”.

Ao responder a uma pergunta sobre o futuro da humanidade, Francisco disse: “Onde está Deus e onde está o homem? Você, homem do século XXI, onde está? E isto me faz pensar: onde está Deus? Quando o homem encontra a si mesmo, busca a Deus, talvez não consiga encontra-lo, mas segue um caminho de honestidade ao buscar a verdade, um caminho de bondade e de beleza. O caminho é longo e algumas pessoas não encontram a Deus em suas vidas, mas são verdadeiras e honestas consigo mesmas, amantes da beleza que, ao final, têm uma personalidade capaz do encontro com Deus, e isto sempre é uma graça”.

Os jovens perguntaram a Francisco se ele erra. “Já errei e sempre erro”, respondeu sorrindo. Costuma-se dizer que o ser humano é o único animal que tropeça duas vezes no mesmo lugar. Na minha vida os erros têm sido assim, grandes professores. Não diria que aprendi com todos os meus erros: de alguns não, também sou teimoso. Entretanto aprendi com muitos outros erros, e isto me fez bem”. Os jovens pediram que ele desse um exemplo concreto: “Direi a vocês... tenho-o escrito em um livro, está publicado. Fui nomeado superior quando era muito jovem, tinha 36 anos, e cometi muitos erros com o autoritarismo. Depois aprendi que deve-se dialogar, ver o que os demais estão pensando. Mas ainda não aprendi tudo... ainda me equivoco”.

Também perguntaram ao Papa se ele tem medo de algo. “De mim mesmo!”, respondeu com outro sorriso. “No Evangelho, Jesus repete muitas vezes: ‘Não tenham medo!’. Diz isto muitas vezes, porque sabe que o medo é algo normal, entre aspas: temos medo dos desafios da vida, medo frente a Deus. Todos temos medos, todos, não devemos nos preocupar por termos medo... Deve-se buscar clarear a situação. Há um medo mau e um medo bom: este último é a prudência. O mau te deixa nebuloso, não te deixa atuar e deste nós temos que nos afastar”.

O menino que filma a entrevista com uma pequena câmera de vídeo pergunta se ele é feliz. Francisco os presenteia com outro sorriso e responde com segurança: “Absolutamente. Sou completamente feliz. Tenho certa paz interior, uma grande paz. É uma felicidade que vem com a idade e também com a caminhada. Na minha vida, inclusive agora, sempre tive problemas, porém esta felicidade não se vai com os problemas”.

A última pergunta dos jovens belgas: “Tem algo que queira nos perguntar?”. “Não é uma pergunta original, a tiro do Evangelho, mas acredito que depois de tê-los escutado é a pergunta adequada neste momento: onde está teu tesouro, onde descansa teu coração? Sobre qual tesouro descansa teu coração? Porque onde estiver seu tesouro, está sua vida. O coração se apega ao tesouro: pode ser o dinheiro ou o orgulho, a bondade, a beleza, o desejo de fazer o bem. Esta resposta vocês devem dar a si mesmos, sozinhos, em sua casa. Obrigado, lhes agradeço muito e rezem por mim”.
Vatican Insider, 04-04-2013

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