quinta-feira, 15 de maio de 2014

Jesuítas veem Europa em 'busca de sentido'

Ordem religiosa católica defende concepção do continente longe dos fechamentos identitários.
Por Bernadette Sauvaget
 
Adivinhação. Quantos são os jesuítas na União Europeia? 5.003, para ser exato, ou seja, mais de um quarto do efetivo mundial da Companhia de Jesus, ordem religiosa masculina, que, por outro lado, é a maior, numericamente falando, da Igreja católica. E qual é o país dentre os 28 membros da União Europeia que tem o maior número de jesuítas? A Espanha, terra natal do fundador Inácio de Loyola, com 1.300 jesuítas. Se a Companhia de Jesus tem um tropismo europeu, é quase genético. "Nossos próprios fundadores vieram de diferentes países", diz Arnaud de Rolland, o braço direito do provincial na França.
 
Assim, as eleições europeias mereceram, nessa terça-feira (13), para os jesuítas franceses, ainda pouco acostumados ao exercício, uma coletiva de imprensa. Tratava-se, em primeiro lugar, de recordar que o projeto europeu é uma "utopia", sempre em devir, a ser finalmente relançado, e um projeto “em busca de sentido" e de “espiritualidade", assinala François Boëdec, coordenador do departamento de ética pública do Centro Sèvres. “A Europa sempre avançou na base de compromissos", reconhece também. Em suma, no momento da desconfiança em relação a uma União Europeia vista apenas como tecnocrática ou econômica, trata-se principalmente de encontrar um novo alento.
 
Várias concepções cristãs da Europa
 
Mas, não é questão de relançar a antiga disputa sobre as raízes cristãs da Europa, de defender, enquanto tais e por si, valores ou uma identidade. "Mesmo se a dimensão cristã da Europa é óbvia", diz François Euvé, diretor da revista Études. Esta identidade, qualquer que seja, foi construída na "pluralidade". "A teologia católica medieval deve muito ao diálogo que teve com o judaísmo e o islamismo", diz o diretor da Études. Na Europa, o cristianismo também é plural, católico e protestante no oeste e majoritariamente ortodoxo no leste. Contra o fechamento identitário, os jesuítas argumentam a favor da renovação da cultura do debate e do respeito exatamente à "pluralidade".
 
"Os próprios cristãos não têm a mesma concepção de Europa", reconhece, por outro lado e com facilidade, François Boëdec. Ou as mesmas prioridades. Todos estão de acordo em fazer do respeito à dignidade da pessoa humana um dos eixos fundamentais da luta dos cristãos na política. Não obstante esta bandeira seja defendida tanto pelos defensores da La Manif pour Tous e dos pro-life, como pelos defensores do cristianismo social, preocupados em primeiro lugar com a justiça social.

Mesmo se a transição energética e ecológica é um dos principais desafios da União Europeia, de acordo com os jesuítas franceses, pode ser feita sem justiça social? "Oito milhões de famílias francesas já são obrigadas a escolher entre se alimentar, se aquecer ou se deslocar", observa Bertrand Hérard Dubreuil, diretor do Ceras, um think tank cristão do pensamento social. Muito solicitados desde a eleição do Papa Francisco, o primeiro jesuíta a ocupar o cargo, seus companheiros estavam visivelmente decididos a encarnar eles próprios a pluralidade e mostrar a diversidade política e social dos cristãos.
Libération, 13-05-2014.

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