Pintada por Goya, a obra faz parte de exposição em cartaz no Metropolitan de Nova York.
Por Marco Lacerda*
Nos últimos dias, a Ala Lehman do Museu Metropolitan de Nova York tem recebido um número surpreendente de visitantes, embora muitos não saibam o motivo de tanto interesse. Não era apenas pelo fato de a magnífica coleção de quadros, esculturas e tapeçarias exibidos num anexo que reproduz o ambiente do apartamento do banqueiro Robert Lehman ter algo a ver com o imponente banco que foi a falência em 2008.
Desde 1850, a marca "Lehman Brothers" esteve ligada à estirpe de banqueiros, mas a partir da bancarrota passou a ser associada ao gosto e à fortuna de colecionadores que transformaram um gesto de filantropia no melhor investimento da história da família.
Uma das obras mais importantes da coleção dos Lehman faz parte da exposição inaugurada semana passada no Metropolitan, ‘Goya e a família Altamira’, que o pintor espanhol Francisco de Goya realizou por encomenda do conde de Altamira, entre 1786 e 1788 e que poderá ser vista até 3 de agosto no museu de Nova York.
Entre as cinco obras que compõem a mostra está a mais importante aquisição feita pelos Lehman desde que iniciaram sua coleção no século 18, o retrato do pequeno Manuel Osorio Manrique de Zuñiga, conhecido como ‘O Menino Vermelho’. Nele Goya exibe sua perícia técnica em detalhes como os animais que acompanham o garoto, antecipando o tratamento cruel que ele dedicaria ao reino animal em sua época. Manuel, famoso por seu olhar perverso, morreu misteriosamente antes de completar dez anos.
Também fazem parte da exposição, com curadoria de Xavier F. Salomon, os retratos dos dois irmãos de Manuel, Juan e Vicente, da mãe, a condessa de Altamira com a filha Maria Agustina nos braços, e do conde Vicente Isabel Osorio de Moscoso y Guzmán, conhecido por sua baixa estatura - para enfatizar esse detalhe, Goya o retratou sentado numa poltrona com o braço esquerdo apoiado numa mesa que chega até a sua axila.
Na época Goya foi contratado para realizar uma série de retratos de pessoas ligadas ao Banco de San Carlos, precedente do atual Banco da Espanha, do qual o conde de Altamira, figura importante na sociedade de Madrid, foi um dos primeiros donos. Satisfeito com a primeira tela, o aristocrata encomendou os retratos do restante do clã. Foi a estreia do artista na fina flor da nobreza espanhola. Não surpreende, portanto, que, passados mais de três séculos, ‘O menino Vermelho’ viesse parar nas mãos dos Lehman, outra dinastia de banqueiros.
"O Menino de Vermelho", de Francisco Goya. Veja o vídeo.
*Marco Lacerda é escritor, jornalista e Editor-Especial do Domtotal.
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