quinta-feira, 8 de maio de 2014

Ser ou não ser

08/05/2014  |  domtotal.com

Hamlet: príncipe dinamarquês abalado pelo casamento da mãe com o suposto assassino de seu pai.

Gilmar P. da Silva SJ*
“A arte não é um espelho da realidade, e sim um martelo para modelá-la”. Sob este mote pode-se ler toda a obra de Bertold Brecht (1898-1956), grande dramaturgo alemão fundador do Berliner Ensemble – companhia teatral que desembarca na capital mineira para o FIT (Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte). Criada em 1949, o grupo é herdeiro direto da tradição brechtiana de arte experimental e engajada, defensora do estranhamento anti-ilusionista no teatro. Embora não se restrinja mais aos métodos de seu fundador, pode-se notar muito de sua influência na preparação dos atores.
O grupo alemão apresentará Hamlet, de William Shakespeare. A peça narra a história do príncipe dinamarquês abalado pelo casamento da mãe com o suposto assassino de seu pai. A aparição do fantasma do rei, exigindo contas de sua morte, leva o melancólico e reflexivo filho a um jogo sangrento em busca de vingança. A montagem contemporânea é assinada pelo diretor Leander Haußmann e marca a comemoração dos 450 anos do nascimento de Shakespeare e dos 20 anos do FIT. Encenada em alemão, terá legendas em Português, e será exibida nos dia 17 e 18 de Maio no Palácio das Artes. Ela se soma a outros 17 espetáculos internacionais e 37 nacionais (sendo 25 locais) que acontecem pelos palcos e ruas da cidade, totalizando 168 apresentações. A programação, que acontece entre os dia 06 e 25 deste mês, pode ser conferida em fitbh.com.br.
A vingança de Hamlet não é de ordem política, mas pessoal. Sua tristeza se torna ira. Soma-se ao seu pecado a lascívia da mãe e o desejo de poder do tio. Uma das possibilidades de leitura da peça é a questão da possibilidade do mal, ao qual mesmo os justos podem sucumbir. Outra leitura é de ordem psicanalítica. Teria o jovem príncipe o desejo de ele próprio ter matado o pai e estar com a mãe. De qualquer forma, a peça evidencia as paixões que movem o ser humano. Se um grupo de base brechtiana tiver o poder de derrubar a “quarta parede”, que isola atores e público, e assim emancipar o espectador, como o queria seu fundador, poderá provocar o questionamento sobre sua própria inclinação ao mal.  Parafraseando Hamlet, poder-se-á dizer: Há algo de podre no reino do coração. É a partir dele que a escolha fundamental é feita, sobre si mesmo: “To be or not to be, that's the question”.

*Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia kierkegaardiana. 

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