segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A literatura brasileira agoniza

Prova inequívoca é a profusão de livros de auto- ajuda, manual de negócios, receitas de sucesso.

Por Ricardo Soares*

Morreu Ariano Suassuna, morreu João Ubaldo Ribeiro e a literatura brasileira também não está passando muito bem. Às vezes, acho que ela agoniza quando vejo a profusão de livros de auto- ajuda, manual de negócios, receitas de sucesso, sessões de terapia nessa hemorragia de péssimos títulos que virou a bibliografia nacional sobretudo a literária. Prova inequívoca são as livrarias de aeroportos onde você fuça, fuça e não acha nada. Prova inequívoca é quando você vê a mídia nativa ter problemas em catalogar gêneros achando que literatura é tudo aquilo que está publicado num livro. Em muitos casos, não é literatura não. É ruindade mesmo.

Biografias de celebridades inócuas, manuais práticos de vampirismo adolescente, croniquetas de costumes que reviram as entranhas de tão óbvias são alguns dos muitos ingredientes oferecidos aos que se aventuram em livrarias não especializadas como as ( repito) de aeroportos onde tenho a infelicidade de entrar semana sim ,semana não ou várias semanas seguidas.

O tempo passa, o tempo voa e segue firme e forte o cortejo da obviedade, da ruindade, a liturgia de transformar livro que tem mídia em livro bom, costume turbinado pelas grandes editoras, mais preocupadas em ofertar “produtos ao mercado” do que qualidade. É a seara da quantidade. Enorme quantidade de livrecos infantojuvenis feitas em fórmulas já manjadas, junto a narrativas urbanas eivadas de palavrões e trepadinhas escapistas nas quitinetes das metrópoles sempre com um olho no mercado e outro nas toscas adaptações televisivas e cinematográficas.

A nossa literatura vive uma entressafra? Está na hora de trocar garrafas? A resposta para as duas questões é um sim rotundo guardado dentro do peito. Marcos Rey, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, os citados falecidos que abrem essa crônica e mais uma legião que já pegou um bonde para as estrelas não deixou herdeiros, sucessores e sequer passou bastões, nesse corrida perdida da qualidade. Vejo vigor na narrativa argentina, na colombiana, na francesa e (uau) na portuguesa. Aqui seguimos à míngua, com mais dos mesmos, e procuramos exceções entre as regras.

São tão poucos os que ainda praticam boa literatura que realmente não me causa mais espanto algum quando vejo a mídia colocar na mesma nau o falecido Ariano, o falecido João Ubaldo e o falecido Rubem Alves. Os dois primeiros faziam literatura. O último auto-ajuda que frequentou universidade. Nem com muita boa vontade pra se dizer que se equivaliam. Mas, como dizia o também finado poeta Mário Quintana “literatura não é corrida de cavalo”. É corrida de mercado. E, quer saber? Prefiro ainda um país que leia muito Rubem Alves do que um país que não leia nada. Mas que nossa literatura agoniza, ah, isso agoniza...
*Ricardo Soares é diretor de TV, escritor, roteirista e jornalista. Titular do blog Todo Prosa (www.todoprosa.blogspot.com) e autor, entre outros, dos livros Cinevertigem, Valentão e Falta de Ar. Atualmente diretor de Conteúdo e programação da EBC- Empresa Brasil de Comunicação.

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