quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Igreja deve atuar na formação política, diz bispo


Em entrevista, bispo auxiliar de BH fala da participação da CNBB nas eleições deste ano.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem se feito notar constantemente e de forma pedagógica nas eleições que se realizam no país. Pelas "Cartilhas de Orientação Política" dirigidas aos eleitores, os bispos passam informações, apresentam princípios, provocam reflexões, convocam os cidadãos a exercer o direito e o dever de participar da vida política.

Neste ano não será diferente. Para conhecer melhor o assunto, ouvimos o bispo Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte (MG), reitor da PUC Minas; na CNBB ele presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Educação e Cultura e também a Comissão que acompanha e promove o processo de Reforma Política no Brasil.

Padre César Moreira: Como nasceu a ideia de os bispos do Brasil agirem ativamente na formação política dos eleitores através das "cartilhas"?

Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães: Os bispos e toda a Igreja atuam e devem mesmo atuar na formação política porque, como diz o papa Francisco, na Exortação Apostólica A Alegria do Evangelho “ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional”. Francisco escreveu, nesta mesma exortação, um ensinamento tão belo e incisivo, que tenho ajudado as pessoas a memorizá-lo e guardá-lo no coração para ser traduzido, a cada dia, na prática da vida. Ele diz assim: uma fé autêntica... comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo... e deixar a terra um pouco melhor depois de nossa passagem por ela. A nossa fé cristã deve lançar luz sobre todas as realidades da vida humana pessoal, familiar, comunitária e coletiva; onde quer que haja sombra, a luz da fé em Cristo é chamada a iluminar. As eleições tocam a vida de todas as pessoas. Se elegemos bons políticos, todos se beneficiam. Se elegemos maus políticos, o povo perece, especialmente os mais pobres. Para alcançar todo o povo na preparação às eleições, optamos por usar cartilhas. As cartilhas contêm textos concisos, apresentados de forma didática, com linguagem acessível, sobre temas essenciais. Ao final de cada capítulo sugerimos algumas perguntas que ajudam o leitor – sozinho ou em grupo – a aprofundar o assunto e cultivar a espiritualidade no contexto das eleições. Além disto, uma cartilha é baratinha, todo mundo pode adquirir.
 
Padre César Moreira: Qual é, em síntese, o conteúdo das "cartilhas"? Há diferença entre o conteúdo deste ano e relação às eleições anteriores?

Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães: A cartilha deste ano chama-se “Eleições 2014 – Seu voto tem consequências: um novo mundo, uma nova sociedade”. O conteúdo está distribuído em três capítulos clássicos: Ver, Julgar e Agir. No capítulo VER, apresentamos conquistas do povo brasileiro nos últimos anos, tais como a melhoria das condições de vida de muitos brasileiros que estavam na extrema miséria, o aumento real do salário mínimo, a queda na taxa de desemprego, algumas boas iniciativas para melhorar a vida no semiárido nordestino. Apresentamos também graves desafios atuais: o alto custo da dívida pública, a violação dos direitos de indígenas e quilombolas, a falta de reforma agrária e urbana, a deficiência de infraestrutura, a desigualdade social, o domínio da grande mídia por poucos, dentre outros. No capítulo JULGAR, apresentamos, à luz da Exortação do papa Francisco, A Alegria do Evangelho, alguns pontos da economia excludente que nos domina e domina o mundo e alguns pontos que caracterizam o Brasil que queremos, dentre eles, um novo sistema político, através da necessária e urgente Reforma Política, a democratização dos meios de comunicação, o investimento em energias renováveis, a universalização dos diretos humanos, a valorização da ética e do trabalhador. Por fim, no capítulo AGIR, sugerimos ações coletivas, meios de participação e controle social por parte do povo brasileiro, o envolvimento de todos e principalmente dos cristãos, a cidadania como prática pastoral. Na cartilha das últimas eleições nos detivemos mais nos critérios e princípios para uma boa escolha. Desta vez, tocamos mais diretamente pontos muito sérios que afetam a vida do povo. Votar bem é votar com o mínimo conhecimento destas questões.
 
Padre César Moreira: Como se dá a distribuição e o uso delas?

Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães: A cartilha é publicada pelo Centro de Pastoral Popular. Basta telefonar, gratuitamente, para 0800 703 8353 ou usar o endereço eletrônicovendas@cpp.com.br e solicitar o envio da quantidade desejada. As Dioceses, Paróquias, Comunidades podem favorecer a aquisição das cartilhas, mas qualquer pessoa pode adquirir.
 
Padre César Moreira: É possível medir resultados dessa prática de conscientização político-eleitoral?

Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães: Não conseguimos medir com exatidão, porque não fizemos nenhuma pesquisa sobre o resultado esperado. Mas não temos dúvida que todas as pessoas que usam as cartilhas crescem na consciência política e cidadã, comprometem-se mais com as pessoas, entendem que somos um povo e que só unidos podemos mudar nossa realidade.  Há ainda um ponto muito importante: as pessoas que têm esta prática dão o testemunho que a fé cristã não é uma mera filosofia, uma teoria ou uma ideologia qualquer. A fé em Jesus Cristo é um projeto de vida que nos coloca na dinâmica do Reino de Deus anunciado e ofertado por Jesus Cristo. Há uma novidade já praticada desde as últimas eleições e agora está se firmando. Além da cartilha estamos lançando um conjunto de pequenos vídeos de preparação às eleições. Os vídeos ficarão prontos nos próximos dias e estarão disponíveis no site da CNBB do NESP, Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas, Arquidiocese de Belo Horizonte. Os vídeos devem ser multiplicados indefinidamente e usados como acharem melhor. É uma nova linguagem que alcança a todos, mas especialmente os mais jovens. É bacana e interessante.
 
Padre César Moreira: Há reações contrárias a essa prática dos bispos? Há quem ache que os senhores estariam influenciando no voto do eleitor?

Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães: Infelizmente, sim. Bem, talvez não seja tão infelizmente assim. O contraditório ajuda a crescer. O confronto de ideias move a boa compreensão das coisas e refina as reflexões. Este trabalho é feito na comunhão dos bispos do Brasil, através da CNBB. O objetivo não é fazer campanha para candidato algum, mas é uma grande campanha por um Brasil melhor para todos, uma campanha por todos os bons candidatos e candidatas a servirem o povo brasileiro, através de um mandato democrático, ético e comprometido com os mais pobres. A elite brasileira é resistente. Só o povo mais educado politicamente poderá fazer valer a bela ideia de que o Brasil é para todos e pode ter um Estado a serviço da nação.
SIR/CNBB

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