Por Stefano FemminisA história, em meio a sofrimentos atrozes, demonstrou que Hoxha estava errado. Os jesuítas encontram-se novamente em Scutari e em Tirana há mais de 20 anos (por vontade de João Paulo II). Perto daquele muro, em 1998, foi inaugurado o Seminário que acolhe os seminaristas das sete dioceses do país e os albaneses do Kosovo e de Montenegro. Além disso, há um colégio com capacidade para acolher 600 alunos. Na capital, por sua vez, há uma grande paróquia que realiza atividades sociais, sobretudo nas periferias.
Com uma presença tão arraigada, os jesuítas, que na Albânia são principalmente italianos, têm um ponto de observação privilegiado para contemplar a realidade social e religiosa do país que está se preparando para receber um Papa pela segunda vez em sua história. Francisco, no próximo domingo, visitará a capital 21 anos depois da visita de Wojtyla.
Mario Imperatori, jesuíta que mora em Scutari desde 2000 e que coordena o Instituto de Filosofia e Teologia, que faz parte do Seminário, descreve um panorama com luzes e sombras: “Nestas décadas houve uma grande mobilização não apenas para o exterior, mas também internamente, com um forte aumento da população urbana (Tirana passou de 200 mil habitantes para mais de 800 mil), enquanto que as zonas montanhosas estão se despovoando. A economia melhorou, mas não é muito sólida. Se é verdade que a agricultura permite que não se morra de fome, outros setores, como a construção civil, têm bases muito frágeis e, em geral, a diferença entre ricos e pobres aumentou enormemente. No âmbito político, apesar dos progressos na legislação, custa muito a afirmação do estado de direito devido ao efeito negativo produzido por, combinados, uma mentalidade de clãs e um passado em que o único ator econômico-social era o Estado-Partido”.
No entanto, não pesa somente o passado, pois o presente também está cheio de desafios sociais e pastorais. Destacou-o Zef Bisha, de 41 anos, o único padre jesuíta de nacionalidade albanesa: “Ao entrar em contato com o Ocidente, modificaram-se os usos e costumes dos albaneses, globalizando a vida de muitas pessoas. A Igreja deve enfrentar estas mudanças acompanhando as pessoas para que encontrem a própria identidade em uma sociedade ‘líquida’”.
Depois do comunicado oficial da visita papal, houve algumas vozes desgostosas em Scutari, a “capital católica” do país, que não será visitada pelo Francisco. Além disso, houve algumas tentativas de instrumentalizar o encontro das autoridades com o Papa. Mas o padre Imperatori minimiza o efeito destas situações: “Claro, no norte teriam agradecido uma visita do Pontífice, mas para os católicos trata-se, de qualquer maneira, de um momento de graça, que os honra”. O padre Bisha pensa de maneira semelhante, ele que mora em Tirana e que está diretamente envolvido nos preparativos da visita: “Embora o Santo Padre venha apenas para um dia, sua visita curará as feridas e alargará o olhar da Igreja simples que quer crescer”.
A Albânia também é o país mais muçulmano da Europa (excetuando a Turquia), e o padre Imperatori insistiu neste aspecto: “Na minha opinião, este é o aspecto mais importante da viagem do Papa a Tirana. Poderá ser a ocasião para realçar o particular pluralismo religioso albanês, reconhecido inclusive na legislação de um país que, em 1976, introduziu o ateísmo de Estado na Constituição. Esta pluralidade vê-se favorecida pela presença de um islã de inspiração sufi ao lado do islã sunita de tradição turca. A experiência albanesa é interessante porque permitiu circunscrever a influência do islã saudita e wahabita, e espera-se que se possa isolar neste momento os elementos fundamentalistas, que se difundiram em outras zonas dos Bálcãs, como no Kosovo. Neste contexto, a visita do Papa ajudará também a recordar o fato de que o padre Fausti viveu explicitamente seu martírio em uma perspectiva islamo-cristã, como mostram seus diários”.
Com uma presença tão arraigada, os jesuítas, que na Albânia são principalmente italianos, têm um ponto de observação privilegiado para contemplar a realidade social e religiosa do país que está se preparando para receber um Papa pela segunda vez em sua história. Francisco, no próximo domingo, visitará a capital 21 anos depois da visita de Wojtyla.
Mario Imperatori, jesuíta que mora em Scutari desde 2000 e que coordena o Instituto de Filosofia e Teologia, que faz parte do Seminário, descreve um panorama com luzes e sombras: “Nestas décadas houve uma grande mobilização não apenas para o exterior, mas também internamente, com um forte aumento da população urbana (Tirana passou de 200 mil habitantes para mais de 800 mil), enquanto que as zonas montanhosas estão se despovoando. A economia melhorou, mas não é muito sólida. Se é verdade que a agricultura permite que não se morra de fome, outros setores, como a construção civil, têm bases muito frágeis e, em geral, a diferença entre ricos e pobres aumentou enormemente. No âmbito político, apesar dos progressos na legislação, custa muito a afirmação do estado de direito devido ao efeito negativo produzido por, combinados, uma mentalidade de clãs e um passado em que o único ator econômico-social era o Estado-Partido”.
No entanto, não pesa somente o passado, pois o presente também está cheio de desafios sociais e pastorais. Destacou-o Zef Bisha, de 41 anos, o único padre jesuíta de nacionalidade albanesa: “Ao entrar em contato com o Ocidente, modificaram-se os usos e costumes dos albaneses, globalizando a vida de muitas pessoas. A Igreja deve enfrentar estas mudanças acompanhando as pessoas para que encontrem a própria identidade em uma sociedade ‘líquida’”.
Depois do comunicado oficial da visita papal, houve algumas vozes desgostosas em Scutari, a “capital católica” do país, que não será visitada pelo Francisco. Além disso, houve algumas tentativas de instrumentalizar o encontro das autoridades com o Papa. Mas o padre Imperatori minimiza o efeito destas situações: “Claro, no norte teriam agradecido uma visita do Pontífice, mas para os católicos trata-se, de qualquer maneira, de um momento de graça, que os honra”. O padre Bisha pensa de maneira semelhante, ele que mora em Tirana e que está diretamente envolvido nos preparativos da visita: “Embora o Santo Padre venha apenas para um dia, sua visita curará as feridas e alargará o olhar da Igreja simples que quer crescer”.
A Albânia também é o país mais muçulmano da Europa (excetuando a Turquia), e o padre Imperatori insistiu neste aspecto: “Na minha opinião, este é o aspecto mais importante da viagem do Papa a Tirana. Poderá ser a ocasião para realçar o particular pluralismo religioso albanês, reconhecido inclusive na legislação de um país que, em 1976, introduziu o ateísmo de Estado na Constituição. Esta pluralidade vê-se favorecida pela presença de um islã de inspiração sufi ao lado do islã sunita de tradição turca. A experiência albanesa é interessante porque permitiu circunscrever a influência do islã saudita e wahabita, e espera-se que se possa isolar neste momento os elementos fundamentalistas, que se difundiram em outras zonas dos Bálcãs, como no Kosovo. Neste contexto, a visita do Papa ajudará também a recordar o fato de que o padre Fausti viveu explicitamente seu martírio em uma perspectiva islamo-cristã, como mostram seus diários”.
Vatican Insider, 17-09-2014
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