21/11/2014 | domtotal.com
Gilmar P. da Silva SJ*
A melancolia do fim do ano não é estranha. Há um sentimento que não é exatamente tristeza porque, diferente desta, não possui um objeto específico. Quando se entristece, entristece-se por algo ou com algo. Já a melancolia não. Ela não é causada por algo determinado. É só um sentimento estranho, talvez um estranhamento sobre si mesmo ou sobre o próprio lugar no mundo, o que daria quase no mesmo. De fato, é daqueles sentimentos que dizem respeito ao sentido da própria vida.
Olhar para trás e atentar à própria história, com tudo aquilo que ela resulta no presente, pode gerar certa angústia sobre o futuro. Mas a melancolia é um estranhar-se de si. Pois bem, somos também produto dos nossos encontros. Não digo que somos simples fruto do meio, mas sobretudo de nossas escolhas, daquilo que fazemos com o que nos sucede. Por isso o termo encontro é melhor. Tem coisas com as quais vamos ao encontro e outras que vamos de encontro. Não quero bancar o professor Pasquale – aliás, a internet já está cheia de pessoas corrigindo o português alheio, mesmo quando o “erro” é intencional – mas há uma grande diferença. “Ao encontro” tem o sentido de favorável e “de encontro” tem o sentido de oposição. Excurso, a vida é feita de encontros que vão nos afetando; uma interferência mútua, pois não só somos afetados como também afetamos aquilo que encontramos.
Talvez seja essa a razão da melancolia, do estranhamento que sentimos. Estamos em mudança constante e os ambientes nos quais nos inserimos também, uma vez que toda presença interfere no espaço, a começar da nossa própria. Sei que sou eu mesmo mas já não sinto que sou o mesmo nem o mundo. E novamente tenho que me conhecer, reconhecer. Contudo, isso não é razão para dor, mas para uma deliciosa tarefa de reinvenção. Confesso que às vezes isso cansa e a gente quer definições, estabilidade, segurança. Quanta tolice! Quem não quer mudança, quem quer se cristalizar, morre. A vida é movimento. Por isso quem quer guardar a própria vida, quem foge dos riscos que a mudança traz, acaba por não perde-la; porém quem se movimenta e perde a vida conhecida, arriscando novas, este a ganha.
Não sei para você, mas esse ano tive muitos e bons encontros. Novos lugares, sonoridades, pessoas, trabalhos, conhecimento... Olho-me com estranhamento. Todavia, minha melancolia é cheia de esperança. Não teme perder, quem não tem medo de encontrar. E como é bom perder-se num abraço, na história de um livro, no sorriso (ou na boca) de quem se ama, nos sons que vagam o espaço! Se posso lhe dar uma dica é esta: que você se perca em cada encontro!
Vista pro mar
Um encontro singular que acontecerá é o dos cantores Fernanda Takai e Silva, no dia 06 de dezembro, na casa de shows Granfinos, em Belo Horizonte. O encontro das vozes singelas (sem aquelas firulas e melismas que estão homogeneizando a música) faz com o que a faixa Okinawa do novo álbum do capixaba ganhe tons suaves como o céu de uma tarde que cai. O primeiro trabalho de Silva, Claridão, trazia uma melancolia mais acentuada; em Vista Pro Mar, a sensação é de um grande encontro que logo se dissipará, mas nem por isso deixa de ser feliz. Aqui o músico não só amadurece musicalmente como existencialmente. Há de se mencionar ainda que Tássia Holsback abre o show com intensidade que lhe é peculiar.
Show Vista Pro Mar – Silva (participação de Fernanda Takai)
Abertura com Tassia Holsback – 22h30
Local: Casa de Shows Granfinos – Av. Brasil, 326.
Ingressos:
Meia Promocional: 40,00
Inteira Promocional: 80,00
Meia social: 50,00 (mediante doação de água para comunidades da RMBH atingidas ou em situação de risco)
Inteira: 100,00
Meia entrada: 50,00
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