Padre Geovane
Saraiva*
Jesus quer
sempre salvar o seu povo e saciar sua fome e sede de dignidade, nada se pode coibir na
ação de Deus, a qual se manifesta mesmo quando nos deparamos com resistência e
ventos contrários. Como é salutar às pessoas sentirem-se envolvidas em luz e
confiantes na proteção divina, tal como rezamos no Livro Sagrado: “O Senhor é
minha luz e salvação; de quem eu terei medo? O Senhor é a proteção de minha
vida; perante quem eu tremerei?” (cf. Sl 27,1). São João da Cruz, ao nos
assegurar que “No entardecer da vida seremos julgados pelo amor”, nos propõe um
exigente programa de vida.

Sobre a questão
dos emigrantes e itinerantes, o Cardeal Reinhard Marx frisa que o Papa
argentino “colocou o dedo na ferida” ao falar da Ilha de Lampedusa, na costa
italiana, que tem sido palco de incontáveis mortes de emigrantes africanos.
Homens e mulheres, muitas vezes famílias inteiras que se jogam ao mar em busca de
uma porta de entrada para a Europa, na esperança de um futuro melhor. “O Papa
não se limitou a alertar os deputados europeus para o fato de o Mediterrâneo
ter se transformado em um grande cemitério, desafiou-os a mostrarem-se
solidários para com os problemas dos migrantes e a tomarem medidas concretas
para a sua resolução”, complementa o presidente da COMECE. Sem esquecer o lado
existencial das pessoas, afirmou o Bispo de Roma no Parlamento Europeu: “Uma
das doenças que vejo mais difundidas hoje na Europa é a solidão, própria
daqueles que não possuem vínculos”.
Voltando-me mais
uma vez ao místico e poeta São João da Cruz, o qual nos presenteia com o poema
“a noite escura da alma”, ao narrar os empecilhos do interior humano, no apego
as coisas do mundo, no sentido de atingir o sentido completo da transcendência,
que é a luz verdadeira de Deus, manifestado ao mundo no seu Filho Jesus. Deste
modo, podemos caracterizar Francisco diante da realidade indizível e misteriosa
do presépio como outro São João da Cruz,
na humilde súplica de paz: “Rezemos de modo especial por todos que sofrem
perseguições por causa da fé", lançando um convite à
"esperança", a não se deixar deprimir nem se assustar por causa da
realidade feita de “guerras e sofrimentos”. O Papa recordou como as grandes
construções que ignoraram Deus estão destinadas a desabar. Foi assim com a
"malvada Babilônia", que caiu na corrupção e a mesma coisa com a
"distraída Jerusalém", que caiu por ser "autossuficiente",
incapaz de perceber em Jesus o Salvador da humanidade. Neste sentido, Francisco
convida-nos a dizer não a depressão e um sim à esperança. Para o cristão, a
atitude reta é sempre a "esperança", nunca a "depressão",
disse o papa na missa de 27.11.2014, dedicada à Bem Aventurada Virgem da Medalha
Milagrosa, encarnada na espiritualidade das filhas da Caridade de São Vicente
de Paulo, a congregação que presta serviço nesta Casa. Babilônia é o “símbolo
de qualquer sociedade, cultura ou pessoa que se afasta de Deus, do amor ao
próximo, acabando por apodrecer em si mesma”. No fim, “Babilônia cai por causa
do apego aos bem temporais, da corrupção e do afastamento de Deus".
Concluo com as
palavras do Romano Pontífice, voz dos que não tem voz, indignado com a dor,
sofrimento e carência de toda natureza, nunca dormindo no ponto, bem longe da
indiferença e do comodismo: “Quando pensamos no fim da nossa vida, do mundo –
explicou – com todos os nossos pecados, com a nossa história pessoal, pensemos
no banquete que nos será oferecido gratuitamente e levantemos a cabeça”. Não à
“depressão”, sim à “esperança”. É verdade que “a realidade é feia: há muitos
povos e cidades que sofrem; tantas guerras, ódio e inveja; muita mundanidade
espiritual e corrupção”. Mas “tudo isto passará”. Eis o motivo pelo qual
devemos “pedir ao Senhor a graça de estar preparados para o banquete que nos
espera, com a cabeça sempre levantada”. Assim seja!
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