09/12/2014 | domtotal.com
As cenas das ruas de Veneza são um verdadeiro espetáculo, um burburinho festivo de encher os olhos.
Por Lev Chaim*
Era o nosso último dia em Veneza. As malas já estavam fechadas, no saguão do hotel, a nossa espera, para irmos ao aeroporto às 18 horas. Já havíamos pago a conta e deixado o quarto.Yael, Patrícia e eu tínhamos ainda o resto da manhã e toda a tarde para perambular pela cidade.
Estávamos quase deixando a Basílica de Maria Gloriosa dei Frari, quando lembrei-me de que havíamos nos esquecido da pequena escultura em madeira de São João Baptista, do florentino Donatello, esculpida em 1438 – uma das únicas obras desse artista em Veneza. Depois, partimos rumo ao famoso museu Peggy Guggenheim, no final do Canal Grande, do mesmo lado que a basílica. Não precisaríamos cruzá-lo novamente.
Era uma boa caminhada e o bom tempo ajudou. Sem dizer que as cenas das ruas de Veneza são um verdadeiro espetáculo para os olhos, uma mescla de turistas, gondoleirosa conquistar clientes, venezianos que iam e vinham do trabalho. Era realmente um burburinho festivo de encher os olhos.
Quando cruzávamos a ponte do rio Foscari, que a mim mais parecia um dos muitos e pequenos canais da cidade, notei alguns jovens nadando nas águas, como se tivessem em uma piscina qualquer. Pensei que os canais eram sujos e poluídos com dejetos de todos os tipos.
Isto, se você acreditar nos rumores sobre a cidade, sobre a infecção dos olhos da atriz norte-americana, Katherine Hepburn, nas filmagens de “Summertime” em Veneza, em 1955, quando, por acidente, ela teria caído no canal. Não me lembro do nome do filme em português.
Um dos gondoleiros, vendo o meu espanto, disse que os venezianos estavam acostumados a nadar nas lagunas da cidade e nunca ficaram doentes pelo fato. Com um sorriso, ele complementou: “Esses rumores são invenções dos turistas”.
Depois de meia hora de caminhada, chegamos ao museu Peggy Guggenheim, para visitar a fabulosa coleção privada de quadros e esculturas desta já falecida milionária norte-americana. Como jornalista, não paguei nada. Yael e a Patrícia tiveram que desembolsar cerca de oito euros cada um.
Peggy colecionou essas obras durante a sua turbulenta e trágica vida, tanto na Europa como nos Estados Unidos. O seu pai, Benjamin Guggenheim, havia morrido no acidente do transatlântico Titanic, em 1912.
A sede do museu, inaugurado em 1980, foi a última residência da excêntrica milionária em Veneza, cidade que ela amava de paixão. Os quadros e objetos ali expostos são de artistas famosos do início do século 20, que ela conheceu em Paris, como Picasso, Mondrian, Giacometti, Pollock entre muitos outros. Eram cubistas, surrealistas, abstratos, como também uma leva de novos pintores modernos norte-americanos.
Com o artista alemão Max Ernst, ela foi casada por um breve período, logo após ter voltado aos Estados Unidos em sua companhia, antes de estourar a Segunda Guerra Mundial. Peggy teve um casal de filhos, mas a vida de casada não havia sido moldada para ela. Ela não só farejava a boa qualidade das obras dos pintores, como também namorou muitos deles.
Peggy foi enterrada no jardim de sua antiga residência em Veneza, ao lado de seus 14 favoritos cãezinhos. E foi ali, bem em frente ao seu túmulo, que um jovem guia daquela instituição contou tudo isto sobre essa extravagante figura, que morreu em 1979.
Mesmo ao dizer que Peggy nunca havia sido moldada para uma vida de casada, o jovem guia não conseguiu esconder a sua admiração por aquela senhora. No final, sorrindo, ele revelou, de uma maneira simples e tímida, que a senhora Peggy Guggenheim, na verdade,era a sua avó e que estava ali para um estágio. Minha boca caiu!
Com esta visita, a nossa viagem à Veneza encerrou-se com chave de ouro. Com bolhas nos pés, cansados mas extremamente felizes, retornamos ao hotel para pegar as malas e seguir para aeroporto, para voltar para a Holanda.
Foi ai que Patrícia soltou uma que ficou para a história e que vale para todos que visitarem a cidade: “Bendigo a Deus pelo bom tempo, pelas belíssimas coisas que vimos, comemos e bebemos, como também pelos meus adoráveis mocassins. Sem eles, nunca poderia ter caminhado tanto em Veneza”.
Era o nosso último dia em Veneza. As malas já estavam fechadas, no saguão do hotel, a nossa espera, para irmos ao aeroporto às 18 horas. Já havíamos pago a conta e deixado o quarto.Yael, Patrícia e eu tínhamos ainda o resto da manhã e toda a tarde para perambular pela cidade.
Estávamos quase deixando a Basílica de Maria Gloriosa dei Frari, quando lembrei-me de que havíamos nos esquecido da pequena escultura em madeira de São João Baptista, do florentino Donatello, esculpida em 1438 – uma das únicas obras desse artista em Veneza. Depois, partimos rumo ao famoso museu Peggy Guggenheim, no final do Canal Grande, do mesmo lado que a basílica. Não precisaríamos cruzá-lo novamente.
Era uma boa caminhada e o bom tempo ajudou. Sem dizer que as cenas das ruas de Veneza são um verdadeiro espetáculo para os olhos, uma mescla de turistas, gondoleirosa conquistar clientes, venezianos que iam e vinham do trabalho. Era realmente um burburinho festivo de encher os olhos.
Quando cruzávamos a ponte do rio Foscari, que a mim mais parecia um dos muitos e pequenos canais da cidade, notei alguns jovens nadando nas águas, como se tivessem em uma piscina qualquer. Pensei que os canais eram sujos e poluídos com dejetos de todos os tipos.
Isto, se você acreditar nos rumores sobre a cidade, sobre a infecção dos olhos da atriz norte-americana, Katherine Hepburn, nas filmagens de “Summertime” em Veneza, em 1955, quando, por acidente, ela teria caído no canal. Não me lembro do nome do filme em português.
Um dos gondoleiros, vendo o meu espanto, disse que os venezianos estavam acostumados a nadar nas lagunas da cidade e nunca ficaram doentes pelo fato. Com um sorriso, ele complementou: “Esses rumores são invenções dos turistas”.
Depois de meia hora de caminhada, chegamos ao museu Peggy Guggenheim, para visitar a fabulosa coleção privada de quadros e esculturas desta já falecida milionária norte-americana. Como jornalista, não paguei nada. Yael e a Patrícia tiveram que desembolsar cerca de oito euros cada um.
Peggy colecionou essas obras durante a sua turbulenta e trágica vida, tanto na Europa como nos Estados Unidos. O seu pai, Benjamin Guggenheim, havia morrido no acidente do transatlântico Titanic, em 1912.
A sede do museu, inaugurado em 1980, foi a última residência da excêntrica milionária em Veneza, cidade que ela amava de paixão. Os quadros e objetos ali expostos são de artistas famosos do início do século 20, que ela conheceu em Paris, como Picasso, Mondrian, Giacometti, Pollock entre muitos outros. Eram cubistas, surrealistas, abstratos, como também uma leva de novos pintores modernos norte-americanos.
Com o artista alemão Max Ernst, ela foi casada por um breve período, logo após ter voltado aos Estados Unidos em sua companhia, antes de estourar a Segunda Guerra Mundial. Peggy teve um casal de filhos, mas a vida de casada não havia sido moldada para ela. Ela não só farejava a boa qualidade das obras dos pintores, como também namorou muitos deles.
Peggy foi enterrada no jardim de sua antiga residência em Veneza, ao lado de seus 14 favoritos cãezinhos. E foi ali, bem em frente ao seu túmulo, que um jovem guia daquela instituição contou tudo isto sobre essa extravagante figura, que morreu em 1979.
Mesmo ao dizer que Peggy nunca havia sido moldada para uma vida de casada, o jovem guia não conseguiu esconder a sua admiração por aquela senhora. No final, sorrindo, ele revelou, de uma maneira simples e tímida, que a senhora Peggy Guggenheim, na verdade,era a sua avó e que estava ali para um estágio. Minha boca caiu!
Com esta visita, a nossa viagem à Veneza encerrou-se com chave de ouro. Com bolhas nos pés, cansados mas extremamente felizes, retornamos ao hotel para pegar as malas e seguir para aeroporto, para voltar para a Holanda.
Foi ai que Patrícia soltou uma que ficou para a história e que vale para todos que visitarem a cidade: “Bendigo a Deus pelo bom tempo, pelas belíssimas coisas que vimos, comemos e bebemos, como também pelos meus adoráveis mocassins. Sem eles, nunca poderia ter caminhado tanto em Veneza”.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Dom Total.
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