quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Os chatíssimos telejornais nacionais

Convenhamos, a vida já é muito chata para ser embalada com mais chatice.

Por Ricardo Soares*

Quanto assunto chato nesse mundo, meu Deus, e os telejornais tornam ainda mais chatos o que já é chato! É a declaração e restituição do imposto de renda, compra de material escolar, êxodo das metrópoles nos grandes feriados, compras de Natal nos grandes centros varejistas, previsão do tempo e dos índices pluviométricos, números trágicos da segurança pública e da expansão populacional devastadora  e outros martírios recorrentes. Tudo embalado, narrado, escrito e apresentado da maneira mais chata possível, com profissionais de vídeo recorrendo a roupas e gestos formais para dar o seu “recado”.

Quem lhes disse, desde sempre, que é preciso ser tão sério e tão chato para embalar as já chatas notícias? Que norma mundial burocrática foi escrita para que sinônimo de respeito ao telespectador fosse o padrão terno e gravata ou tailleur e terninho para as moças? Imagino que não seja apenas eu que padeça com o tédio dessas tantas mesmas óbvias opções para as mesmas notícias que parecem emanar de um único centro tedioso de pautas e opções que passam há anos luz de qualquer criatividade. Falta de conteúdo justo na época onde conteúdo virou termo da moda e evoque, de fato, tudo aquilo que padece de falta de conteúdo. Conteúdo sem criatividade é sinal de obviedade e esse é o maior mal do tal “telejornal” mundial.

Por que levam tudo tão a sério? Por que,às vezes, não pode caber um certo olhar mais leve e até jocoso sobre a modorra burocrática? Por que a cobertura jornalística anódina produzida desde Brasília segue o mesmo padrão?  Por que impor a chatura alheia nas nossas vidas? A obvia conclusão que devemos desligar os telejornais chatos das nossas vidas não basta. Para isso basta, lógico, o controle remoto. Mas a pergunta que fica é: se precisamos de tantas notícias, será que nem comercialmente falando pode se pensar em outra opção? Será que uma novidade no segmento não atrairia anunciantes? Por que as combalidas TVs públicas brasileiras não entram nessa vertente? Convenhamos, a vida já é muito chata para ser embalada com mais chatice. Que o senso de humor normal, desse que se espalha pelas ruas do país, sem “forçação de barra”,  venha para a telinha. Afinal, o mundo não é uma crônica menor e piegas lida pela Sandra Annenberg.
*Ricardo Soares é escritor, diretor de TV, jornalista e roteirista. Foi cronista dos jornais "O Estado de S.Paulo", "Diário do Grande ABC” e “Jornal da Tarde e da revista Rolling Stone.

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