Em Carrancas, homens vão para a igreja e fazem o retiro espiritual.
Tradição de 73 anos da Igreja busca preparar moradores para a Quaresma.
Enquanto quase todas as cidades do país caem na folia e na diversão, um pequeno município conhecido por suas belezas naturais no Sul de Minas faz exatamente o contrário. Em Carrancas(MG), nada de carnaval. A festa na cidade acontece 15 dias antes da oficial para não atrapalhar uma tradição religiosa que já dura 73 anos. Até o próximo domingo (22), a palavra de ordem na cidade é o silêncio. Nem o som automotivo está permitido por decreto municipal.
Durante os dias de carnaval, os cerca de 4 mil habitantes da cidade se recolhem e alguns mantêm a tradição de participar de um retiro espiritual. Segundo moradores locais, como a cidade emancipada em 1948 sempre foi muito pequena, não havia carnaval no local. No município, a festa só começou a ser festejada há cerca de 25 anos, mas a tradição do retiro foi mantida.
"Há muitos anos a Igreja fez essa opção de ajudar as pessoas a entrarem bem espiritualmente no período da Quaresma, já que ela nada mais é do que um grande retiro para a Páscoa. Nós, enquanto seres humanos, temos um vazio de termos saído do coração de Deus e a espiritualidade é uma maneira de preencher esse vazio", explica o Frei Vicente Ronaldo, que atua em Belo Horizonte, mas vai a Carrancas ajudar o pároco local em dias de retiro.
Primeiro, do sábado do carnaval até terça-feira à noite, são os homens que se reúnem no salão paroquial da Igreja Matriz. Durante todo o dia, em três turnos, eles rezam, ouvem palestras e participam da Via Sacra.
Um dos frequentadores do retiro todos os anos, o funcionário público Gélson Alves Ribeiro, de 53 anos, mostra o livro que registra os nomes de todos os religiosos que ministram as palestras e comandam as orações do retiro desde 1942. Segundo Ribeiro, a tradição na cidade passa de pai para filho.
"A gente tem um encontro antecipado com Deus", resume o funcionário sobre o sentimento de participar do retiro.
Mais jovem, o motorista Antonelly Barbosa Andrade, de 25 anos, diz que até poderia ir curtir a festa em outras cidades, mas prefere seguir a tradição local.
"Eu não sou muito de fé não, mas é bom. Eu prefiro estar aqui do que curtindo, porque você começa a beber, fica tonto, começa a fazer coisas, aqui você sai muito melhor", diz o motorista.
Pelo menos 100 homens aderiram às atividades religiosas neste carnaval. Na quinta-feira, será a vez das mulheres saírem de suas casas e irem até a igreja para fazer a mesma programação até a tarde de domingo (22).
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