terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O 'cenáculo' do Papa Francisco

Por Jesús Bastante

Eles se chamam "Il Cenacolo di Papa Francesco". São um grupo de fiéis de diversos países, articulado em torno de três cardeais (Walter Kasper, Francesco Coccopalmerio e Gualtiero Bassetti), com um único objetivo: "Colaborar com o Papa Francisco, a partir da convicção da importância que o papel do papado tem neste momento como autoridade moral e personalidade influente na opinião pública mundial". O teólogo José María Castillo é membro fundador desse fórum, que também inclui o site Religión Digital como único meio de comunicação espanhol.
A iniciativa surgiu no verão passado, pensando na necessidade de se organizar para defender o papa e divulgar o seu pensamento contra os "lobos" que continuam atacando o pontífice. O presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, alvo fácil dos ultraconservadores, assim como o atual presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos asseguram a catolicidade do projeto.
Jornalistas, sacerdotes, teólogos, educadores somam-se a Il Cenacolo, que, nos próximos meses, delimitará as suas atuações. Para José María Castillo, esse grupo "é muito variado. Nele, há clérigos e leigos, mulheres e homens, profissionais da teologia, do ensino e dos meios de comunicação".
O organizador é o vaticanista Raffaele Luise, homem de longa experiência nos assuntos da Cúria e do papado. "Há no grupo três cardeais (W. Kasper, G. Bassetti, F. Coccopalmerio), alguns bispos, vários teólogos, correspondentes de redes de informação, escritoras e escritores. Pessoas que, em última análise, podem influenciar de forma mais eficaz na opinião pública", acrescenta Castillo.
O que se pretende ao criar esse grupo? "Duas coisas: primeiro, defender o papado e, concretamente, agora, o atual bispo de Roma, o Papa Francisco. Segundo, divulgar o seu pensamento, a sua ideia de Igreja, a sua teologia do povo e para o povo, a sua sensibilidade evangélica e a sua proximidade a todos os tipos de pessoas, sejam qual forem as suas ideias ou crenças".
Porque, acrescenta Castillo, o que importa, "mais do que defender os 'dogmas' e a 'ortodoxia' doutrinal, algo certamente importante, é acima de tudo defender a vida das pessoas, a dignidade dos seres humanos, os direitos de todos. Porque o Papa Francisco está profundamente convencido de que só mediante o Evangelho, feito vida em nós, a Igreja faz sentido e pode cumprir a sua missão no mundo".
"Se algo está se evidenciando desde que Bergloglio foi eleito papa – acrescenta o teólogo espanhol – é que, na Igreja, há muitas pessoas que estão com o papa enquanto o papa defende o que alguns querem que o papa defenda. Ou seja, são muitos os que querem um papa sob medida. E isso não é o que Jesus quis."
É tão forte a oposição contra o papa? Por quê? Castillo responde utilizando um texto de Johann Baptist Metz. "A fé dogmática ou confessional é o compromisso com determinadas doutrinas que podem e devem ser entendidas como fórmulas rememorativas de uma reprimida, indomada, subversiva e perigosa memória da humanidade. O critério do seu genuíno caráter cristão é a periculosidade crítica e libertadora e, ao mesmo tempo, redentora, com a qual atualizam a mensagem lembrada, de modo que 'os homens se assustem dele e, no entanto, sejam avassalados com a sua força'".
As profissões de fé e os dogmas, para Castillo, são "fórmulas mortas, vazias quando os conteúdos que trazem à memória não põem de manifesto essa periculosidade". Por isso, acrescenta, "compreende-se que há pessoas de poder que se opõem ao papa e até podem parecer uma séria ameaça para ele. Porque há pessoas de poder na Igreja, que alcançaram esse poder com a força da escalada. Estes não são os mais perigosos. Os mais preocupantes são aqueles que se baseiam não em favores recebidos, mas em 'dogmas e tradições', em que veem que se joga a sua própria salvação. Isso é grave. E preocupante".
Religión Digital, 15-02-2015.

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