Padre Geovane
Saraiva*
Dom Luciano Mendes de Almeida, grande homem de Deus, um dia decidiu
visitar o céu. Foi e achou tudo muito bonito, belo e maravilhoso, contentando-se
com tudo e sobretudo, pelas pessoas felizes e realizadas na presença amorosa de Deus.
Nestes dias, também fiquei com vontade de ir ao céu, matar a curiosidade do
lugar dos nossos sonhos, a Jerusalém celeste (cf. Hb 13,14), se possível, falar
com Dom Helder Câmara. Eu, Pe. Geovane
Saraiva, na minha pequenez, decidi e fui àquele mesmo lugar visitado pelo
discípulo de Santo Inácio de Loyola e sabe quem eu encontrei alegre e feliz:
Dom Helder Câmara.

Fiquei muito
feliz porque Dom Helder elogiou nosso livro sobre a sua pessoa, “Dom Helder:
Sonhos e Utopias” e que eu estava no caminho certo. Estimado leitor, coloque na
mente e no coração que Deus vai muito além da utopia dos místicos e sonhadores,
a exemplo de Dom Helder Câmara, considerado utópico e sonhador, no contexto de
um mundo pluralista e mesmo marcado pela ambiguidade, porque se aproximava do
“cavaleiro andante”. Mas dizia ele por causa dos oponentes e críticos:
“Comparar-me a Dom Quixote, está longe de ser uma nota depreciativa” e
acrescentava: “Ai do mundo se não fosse a utopia, ai do mundo se não fossem os
sonhadores”.
Nosso livro "Dom
Helder: Sonhos e utopias” quer deixá-lo estimado leitor, bem perto do artífice
da paz, do homem dos grandes sonhos e utopias, verdadeiramente de outro
cavaleiro andante. Claro que os cultores das letras vão descobrir, ao ler nosso
trabalho que foi recentemente relançado na Livraria Saraiva Mega do Iguatemi de
Fortaleza, um Dom Helder Câmara como se fosse uma mina de ouro, que precisa ser
sempre e cada vez mais explorada. Ele, como um dom maravilhoso de Deus, de uma
beleza interior que podemos dizer, inigualável, nos seus gestos raríssimos em
favor da vida, mas uma vida repleta de encantos!
Não esquecemos
no nosso livro toda sua ação pastoral, no Ceará, no Rio de Janeiro e em Olinda
e Recife, nas palavras do teólogo José Comblin: “Sou daqueles que tem a
convicção de que os escritos de Dom Helder ainda serão fonte de inspiração na
América Latina, daqui a mil anos”. No nosso livro, o leitor pode se fixar nos
seus profundos pensamentos: “Das barreiras a romper, a que mais custa, e a que
mais importa é, sem dúvida, a barreira da mediocridade”; “Quem me dera ser
leal, discreto e silencioso como a minha sombra”; “Quando os problemas são
absurdos, os desafios são apaixonantes".
Ao assumir a
Arquidiocese de Olinda e Recife em abril de 1964, disse: “Quem estiver
sofrendo, no corpo ou na alma; quem, pobre ou rico estiver desesperado, terá
lugar no coração do bispo”. A paixão do
pastor dos empobrecidos pela poesia tinha enorme importância, a seguir: “Fomos
nós, as tuas criaturas que inventamos teu nome!? O nome não é, não deve ser um
rótulo colado sobre as pessoas e sobre as coisas... O nome vem de dentro das
coisas e pessoas, e não deve ser falso... Tem que exprimir o mais íntimo do
íntimo, a própria razão de ser e existir da coisa ou da pessoa nomeada... Teu
nome é e só podia ser amor”.
Só podemos
compreender Dom Helder, a partir do amor indizível e inexprimível do nosso bom
Deus. Este, sempre manifestou seu carinho pela humanidade, muito superior ao
amor humano, mesmo no incalculável e inigualável gesto de amor da mãe em favor
do filho, compreendido nas palavras do Livro Sagrado: “Acaso pode a mulher
esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre?
Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti” (Is 49,15).
Mas, se hoje não
temos mais a presença física do pastor dos empobrecidos, Deus nos deu um Papa
que olha e chora pelos mais pobres. Neste fim de semana (23/03/2015) em sua
visita a Nápoles, o Papa Francisco visitou um dos bairros mais pobres da
cidade, dominado pela máfia, pedindo aos que ali residem que resistam
fortemente ao dinheiro fácil e desonesto da máfia.
Despedi-me de
Dom Helder lá na cidade do céu com um abraço afetuoso, num clima plenamente
beatífico e harmônico. Ele aproveitou a ocasião para citar com uma alegria
contagiante, o comentário de Dom Mario Toso, a respeito da Encíclica que tem
como tema o Meio Ambiente ou Ecologia, que o Papa Francisco irá lançar em
breve: “Na base da publicação do volume ‘Terra e Alimentação’ existem mais
razões. Antes de tudo, o fato de que a fome, não obstante se produzam gêneros
alimentícios suficientes para todos. Continua a subsistir: centenas de milhares
de pessoas sofrem pela falta de alimento e mais de 2 bilhões têm carências
nutricionais.
Quisera eu, a
partir da ecologia humana e divina supra mencionada, que o nosso trabalho
ajudasse as pessoas a colocar na patena a vida do místico por excelência, Dom
Helder Câmara, profundamente apaixonado pelo Criador e Pai. O padre Salesiano
João Carlos Ribeiro afirmou no prefácio do livro Sonhos e Utopias, do Padre
Geovane Saraiva: “Havia tanta emoção nas palavras da consagração que o vimos
muitas vezes chorando ao celebrar a Missa. E sempre repetia com toda convicção
que o verdadeiro celebrante da Missa é Nosso Senhor Jesus Cristo”.
*Escritor, blogueiro, colunista,
vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso,
Parquelândia, Fortaleza-CE - geovanesaraiva@gmail.com
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