terça-feira, 14 de abril de 2015

Criança supera síndrome rara e expõe pinturas feitas com boca: 'Sou artista'

Luisa Hage, de quatro anos, tem síndrome que deixa articulações rígidas.
Em Salvador, já expôs e vendeu 40 quadros: 'Maravilhoso tudo que ela faz'.

Ruan MeloDo G1 BA

Aos quatro anos e com artrogripose múltipla congênita, síndrome caracterizada por contraturas de várias articulações e rigidez de tecidos, a pequena Luisa Hage ultrapassa as limitações impostas pela doença com disposição transformada em arte. O desenvolvimento da habilidade da pintura durante o tratamento já rendeu a ela, inclusive, uma exposição com todos os quadros vendidos.
"Ela tem autoestima muito boa. Ela diz que é linda, é muito para frente, muito alegre, sempre para cima", comemora a avó Ivanete Vieira, com quem Luisa mora no bairro de Boa Vista de São Caetano, em Salvador. "Eu sou linda, eu sou artista", celebra a pequena pintora.
Bahia (Foto: Antônia Ivanete Vieira / Arquivo Pessoal)Bahia
(Foto: Antônia Ivanete Vieira / Arquivo Pessoal)
Embora a doença impossibilite que Luisa ande e que faça as pinturas com as próprias mãos, ela não deixa de realizar qualquer atividade. Além de pintar, ela vai a escola, desenha, brinca de boneca, se diverte com o tablet do avô, passa maquiagem sozinha e, agora, quer ser bailarina.
"Ela já me perguntou o que tinha [a síndrome], por que tinha, mas eu expliquei e ela entendeu. Ela tem muita facilidade em aprender tudo. Ela sabe número de celular de todo mundo de casa, sabe o nome de 30 animais em inglês, das cores", conta orgulhosa a avó.
Do tratamento à arte
Segundo conta a avó, Luisa desenvolveu a habilidade com a pintura ainda quando tinha um ano e meio. "Um dia, ela foi participar de uma dinâmica e quando a psicóloga deu as tintas e os pincéis, ela foi a única que 'mergulhou' na tinta. Então, a psicóloga disse que era para a gente investir porque já se percebia a habilidade que ela tinha para pintura", recorda Ivanete Vieira.
Ao longo dos anos, os quadros foram se acumulando em casa, até que um amigo da família sugeriu que fosse feita uma exposição. O evento foi realizado em janeiro e, na ocasião, todas 40 pinturas feitas por Luisa, com preços entre R$ 10 e R$ 25, foram vendidas.
"Geralmente, ela pinta aos sábados ou à noite porque quando ela vai pintar eu tenho que estar junto. Mas ela diz que eu não sou artista, que ela é a artista, que eu sou só a ajudante", acrescenta a avó.
O sorriso sempre estampado no rosto e a disposição em realizar novas atividades, sem se preocupar com qualquer deficiência, orgulham a família da Luisa. "Todo mundo aqui fica babando por ela: os tios, o padrinho, minhas amigas. Todo mundo apoia, colabora. Então, ela tem apoio total", afirma Ivanete.
"Para mim, foi uma supresa ter uma neta assim. A gente apoia, a considero como minha filha. O que eu puder fazer, apoiar. É maravilhoso tudo que ela faz", conta emocionado o avô de Luisa Gerson Crispin.
Síndrome e tratamento
Desde os três meses, Luisa é acompanhada por uma equipe médica composta por um pediatra, um psicólogo, um fisioterapeuta e um geneticista do Hospital Sarah, situado na Avenida Tancredo Neves, em Salvador. A avó dela conta que, somente após o nascimento, foi identicada a doença.
"De início, a gente ficou muito apreensivo porque não sabíamos como lidar. Depois a gente foi aprendendo. Minha maior preocupação no início era se ela sentia dor", recorda Ivanete.
Bahia (Foto: Antônia Ivanete Vieira / Arquivo Pessoal)Garota mora com os avós e o pai no bairro de Boa
Vista de São Caetano (Foto: Antônia Ivanete
Vieira / Arquivo Pessoal)
Segundo a geneticista Katia Coelho, a artrogripose múltipla congênita é raramente detectada antes do nascimento da criança. “É uma síndrome rara, em que ela tem contratura nas articulações desde o nascimento. É difícil identificar, geralmente acontece somente no nascimento. Ela tem as articulações rígidas e dificuldade nos movimentos. Além disso, as crianças que têm esse tipo de fraqueza muscular tem diminuição da força", explica.
Katia Coelho afirma que durante o tratamento é importante identificar quais habilidades a paciente poderá desenvolver mesmo com a doença. "Luisa não fez cirurgia, não tem outra patologia, é uma menina saudável, que não apresenta nenhuma complicação. Ela tem as alterações comuns da infância. É preciso, então, identificar quais habilidades a capacidade motora dela será capaz de realizar. Como ela é uma criança de quatro anos, o tratamento vai se estabelecendo à medida que ela se desenvolve", relata.
Uma das habilidades desenvolvidas por Luisa foi a pintura. A pediatra Sueli Fernandes, que também acompanha a menina, conta que a tanto família da garota quanto a equipe médica devem incentivar o desenvolvimento. "A pintura partiu do interesse da própria Luisa. O que nós fazemos é facilitar com que ela desenvolva isso. É uma criança que tem habilidade com os pés, com a boca e foi aperfeiçoando essa capacidade".
Para a psicóloga Maíra Dayube é fundamental que a família não limite as atividades da criança, a insira na comunidade e permita que ela interaja com outras pessoas. "A gente orienta que sejam trabalhadas as possibilidades dela, que não fique somente nas limitações. Ela tem que ser vista de uma forma natural, que possa a viver de uma forma como alguém capaz", completa a psicóloga.

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