sábado, 4 de abril de 2015

Palestra aborda envolvimento de jovens com o tráfico

“O tráfico de drogas, hoje em dia, passa a ser uma opção quando o jovem não tem mais opção”. A frase é da professora e psicóloga Marisa Feffermann, autora do livro ‘Vidas Arriscadas’. Ela concedeu palestra sobre a relação dos jovens com o tráfico de drogas, na noite desta segunda-feira (30), na Escola Superior Dom Helder Câmara. Alunos, professores e profissionais que trabalham com a temática participaram do encontro.
Convidada pelo Instituto DH, Feffermann falou sobre o cotidiano desses jovens, com base em seu livro. A obra, de 350 páginas, é resultado de pesquisas e estudos desenvolvidos com jovens inseridos no mundo do tráfico de drogas na cidade de São Paulo.
No livro, Feffermann relaciona o fenômeno com a ausência e/ou a ineficiência do Estado no cumprimento do seu dever; com o processo de urbanização da cidade e a relação desse processo com o crescimento do crime; a natureza do crack como multiplicador da violência existente.
“O jovem não é aliciado pelo tráfico. O jovem vai para o tráfico, porque o tráfico dá condições que o Estado não dá”, disse Feffermann, em entrevista ao Portal Dom Total.  “O jovem busca no tráfico um lugar onde ele se sente querido, respeitado e onde encontra muita coisa que a sociedade quer: a sociedade não fala que se você tiver um carro ou uma moto você será super legal? No tráfico ele tem isso, ele tem as meninas que ele quer”, completou.
Feffermann diz que o jovem do tráfico tem regras de convivência e de trabalho, como carga horária de  12 horas. “São plantões. É das 8h às 20h. Esses meninos não vão bem em português, mas vão bem em matemática”, ressaltou. "Eles precisam saber fazer conta, dar troco".
A pesquisadora está desenvolvendo um trabalho em algumas Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) do Rio de Janeiro, onde o comando vermelho atua. Ela ressalta ser complexo comparar com a situação encontrada em São Paulo, onde atua o primeiro comando da capital (PCC). No entanto, ela cita algumas semelhanças.
“Os objetivos das Unidades Pacificadoras é justamente possibilitar que não houvesse mais tráfico, mas, na prática, isso não acontece.  Na verdade, o tráfico continua, mas o armamento não.  Então, a gente percebe que algumas características, como fim da ostentação e da questão mais violenta, começam a ser parecidas com as de São Paulo”, disse.
Marisa deixou claro que não é a favor do tráfico ou das drogas, mas disse que é preciso desmistificar alguns pensamentos. “O problema da violência e da droga é o tráfico. Se a droga fosse legalizada, como em alguns países da Europa, não teria o problema da violência”.
Marisa Feffermann é doutora em psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo ( USP), onde atua. É também pesquisadora da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo (SES-SP), da USP e da Faculdade Latino Americana de Sociologia (FLACSO).
Professor da Dom Helder e diretor do Instituto DH, João Batista, destacou a importância de debater o tema na academia. “Essa é uma realidade que está presente nas grandes cidades. E é importante compreendermos para dar um suporte e buscar alternativas para sair dessa realidade”, ressaltou.  

Redação DomTotal

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