Cynthia resolveu se matar antes que o Alzheimer lhe roubasse a mente
Por Marco Lacerda*
Cynthia Adams, professora de psicologia da conceituada universidade de Cornell, EUA, estava sozinha em seu quarto numa noite de 2009, assistindo ao documentário ‘Projeto Alzheimer’, no canal HBO. Havia dois anos que ela enfrentava certas dificuldades cognitivas, esquecendo nomes de coisas ou confundindo palavras com sons semelhantes. Chegou a reclamar com uma amiga da presença de uma folha na sola dos pés, quando queria dizer bolha. Noutra ocasião Cynthia chegou em casa com um pacote de ameixas e perguntou à empregada: ‘Isto é uma ameixa? Não estou certa do que é isto’.
Aquele lapso de memória poderia ter sido fruto do stress ou, como ela alegou à empregada, das cervejas que andava tomando ultimamente. Mas uma sucessão de episódios acende o farol vermelho, como quando Cynthia, numa longa viagem de ônibus de Nova York a Miami, desceu num vilarejo no meio do caminho sem saber aonde estava. Assim são retratados os primeiros sinais do Alzheimer no livro do neurocientista americano Eric Reiman.
Às véspera de completar 65 anos os médicos diagnosticaram Cynthia com Alzheimer. Descobriram que ela possui um tipo raro da doença, desencadeado por uma mutação genética dominante e hereditária – como no caso da personagem representada por Juliane Moore no filme ‘Para sempre Alice’.
Casos como esse são minoritários no universo de pacientes com a doença. De acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), essa demência afeta 35,6 milhões de pessoas no mundo, das quais 1,2 milhão no Brasil. Com o aumento da longevidade, o número de pacientes deve dobrar até 2030 e triplicar até 2050. Nos Estados Unidos, já é a sexta maior causa de morte na população.
Forma mais comum de demência senil, o Alzheimer é causado pelo depósito de placas de proteínas beta-amiloides no cérebro. A doença não tem cura e os medicamentos administrados ajudam a preservar a função cerebral e a tratar sintomas como insônia e depressão. Em estágios avançados, os doentes podem apresentar dificuldade de locomoção, comunicação e deglutição, além de incontinência urinária e fecal.
Um dos focos dos cientistas atualmente é de que modo a ciência genética pode impedir que um indivíduo transmita o gene da doença a um filho. Em que medida atividades intelectuais protegem o cérebro contra a demência? É possível que apenas dois anos após o diagnóstico o doente já esteja completamente dominado pelo Alzheimer, como aconteceu com Cynthia?
Um estranho no ninho
Certo dia você acorda e não reconhece a mulher deitada ao seu lado na cama. Recebe abraços carinhosos de estranhos que lhe chamam de pai e nem imagina de onde eles tiraram essa idéia maluca. É incapaz de lembrar passagens marcantes da sua vida – até mesmo que um dia você foi presidente dos Estados Unidos.
Essa história é real: Ronald Reagan, o ex-presidente dos Estados Unidos, não se lembrava de que foi presidente. Em 1994, ele admitiu publicamente que sofria de Alzheimer. Em um cérebro normal, os neurônios são como luzes numa casa iluminando os aposentos e os corredores entre os quartos (as conexões nervosas que mantêm nossa mente ativa). O Alzheimer age como alguém desligando todas essas lâmpadas, levando, aos poucos, à completa escuridão. E não há nada que se possa fazer para frear a doença.
Diante dessa inevitabilidade, em vez de esperar o longo e sofrido adeus, Cynthia – com o apoio do marido, Donald – resolveu se matar antes que o Alzheimer roubasse sua mente. No dia combinado para o desenlace, Cynthia e Donald saíram para um passeio a pé e ao regressarem assistiram ‘Mary Poppins’ na TV.
Amigos do casal arrumaram e enfeitaram a casa como se aquela fosse uma ocasião especial e logo partiram. Cynthia queria apenas Donald com ela em seus momentos finais. Por volta das 5 da tarde ela tomou uma taça de vinho e um comprimido anti-náusea, para aliviar os efeitos preliminares e acelerar a ação do pentobarbital, medicamento usado com frequência em suicídios assistidos. Meia hora depois, Cynthia parou de respirar.
Um caso de suicídio assistido. Veja o vídeo:
Aquele lapso de memória poderia ter sido fruto do stress ou, como ela alegou à empregada, das cervejas que andava tomando ultimamente. Mas uma sucessão de episódios acende o farol vermelho, como quando Cynthia, numa longa viagem de ônibus de Nova York a Miami, desceu num vilarejo no meio do caminho sem saber aonde estava. Assim são retratados os primeiros sinais do Alzheimer no livro do neurocientista americano Eric Reiman.
Às véspera de completar 65 anos os médicos diagnosticaram Cynthia com Alzheimer. Descobriram que ela possui um tipo raro da doença, desencadeado por uma mutação genética dominante e hereditária – como no caso da personagem representada por Juliane Moore no filme ‘Para sempre Alice’.
Casos como esse são minoritários no universo de pacientes com a doença. De acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), essa demência afeta 35,6 milhões de pessoas no mundo, das quais 1,2 milhão no Brasil. Com o aumento da longevidade, o número de pacientes deve dobrar até 2030 e triplicar até 2050. Nos Estados Unidos, já é a sexta maior causa de morte na população.
Forma mais comum de demência senil, o Alzheimer é causado pelo depósito de placas de proteínas beta-amiloides no cérebro. A doença não tem cura e os medicamentos administrados ajudam a preservar a função cerebral e a tratar sintomas como insônia e depressão. Em estágios avançados, os doentes podem apresentar dificuldade de locomoção, comunicação e deglutição, além de incontinência urinária e fecal.
Um dos focos dos cientistas atualmente é de que modo a ciência genética pode impedir que um indivíduo transmita o gene da doença a um filho. Em que medida atividades intelectuais protegem o cérebro contra a demência? É possível que apenas dois anos após o diagnóstico o doente já esteja completamente dominado pelo Alzheimer, como aconteceu com Cynthia?
Um estranho no ninho
Certo dia você acorda e não reconhece a mulher deitada ao seu lado na cama. Recebe abraços carinhosos de estranhos que lhe chamam de pai e nem imagina de onde eles tiraram essa idéia maluca. É incapaz de lembrar passagens marcantes da sua vida – até mesmo que um dia você foi presidente dos Estados Unidos.
Essa história é real: Ronald Reagan, o ex-presidente dos Estados Unidos, não se lembrava de que foi presidente. Em 1994, ele admitiu publicamente que sofria de Alzheimer. Em um cérebro normal, os neurônios são como luzes numa casa iluminando os aposentos e os corredores entre os quartos (as conexões nervosas que mantêm nossa mente ativa). O Alzheimer age como alguém desligando todas essas lâmpadas, levando, aos poucos, à completa escuridão. E não há nada que se possa fazer para frear a doença.
Diante dessa inevitabilidade, em vez de esperar o longo e sofrido adeus, Cynthia – com o apoio do marido, Donald – resolveu se matar antes que o Alzheimer roubasse sua mente. No dia combinado para o desenlace, Cynthia e Donald saíram para um passeio a pé e ao regressarem assistiram ‘Mary Poppins’ na TV.
Amigos do casal arrumaram e enfeitaram a casa como se aquela fosse uma ocasião especial e logo partiram. Cynthia queria apenas Donald com ela em seus momentos finais. Por volta das 5 da tarde ela tomou uma taça de vinho e um comprimido anti-náusea, para aliviar os efeitos preliminares e acelerar a ação do pentobarbital, medicamento usado com frequência em suicídios assistidos. Meia hora depois, Cynthia parou de respirar.
Um caso de suicídio assistido. Veja o vídeo:
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do DomTotal
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