Em mais um passo ousado, Francisco lança encíclica apontando caminhos para salvar o planeta.
Por Marco Lacerda*
Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai nos suceder, as crianças de agora que o herdarão num futuro ... que futuro mesmo, meu Deus? Esta pergunta é o âmago de ‘Laudato si’, a aguardada Encíclica ecológica do Papa Francisco.
O nome foi inspirado na invocação de São Francisco de Assis «louvado sejas, meu Senhor», que no Cântico das Criaturas recorda que a terra «se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma mãe, que nos acolhe em seus braços». Essa terra destroçada e saqueada lança seu clamor e seus lamentos e gemidos ecoam pelo universo e se unem aos de todos os abandonados do mundo.
No decorrer de seis capítulos, Francisco convida o leitor a ouvir esses gemidos, exortando todos a uma «conversão ecológica», a «mudar de rumo», assumindo a responsabilidade de um compromisso para o «cuidado da nossa casa comum».
O Pontífice se dirige certamente aos católicos e aos cristãos de outras confissões, mas não só: quer entrar em diálogo com todos, como instrumento para enfrentar e evitar a catástrofe que se avizinha a cada dia.
Francisco atribui a destruição ambiental à apatia, à busca perversa do lucro, à fé excessiva na tecnologia e à cegueira daqueles que governam o mundo. Industriais, políticos e críticos do mundo inteiro já manifestam seu furor, argumentando que o um papa deve se ater à religião em vez de se meter em assuntos nos quais não tem competência. Pobres coitados. O pior cego é mesmo aquele que não quer ver.
Quando o papa Leão XIII publicou, em 1891, um documento sobre o direito dos trabalhadores de se organizar em sindicatos a grita de capitalistas e socialistas europeus foi idêntica. Porque temos de ouvir as opiniões de um papa sobre economia e política? – perguntaram na época. A propósito, o documento em questão era a encíclica ‘Sobre as condições de trabalho’ – Rerum Novarum, em latim – um dos pilares do que hoje é reconhecido como a doutrina social da Igreja.
Pecados contra o meio ambiente
Passados 124 anos, Francisco causa alvoroço semelhante. O que ele está fazendo, porém, não é mais que seguir as pegadas de papas e bispos do passado. Depois da encíclica de Leão XIII vieram outras abordando temas similares. João XXIII advertiu para os riscos da aniquilação nuclear em ‘Pacem in terris’, de 1963. Paulo VI desafiou as nações poderosas a ajudar as mais pobres, em ‘Populorum Progressio’, de 1967. Bento XVI alertou para as iniquidades da globalização em ‘Caritas in Veritate’, de 2009.
Para o jornalista Austen Ivereigh, biógrafo inglês do papa, o documento de Francisco é a mais significativa encíclica da Igreja desde a publicação de ‘Rerum Novarum’, talvez por seguir a mesma tradição.
Em entrevista ao New York Times, Ivereigh diz que o que distingue ‘Laudato Si’ de documentos anteriores sobre a crise ambiental é que a nova encíclica visa provocar ação, uma grande “conversão” em como a humanidade entende seu lugar e responsabilidade com um planeta em perigo.
“Todos sabemos que isso está acontecendo, a Igreja fala do assunto há muito tempo”, diz Ivereigh parafraseando Francisco sobre a destruição ambiental. “No entanto, não fazemos nada”.
Entre os presentes ao lançamento de ‘Laudato si’ esta semana no Vaticano estava o teólogo ortodoxo John Zizioulas. Ele disse: “A crise ecológica é um problema espiritual”. A relação entre a humanidade e o meio ambiente foi partido dentro e fora de cada um. “Essa ruptura constitui o que chamamos de pecado. Em seus ensinamentos a Igreja deve introduzir o pecado contra o meio ambiente, o pecado ecológico”.
Massacre de golfinhos e baleias na Dinamarca
Veja o vídeo:
Clique aqui e confira também a Fotogaleria: ‘Nossa casa comum’
*Marco Lacerda é jornalista escritor e Editor Especial do DomTotal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário