Perturba-me ver que começou, por parte de alguns, uma certa deslegitimação do papa.
A meu ver, hoje, há otimismo demais na Igreja ligado ao atual pontificado. O papa Francisco representa para muitos católicos – e não só, mas também para cristãos de outras confissões, para não cristãos, crentes ou não crentes em Deus – um homem que se tornou papa confiável, ao qual se pode olhar com confiança e esperança.
Em um mundo onde confiança e esperança se enfraqueceram e até se tornaram raras devido à falta de guias capazes de "en-sinar", dar uma orientação, essa presença é um evento extraordinário.
Olha-se para o papa Francisco principalmente pela sua capacidade de se fazer sentido perto de cada homem, de cada mulher, mas também de cada grupo social e de cada povo. A sua simplicidade evangélica, a sua transparência, a sua parrésia diante de todos, o seu saber-se descentrar em relação a Jesus Cristo, o Senhor, a sua recusa de se apresentar como quem substitui ou representa um Ausente criaram no coração de muitos uma expectativa, uma percepção dele como um pastor bom por ser cheio de amor e pastor "belo" (segundo a expressão evangélica) por ser capaz de atrair ao Evangelho aqueles que o ouviram traído ou que nunca tinham ouvido falar dele.
Certamente, quando eu converso com as pessoas da minha geração, a geração do papa João XXIII e do Concílio, sinto os seus corações arderem por essa primavera da Igreja e posso testemunhar que muitos – naquela época fervorosos na fé, mas que se afastaram nos anos 1980 – hoje voltam a se dizer cristãos, a sentir a Igreja como a sua casa.
É opinião comum que, a dois anos do início do pontificado, o clima da vida eclesial mudou muito, os medos vividos por muito tempo parecem pertencer a um passado distante, há uma retomada da palavra "livre e franca", mesmo se vemos que muitos que, até ontem, exultavam pelo encorajamento do tradicionalismo e denunciavam aqueles que queriam permanecer fiéis ao Concílio e a Paulo VI hoje estão entre aqueles que aplaudem o Papa Francisco de modo tão ostentado e barulhento.
Mas sabe-se que a arte de subir no carro dos reinantes sempre foi muito praticada, principalmente na Igreja italiana. O Eclesiástico já advertia: "Há quem seja como o cavalo no cio: relincha sempre, qualquer que seja o cavaleiro montado". Mas esse consenso tão amplo às vezes me perturba, conhecendo a partir dos Evangelhos as mudanças da multidão em relação a Jesus!
Por isso, perturba-me ver que começou por parte de alguns homens da Igreja uma certa deslegitimação do papa Francisco: faz-se dele objeto não apenas de críticas, mas também de manifesta suficiência até o desprezo. De modo obsessivo, repete-se que Francisco deve ser bem entendido, que a sua linguagem deve ser reinterpretada através de uma sólida teologia, que as suas intenções de reforma são levantadas, mas não fundamentadas, que esta temporada é um tempo curto a ser vivido resistindo, porque, em breve, tudo voltará a ser como antes...
Por outro lado, há aqueles que, diante dessas "murmurações", assegura que não será possível voltar atrás, que haverá algumas reformas que não poderão ser contrariadas. Palavras, estas, na minha opinião, muito ingênuas e otimistas demais.
Aqueles que, nas últimas décadas, na Itália, apelavam ao Concílio foram sistematicamente censurados, foi-lhes negada a palavra em contextos eclesiais oficiais, chegou-se às calúnias, tentando colocá-lo em posições heréticas. Um dia, alguém vai escrever a história dessas pessoas que foram caladas e fizeram obediência, e que tinham a culpa de falar com franqueza.
Eu continuo repetindo desde o fim do Concílio: onde o Evangelho abre caminho, sofre-se mais, e, a cada primavera evangélica, devemos esperar geadas repentinas. O tempo da vida "bela, boa, abençoada" é o do Reino que vem, quando desaparecerão as instituições eclesiásticas, porque a esposa do Senhor será a humanidade redimida.
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