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Hoje pobre e esquecida, Potosi, na Bolívia, já foi a maior e mais rica cidade do mundo.
Por Marco Lacerda*
Potosi foi fundada em 1546. Em 1611, já era a maior produtora de prata do mundo e tinha por volta de 150 000 habitantes. Alcançou seu apogeu durante o século 17, tornando-se a segunda cidade mais populosa (atrás de Paris) e a mais rica do mundo, graças à exploração de prata enviada à Espanha. Em 1825, a maior parte da prata já tinha se esgotado e sua população reduziu-se a 8 mil habitantes.
Localizada no sul da Bolívia, a trajetória de Potosi é um conto de fadas que terminou em sangue. Cidade de história única no mundo, o lugar reúne, em sua acidentada paisagem, uma era de glórias distantes e um presente de crueldade contínua onde meninos pobres e sem futuro vagam em bando pelas mesmas ruas por onde, no passado, desfilaram magnatas europeus.
O herói Dom Quixote de la Mancha não estava errado quando exclamava "esto vale un Potosí!" Com isso, queria dizer que algum objeto tinha um alto valor monetário. Era o começo do século 17, quando Miguel de Cervantes terminou de escrever e publicou sua obra célebre.
Naquela época, se extraía de Potosi nada menos que a metade da prata comercializada na Terra (entre 1581 e 1600, auge da produção local, foram cerca de 3,5 mil toneladas de prata de alta qualidade) e, reza a lenda, até suas ruas estavam cobertas com o nobre metal. O Velho Continente, proprietário e consumidor de tal riqueza, exultava, e enviava àquelas áridas paragens do altiplano andino um grande contingente de pessoas em busca de fortuna ilimitada.
Um império feito de prata
Os espanhóis construíram um esplêndido casario colonial no centro da cidade e viram chegar a Potosi inúmeras ordens religiosas que, no afã se de associar ao novo eldorado das Américas, ergueriam no local conventos e igrejas tão esplêndidos como as matrizes europeias. Pouco importava o fato de Potosi quase não ter ar (está a quatro mil metros de altitude) e ser abatida constantemente por um clima agressivamente gélido.
Hoje, são muitas as lembranças desse tempo de glória presente nas ruas. Há desde o símbolo máximo da ganância potosina - a Casa da Moeda, onde eram cunhadas as moedas de prata que posteriormente seriam enviadas à Europa – até exemplos sublimes da arte mestiça que foi empregada na construção de muitas das igrejas locais. A fachada da igreja de San Lorenzo, por exemplo, mistura elementos cristãos e figuras indígenas em um intrincado painel de inspiração barroca. Já a igreja do Convento de São Francisco, fundado em 1547, é sustentada por colunas e abóbadas capazes de impressionar até para quem conhece os tesouros do Vaticano.
A figura de Jesus que guarda o altar deste templo é uma atração à parte: talhada em madeira, sua cor morena lembra a da população boliviana e seus cabelos são reais (os fieis dizem que eles ainda crescem). Do mirante do edifício, aberto ao público, os turistas podem ver o aspecto romântico-decadente de Potosi: vielas abertas entre casas com balcões de madeira trabalhada e pátios de belas colunas e fontes ressecadas. O céu, tão próximo, é, via de regra, de um azul intenso, e a montanha Cerro Rico, silenciosa à distância e, com sua imponente forma cônica, será sempre a última parada de um olhar contemplativo por essa antiga morada da ganância.
Localizada no sul da Bolívia, a trajetória de Potosi é um conto de fadas que terminou em sangue. Cidade de história única no mundo, o lugar reúne, em sua acidentada paisagem, uma era de glórias distantes e um presente de crueldade contínua onde meninos pobres e sem futuro vagam em bando pelas mesmas ruas por onde, no passado, desfilaram magnatas europeus.
O herói Dom Quixote de la Mancha não estava errado quando exclamava "esto vale un Potosí!" Com isso, queria dizer que algum objeto tinha um alto valor monetário. Era o começo do século 17, quando Miguel de Cervantes terminou de escrever e publicou sua obra célebre.
Naquela época, se extraía de Potosi nada menos que a metade da prata comercializada na Terra (entre 1581 e 1600, auge da produção local, foram cerca de 3,5 mil toneladas de prata de alta qualidade) e, reza a lenda, até suas ruas estavam cobertas com o nobre metal. O Velho Continente, proprietário e consumidor de tal riqueza, exultava, e enviava àquelas áridas paragens do altiplano andino um grande contingente de pessoas em busca de fortuna ilimitada.
Um império feito de prata
Os espanhóis construíram um esplêndido casario colonial no centro da cidade e viram chegar a Potosi inúmeras ordens religiosas que, no afã se de associar ao novo eldorado das Américas, ergueriam no local conventos e igrejas tão esplêndidos como as matrizes europeias. Pouco importava o fato de Potosi quase não ter ar (está a quatro mil metros de altitude) e ser abatida constantemente por um clima agressivamente gélido.
Hoje, são muitas as lembranças desse tempo de glória presente nas ruas. Há desde o símbolo máximo da ganância potosina - a Casa da Moeda, onde eram cunhadas as moedas de prata que posteriormente seriam enviadas à Europa – até exemplos sublimes da arte mestiça que foi empregada na construção de muitas das igrejas locais. A fachada da igreja de San Lorenzo, por exemplo, mistura elementos cristãos e figuras indígenas em um intrincado painel de inspiração barroca. Já a igreja do Convento de São Francisco, fundado em 1547, é sustentada por colunas e abóbadas capazes de impressionar até para quem conhece os tesouros do Vaticano.
A figura de Jesus que guarda o altar deste templo é uma atração à parte: talhada em madeira, sua cor morena lembra a da população boliviana e seus cabelos são reais (os fieis dizem que eles ainda crescem). Do mirante do edifício, aberto ao público, os turistas podem ver o aspecto romântico-decadente de Potosi: vielas abertas entre casas com balcões de madeira trabalhada e pátios de belas colunas e fontes ressecadas. O céu, tão próximo, é, via de regra, de um azul intenso, e a montanha Cerro Rico, silenciosa à distância e, com sua imponente forma cônica, será sempre a última parada de um olhar contemplativo por essa antiga morada da ganância.
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor-Especial do Domtotal. As fotos são de José Antonio Ballesteros Martín.
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