domingo, 16 de agosto de 2015

"A Dama Dourada" resgata história real

O diretor desdobra em "A Dama Dourada" as camadas da fascinante biografia de Maria Altmann.

Por Neusa Barbosa
Quando a irmã morre, Maria Altmann (Helen Mirren) começa a remexer em papéis muito antigos. Nem imagina que está abrindo a porta a um processo que a levará a revisitar sua Áustria natal, que abandonou há décadas, fugindo do nazismo para os Estados Unidos.
Em Viena, Maria pertencia a uma rica família judia, os Bloch-Bauer, amantes das artes, cuja casa era frequentada por vários artistas e intelectuais. Tanto que sua tia, Adele Bloch-Bauer (Antje Traue), foi retratada por ninguém menos do que o pintor simbolista Gustav Klimt, num quadro destinado a se tornar famosíssimo e ganhar o apelido de "A Dama Dourada".
Com a mesma mão leve observada em outro filme baseado em fatos reais, "Sete Dias com Marilyn" (2011), o diretor britânico Simon Curtis desdobra em "A Dama Dourada" as camadas da fascinante biografia de Maria Altmann, no momento em que ela, já idosa, decide iniciar uma longa e dramática batalha judicial contra o governo austríaco para reaver quadros roubados de sua família pelos nazistas, em 1938.
O museu em que eles estão abrigados, aliás, não é menos reticente para realizar a reparação, uma vez que também esconde sua própria conivência com os crimes do passado.
Maria nunca entraria nesta briga se não fosse a insistência de um jovem advogado, Randy Schoenberg (Ryan Reynolds), cuja família, também de refugiados judeus austríacos, é amiga da sua. Randy, aliás, é neto do famoso compositor Arnold Schoenberg.
Por mais que as raízes comuns os aproximem, as razões iniciais de Randy para se lançar neste processo são a princípio mais egoístas. Em plena crise pessoal e profissional, ele precisa de uma virada ambiciosa. E não ignora que o valor de quadros como "A Dama Dourada" atingem muitos milhões de dólares.
Ao longo da história, ele também descobrirá outras razões morais para persistir no esforço, que durou vários anos, em etapas na Áustria e na Suprema Corte dos EUA.
Um grande acerto do filme está em manter o passo da narrativa histórica, introduzindo flashbacks precisos para retratar a ascensão e queda dos Bloch-Bauer e as dolorosas escolhas da jovem Maria (nessa fase, interpretada por Tatiana Maslany) para se salvar e o peculiar relacionamento da velha senhora com seu jovem advogado – de onde surgem conflitos e momentos de humor, que aliviam o peso do tema dramático.
Incorporando à trama austríacos abnegados, como o jornalista Hubertus Czernin (Daniel Bruhl), essencial para a localização de preciosos documentos, o filme evita satanizar aquele país, que sem dúvida aparece mal na foto, inclusive o museu.
Seus representantes negam-se a todo momento a fazer qualquer acordo com Maria, cuja intenção nunca foi dinheiro, apenas justiça.
O elenco brilha na mesma medida que a protagonista Helen Mirren, que ocupa com o máximo de seu talento sutil todas as camadas desta extraordinária personagem, o que permite colocar em relevo tanto sua importância histórica quanto sua riqueza humana.
Muito bem-vindas, igualmente, são as pequenas participações de grandes atores, caso de Jonathan Pryce e Elizabeth McGovern, ambos representando juízes cujas decisões alavancaram o caso.
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Reuters

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