Entre 19 e 27 de setembro, o Papa visitará Cuba e os EUA e deverá abordar temas polêmicos.
Por Nicole Winfield
Desde que assumiu a liderança da Igreja católica, em março de 2013, o Papa Francisco vem adotando posições consideradas progressistas no que diz respeito a temas como aborto, homossexualidade e divórcio. Mesmo sem revisar os dogmas do catolicismo, o pontífice se tornou alvo de críticas de religiosos conservadores.
Entre 19 e 27 de setembro, o Papa visitará Cuba e os EUA e deverá abordar temas que vão de questões climáticas à desigualdade da renda.
Veja algumas de suas posições sobre assuntos fundamentais para a Igreja católica:
Aborto
O papa Francisco apoia os ensinamentos da Igreja católica contra o aborto e ecoa seus predecessores, dizendo que a vida humana é sagrada e precisa ser defendida. Mas ele não enfatizou tanto a posição da Igreja quanto fizeram os seus predecessores e disse que os ensinamentos da Igreja sobre o aborto já são amplamente conhecidos. Em um indicativo de sua posição que prioriza a misericórdia em lugar da moral, Francisco disse que no Ano Santo da Misericórdia que terá início em dezembro, vai autorizar todos os padres a absolver católicas que tenham cometido o “pecado do aborto”, desde que busquem o perdão com o “coração contrito”. Francisco diz que o perdão de Deus não pode ser negado àqueles que se arrependem.
Contracepção
Francisco defende a oposição da Igreja à contracepção artificial, apresentada na encíclica “Humanae Vitade” de 1968. Ao mesmo tempo ele diz que os católicos não precisam “procriar como coelhos” e devem, em lugar disso, praticar a “paternidade responsável” por meio de métodos “lícitos”. A Igreja apoia o método do planejamento familiar natural, que envolve o monitoramento do ciclo da mulher para evitar as relações sexuais quando ela está ovulando. Mas Francisco já disse também que qualquer sacerdote, ao ouvir a confissão, deve oferecer misericórdia e levar em conta as necessidade individuais dos casais.
Divórcio
Francisco dividiu a Igreja ao abrir a discussão sobre a possibilidade de comunhão para católicos divorciados que se casam novamente em cerimônia civil. De acordo com os ensinamentos da Igreja, sem uma declaração emitida pela autoridade competente que torne inválido o primeiro casamento, esses católicos estão cometendo adultério; logo não podem receber o sacramento. Francisco pede uma abordagem mais misericordiosa, insistindo que esses católicos não devem ser excomungados e que devem ser acolhidos pela Igreja.
Gays
Quando foi perguntado, em 2013, sobre um monsenhor do Vaticano que teria tido um amante homem em seu passado, o papa Francisco deu uma resposta que ficaria famoso: “Quem sou eu para julga?”. Muitos interpretaram o comentário como uma nova e ampla abertura da Igreja em relação aos gays, já que Francisco exorta a Igreja a ser menos intolerante e mais misericordiosa, acolhendo tanto puros como pecadores. Indagado mais tarde sobre sua posição em relação à homossexualidade, Francisco ressaltou que, quando disse “quem sou eu para julgar”, estava apenas reiterando o ensinamento da Igreja. Ele respondeu com uma pergunta própria “Quando deus olha para uma pessoa gay, ele endossa a existência dessa pessoa com amor ou ele a rejeita ou condena? Devemos sempre levar a pessoa em conta”. Embora tenha encontrado gays em várias ocasiões e até memso dado aconselhamento a um casal transgênero, Francisco não mudou o ensinamento oficial da Igreja, segundo o qual, embora os gays devem ser tratados com dignidade e respeito, os atos homossexuais são “intrinsecamente desordenados”.
Abusos sexuais
Francisco foi acusado inicialmente por defensores de vítimas de abusos sexuais de não entender a amplitude do problema dos abusos cometidos por sacerdotes. Desde então, ele criou uma comissão de especialistas, que inclui dois sobreviventes de abusos, para aconselha RO Vaticano em relação às melhores práticas. O papa aceitou a recomendação da comissão para criar um tribunal do Vaticano para processar bispos que deixam de proteger seus fiéis contra padres abusivos. Ele aceitou a renúncia de dois bispos norte-americanos acusados de acobertamento – o arcebispo John Nienstedt de Minneapolis, e o bispo Robert Finn de Kansas City. Mas membros da comissão contra abusos reclamaram publicamente quando Francisco nomeou um bispo chileno acusado de acobertar o pedófilo mais notório do país.
Mulheres
O papa pede um papel maior para as mulheres na governança da Igreja, tendo várias vezes elogiado o “gênio feminino” e dito que as mulheres simplesmente olham o mundo de modo diferente e fazem perguntas “que nós homens, não entendemos”. Mas ele reafirmou o sacerdócio exclusivamente masculino e disse que uma mulher não pode chefiar uma congregação importante do Vaticano, já que essa posição geralmente é reservada a um cardeal. Ele já foi criticado também por comentários que revelam que está foram de sintonia com as mulheres, como quando descreveu as novas participantes mulheres da comissão teológica mais prestigiosa da Igreja como “morangos em cima do bolo”.
Capitalismo
Alguns comentaristas conservadores dos EUA acusam o papa Francisco de simpatia com posições marxistas, devido às denuncias frequentes que faz dos sistemas econômicos que “idolatram” o dinheiro, priorizando-o em detrimento das pessoas e das falhas da teoria econômica segundo a qual os benefícios econômicos às elites vão acabar por beneficiar as classes mais pobres. Ele diz que embora a globalização tenha salvado muitas pessoas da pobreza, “condenou muitas outras a morrer de fome, porque é um sistema econômico seletivo”. Francisco diz que prega o comunismo, mas o Evangelho. O papa Bento XVI expressou exatamente as mesmas posições e, 2009, denunciou a mentalidade da busca do lucro a qualquer custo, dizendo que foi o que causou o derretimento financeiro global, pedindo uma nova ordem financeira mundial pautada pela ética e pela busca do bem comum.
Ambiente
Francisco é o primeiro papa a usar dados científicos em um documento importante de ensinamentos católicos: em sua encíclica Laudato si (Louvado seja), descreveu o aquecimento global como um problema causado em grande medida pelo homem. No documento, o papa denunciou o sistema econômico mundial, “estruturalmente perverso”, e a busca irrestrita do lucro que explora os pobres e corre o risco de converter a Terra em “uma imensa pilha de lixo”. A previsão é que Francisco faça um discurso nas Nações Unidas sobre questões climáticas. Embora sua encíclica tenha chamado muita atenção, muitos papas antes dele já lançaram chamados para que as pessoas cuidem melhor da criação de Deus. Foi o caso do papa Bento XVI, que foi apelidado de “o papa verde” por suas iniciativas ambientalistas.
Associated Press – Do Vaticano
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