segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Golpe militar no paraíso

‘O outro lado do paraíso’ conta a história de um dos muitos sonhos desfeitos pelo golpe militar de 64.
Por Marco Lacerda*
Baseado no conto homônimo do escritor e editor Luiz Fernando Emediato, ‘O outro lado do paraíso’ conta a história real da mudança do autor de mala e cuia da pequena Bocaiúva, em Minas, para Brasília, no início da década de 60. No filme, o golpe militar de 64 é visto da perspectiva de uma modesta família brasileira, através do olhar de Nando, um menino de 11 anos (interpretado pelo talentoso Davi Galdeano) que relata as aventuras do pai, Antônio (Eduardo Moscovis) um brasileiro aventureiro que sonha com a “terra prometida” na Bíblia.

A decisão da mudança é motivada pela construção da nova capital federal que está sendo erguida no planalto central do país e pelas promessas de reformas radicais então anunciadas pelo governo de João Goulart. Logo a busca do sonhador, como a de tantos brasileiros da época, se transforma em um pesadelo que se arrastaria por 21 anos e culminaria com a morte e o desaparecimento centenas de idealistas revolucionários pelas mãos de ferro com que o Brasil foi governado na época.
O filme foi apresentado no último sábado, 19, no Festival de Cinema de Brasília, e terá sua estreia nacional no primeiro semestre de 2016. O diretor André Ristun – que, por causa da ditadura, nasceu e cresceu fora do Brasil - captou com precisão a essência da obra de Emediato e a transpôs para a tela com a delicada eficiência que convém a uma história narrada a partir de um olhar infantil nublado pelo negror daqueles tempos. A direção impecável de Ristum conta com o sólido roteiro escrito por Marcelo Miller, a bela fotografia de Hélcio Alemão e a trilha sonora do craque Patrick De Jongh que inclui uma canção inédita de Milton Nascimento soltando a voz como há muito não se ouvia. Completam o elenco Simone Iliescu, Jonas Bloch, Flávio Bauraqui, Taís Bizerril e mais um time de bambas.

O golpe de 64 é reconstituído no filme através de um conjunto preservado de filmagens, até hoje inéditas, produzidas pelo cinegrafista francês Jean Manzon (1915-1990). As imagens mostram a tomada do Rio e de Brasília pelas Forças Armadas entre os dias 31 e março e 1º de abril de 1964.

O longa, orçado em R$ 7 milhões e produzido pelo próprio Luiz Fernando Emediato, foi rodado no Distrito Federal e marcou a reinauguração do Polo de Cinema e Vídeo Grande Otelo, localizado na cidade satélite de Sobradinho e mantido fechado nos últimos 12 anos. Inaugurada em 1993, famosa por ter sido palco de mais de 80 produções, a cidade-cenográfica do DF volta à ativa em grande estilo, ao hospedar o filme mais caro já realizado em Brasília.

Veja o trailer de 'O outro lado do paraíso':

 
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Domtotal.

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