quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Até quando?

Marcus Eduardo de Oliveira

No posfácio de seu livro “A Cortina de Ouro”, o professor Cristovam Buarque diz que “cada pessoa é a soma das respostas que deu ao longo da vida às perguntas que lhe foram formuladas. O sucesso depende dos acertos nas respostas. Mas os homens que mudam o próprio destino são aqueles que não se limitam a acertar respostas, mas também criam as próprias perguntas certas para o momento”.
Talvez as perguntas mais certas e adequadas para esse momento sejam as seguintes: como construir pela economia uma sociedade de iguais? Em outras palavras, como fazer a economia “funcionar” em prol dos mais desassistidos? Como conciliar a voracidade da produção econômica num mundo ecológico limitado? Como combinar prosperidade almejada por todos sem a destruição ecológica provocada por mais crescimento econômico?
E, mais do que isso, a pergunta que exige uma pronta resposta, diante de tantos desequilíbrios ora vivenciados, é “até quando?” perdurará o que segue:
1. Até quando a economia tradicional continuará se servindo das pessoas, não colocando a ciência econômica para servir as pessoas?
2. Até quando a atividade econômica continuará sobrepujando o meio-ambiente, desrespeitando as leis da natureza?
3. Até quando os economistas tradicionais continuarão a recusar o fato de que a economia é apenas e tão somente um subsistema do meio ambiente?
4. Até quando permanecerá despercebido pela economia convencional que as leis da economia não dominam as leis da natureza?
5. Até quando será ignorada a existência de limites físicos e ambientais para o crescimento econômico?
6. Até quando a teoria econômica moderna continuará, de igual maneira, ignorando a Ecoeconomia e, principalmente, os trabalhos teóricos desenvolvidos por Nicholas Georgescu-Roegen?
7. Até quando será ignorado o fato de que o ritmo econômico atual da economia global, baseado na produção excessiva e no consumo desenfreado, é insustentável e contraproducente?
8. Até quando os economistas continuarão a computar as externalidades negativas para a composição do PIB – Produto Interno Bruto
9. Até quando será possível aceitar a existência de um modelo econômico ora vigente que gera riqueza produzindo pobreza?
10. Até quando esse mesmo modelo econômico continuará virando as costas para o drama social refletido no fato de que a cada cinco segundos uma morte acontece ao redor do mundo devido à existência da fome e de doenças dela decorrentes?
11. Até quando a miséria em que muitos vivem (1/3 da humanidade) continuará ocorrendo em paralelo a exuberante riqueza de outros (15% da humanidade)?
12. Até quando um quinto da população mundial continuará não hesitando em gastar dois dólares por dia num simples cappuccino, enquanto outro quinto da população não tem esses mesmos dois dólares para tomar um suco de laranja ou um copo de leite?
13. Até quando os economistas vão continuar confundindo modernidade com desenvolvimento?
14. Até quando a aquisição e o acúmulo material continuarão sendo “propagados” como paradigma de progresso e bem-estar social?
15. Até quando o modelo econômico que faz avançar o processo tecnológico conseguirá conviver “pacificamente” com a indiferença, a injustiça e a desigualdade social que sepulta, por ano, seis milhões de crianças ao redor do mundo?
16. Até quando o capital natural continuará tendo menos importância do que o capital material produzido pelos homens?
17. Até quando continuaremos a “conviver” com uma economia que enaltece as armas como produtos e comemora, em termos de aumento de PIB, as mortes delas derivadas?
18. Até quando “conviveremos” de forma pacífica com uma economia global que produz 75 trilhões de dólares de riqueza ao ano, mas que “fecha” os olhos para as 12 milhões de pessoas que morrem de fome anualmente?
19. Até quando o padrão de crescimento econômico continuará tendo prioridade sobre a atividade produtiva, implicando substancial diminuição da biodiversidade?
20. Até quando suportaremos tudo isso?
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo | prof.marcuseduardo@bol.com.br

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