quarta-feira, 11 de novembro de 2015

"Evitem se obcecar pelo poder e pelo dinheiro"

Francisco celebra uma missa no estádio municipal Artemio Franchi, em Florença

Roma, 11 nov (sirnoticias@hotmail.com) - O papa Francisco concluiu nesta terça-feira sua primeira visita à região da Toscana, no coração da Itália, com um forte chamado à Igreja italiana para evitar cair "na obsessão pelo poder e pelo dinheiro".
"Não devemos estar obcecados pelo poder, mais ainda quando este toma a face de um poder útil e funcional à imagem social da Igreja", advertiu o papa argentino aos cerca de 2.500 representantes da Igreja católica italiana, reunidos em Florença (centro) para o V Congresso Nacional Eclesiástico.
As palavras do Papa soaram como uma nova resposta ao recente escândalo gerado pelas revelações em dois livros sobre corrupção, desvio de dinheiro e a inércia que reinavam no Vaticano, quando ele foi eleito em 2013.
Francisco, que no domingo se comprometeu publicamente a seguir adiante com a reforma do Vaticano apesar das resistências internas, aproveitou o encontro em Florença para reiterar que entende promover uma Igreja "humilde, simples, aberta a escutar".
"Evitemos, por favor, nos trancar em estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nas comodidades em que nos sentimos tranquilos", assegurou.
"Nosso dever é trabalhar para fazer deste mundo um lugar melhor e lutar. Nossa fé é revolucionária por um impulso que vem do Espírito Santo", acrescentou.
O papa pediu à igreja italiana, afetada pelas denúncias contra vários cardeais pela vida privilegiada que levam, que seja "cada vez mais próxima dos abandonados, dos esquecidos, dos imperfeitos".
Francisco os convidou a seguir o exemplo de Francisco de Assis.
Contra a exploração no trabalho
O papa argentino iniciou sua viagem de um dia à Toscana por uma breve visita à localidade de Prato, capital têxtil da Itália, onde trabalham milhares de estrangeiros, a maioria chineses sem documentos.
Diante da multidão de trabalhadores reunida na praça da catedral de Prato, a 20 km de Florença, Francisco condenou a corrupção e a exploração no trabalho.
"A sacralidade de todo ser humano requer respeito, acolhida e um trabalho digno", afirmou o papa a milhares de pessoas reunidas na praça da catedral de Prato, símbolo da indústria têxtil italiana.
O pontífice chegou às 8H00 de helicóptero ao campo esportivo municipal da cidade para uma visita de quase duas horas aos trabalhadores.
Segundo cálculos não oficiais, quase 50.000 chineses moram nesta cidade, o que representa um terço da população, muitos deles em condições difíceis e de forma ilegal.
Francisco, que costuma dar prioridade em suas visitas ao que chama de "periferias" da sociedade, escolheu desta vez uma das cidades mais multiétnicas da Itália, que segundo a conferência episcopal conta com 123 nacionalidades distintas.
Trabalho e integração foram os temas que o papa abordou durante a rápida visita de duas horas. Ele também recordou a tragédia de dezembro de 2013, quando sete operários chineses morreram no incêndio da fábrica na qual moravam e trabalhavam.
"A vida em cada comunidade exige o combate até o final do câncer da corrupção e do veneno da ilegalidade", disse o papa.
As condições de trabalho de boa parte da comunidade chinesa, em geral, são péssimas. Com frequência dormem e trabalham no mesmo estabelecimento, não aprendem o idioma, nem conhecem a região ou seus costumes.
O respeito às leis, do horário de trabalho, assim como condições de vida melhores para os operários são exigências de vários setores da sociedade.
"Eu incentivo a todos que não cedam mais à resignação", concluiu o papa.
Depois de Prato, Francisco seguiu de helicóptero para Florença, onde visitou o batistério e a catedral de Santa Maria del Fiore.
O pontífice se reuniu com um grupo de enfermos e almoçou com os pobres que frequentam o refeitório de San Francesco Poverino na praça da Annunziata.
Francisco se reuniu também com os representantes do V Congresso da Conferência Episcopal Italiana, aos quais convidou que estimulem uma "igreja inquieta", disposta a renovar-se. Os padres devem ser "humildes, simples e felizes", disse.
O papa celebrou no final da tarde uma missa no estádio municipal Artémio Franchi, antes de retornar para Roma.
SIR

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