segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

COP21: uma etapa ainda por concretizar

Disposições do acordo incentivam os países a rever as suas promessas para cima.
Após a euforia e os discursos que saudaram o acordo de Paris sobre o clima como um "passo histórico", a parte mais difícil vem a seguir: concretizar os ambiciosos compromissos assumidos por 195 países.
Resumindo um sentimento geral, o presidente americano, Barack Obama, reconheceu no sábado à noite (12) que "o problema não está resolvido com o Acordo de Paris".
As divergências que foram expressas em quase duas semanas de difíceis negociações em Bourget, perto de Paris, destacaram a magnitude dos obstáculos a serem superados. O objetivo do acordo é limitar "bem abaixo" de dois graus celsius o aumento da temperatura global em comparação com a era pré-industriais, e até mesmo, se possível, a 1,5ºC.
Uma tarefa que se anuncia difícil: o aquecimento global já atingiu quase um grau, advertiu no mês passado a Organização Meteorológica Mundial. E mesmo se forem respeitados, os compromissos de redução de emissões de gases do efeito estufa já anunciados por quase todos os países colocam a Terra em uma trajetória de + 3ºC.
A única esperança reside no fato de as disposições do acordo incentivar os países a rever as suas promessas para cima nos próximos anos. "Esta é a chave para garantir que as ações se tornem cada vez mais fortes, de modo a alcançar 2 graus e abaixo disso", declarou à AFP Tasneem Essop, da organização WWF.
Segundo os cientistas, um aumento acima de dois graus teria consequências dramáticas: tempestades, secas, aumento do nível do mar, guerra pela água, migrações em massa, dentre outros fatores.

Mecanismo de revisão
Por conseguinte, o acordo prevê um mecanismo voluntário de avaliação dos compromissos dos países para conter o aquecimento global abaixo de 2 graus.
Mas de acordo com o Climate Action Tracker (CAT), que reúne quatro institutos de pesquisa, as promessas feitas pela maioria dos países são "insuficientes" e "quase todos" devem rever os seus compromissos em 2025 ou 2030.
Em 2018, dois anos antes da entrada em vigor do acordo, o primeiro passo é fazer um balanço do progresso na transição dos combustíveis fósseis (carvão, gás, petróleo) para energias renováveis.
Este balanço deve servir de base para novos compromissos de redução de emissões, chamados a substituir aqueles que entrarão em vigor com o acordo em 2020. "Este será um momento político importante, onde os governos serão encorajados a aumentar os seus esforços", disse Mohamed Adow, da ONG Christian Aid.
Se os compromissos não forem revisto para cima, o mundo poderia se ver preso em uma trajetória de três graus para a próxima década.
Alguns países fixaram metas para 2025, outros para 2030, uma disparidade que complica ainda mais a tarefa, de acordo Tasneem Essop. Uma vez que o acordo entre em vigor, o impacto dos esforços empreendidos será revisto de cinco em cinco anos, com início em 2023 e, à luz dessa avaliação, os compromissos serão revistas para cima a cada cinco anos a partir de 2025.
Muitos esperavam que o acordo fosse mais exigente quanto a este ponto. Os Estados Unidos, por exemplo, defendem que esses compromissos sejam voluntários e não vinculantes, para evitar ser obrigado a apresentar o acordo ao Congresso, hostil à sua ratificação.

'Justiça climática'
Por sua vez, China, Índia e outros países em desenvolvimento, querem condicionar os seus compromissos à garantia de que vão beneficiar de bilhões de dólares em apoio financeiro para realizar a transição de suas economias de combustíveis fósseis para renováveis.
Segundo os cientistas, para cumprir o limite de 2 graus, as emissões de gases do efeito estufa devem diminuir em 40% a 70% entre 2010 e 2050 e chegar a zero em 2100.
Muitos esperam que as linhas divisórias entre os países desapareçam com o desenvolvimento de novas tecnologias de baixo carbono, mais baratas, e o surgimento de um preço global de carbono.
A energia "verde" "deve ser acessível, e este é o principal desafio" para os países em desenvolvimento, disse à AFP o negociador indiano Ajay Mathur.
Para Felipe Calderón, presidente do think tank Global Commission on the Economy and Climate, a transição para uma economia de baixo carbono já está em andamento e será incentivada pelo acordo estipulando que as emissões ligadas à queima de combustíveis fósseis devem para "o mais rapidamente possível".
"Não há vencedores ou perdedores no Acordo de Paris. A justiça climática ganhou e todos nós trabalhamos para um futuro mais verde", resumiu o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.
AFP

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